Palavra Episcopal abril 2006







 


Marisa de Freitas Coutinho ? Episcopisa na Regi?o Mission?ria do Nordeste (REMNE)


"Que seja o nosso cantomaior que o nosso teto;Que seja o nosso abra?o Maior que os nossos ombros…"


 Can??o j? um tanto esquecida, entoada recentemente em nossa Igreja em Aracaju, enchendo o cora??o do povo de Deus. No dia do seu 40? anivers?rio a Igreja tamb?m profetizou, com muita un??o e alegria:


"Pr? nada pode a gente aproveitar, cantar, orar, louvar com emo??o, se isto n?o se faz acompanhar do amor a quem est? s? ou na opress?o… ? coisa que n?o d? pr? dividir: o amor a Deus e a quem est? junto a n?s".



Enquanto cant?vamos, tamb?m dan??vamos e nos alegr?vamos; Testemunh?vamos a "alegria e a esperan?a do servi?o", com prazer e cora??o aquecido. Todos/as ansiando que cada metodista fosse um(a) mission?rio(a) e cada lar uma Igreja.


Num dado momento o irm?o Messias, jovem, casado com a ?ris (conselheiros locais de juvenis), nos afirmou: "um dia o muro cai e pode ter certeza, tudo ser? revelado". Da? em diante contou uma experi?ncia interessante: ele sempre via, ao lado de um determinado bar/mercearia, um muro. Sempre bem cuidado compunha bem com a mercearia/bar, dando a impress?o da mais harm?nica beleza. Dado um dia o muro caiu. E da? revelou-se o seu "outro lado": lixo, entulho, garrafas vazias, podrid?o, ratos e baratas. Caiu o muro e com ele toda a pretensa beleza harm?nica. O "belo" servia de aparato para as escondidas atitudes ins?litas de pessoas desconhecidas, ao lan?arem ali seus lixos. Assim iludiam-se a si mesmos/as com a sensa??o de que haviam cumprido com o seu dever de bons/as cidad?os/?s. Doce ilus?o; sarc?stica realidade. Pareceria uma cena comum, trivial at?, se n?o trouxesse consigo uma recorda??o de tempos remotos: culpados/as, homem e mulher no para?so, escondem sua nudez com folhagens e condenam um ao outro. " – A culpa foi dela. – N?o, foi dele". Hist?ria t?o antiga e t?o atual. Cabe aqui a palavra do nosso irm?o Mateus, cap?tulo 10:26: "Portanto, n?o os temais, porque nada h? encoberto que n?o haja de ser descoberto, nem oculto que n?o haja de ser conhecido."


Assim ? que se encaixa aqui o document?rio do MV Bill: "Falc?es, meninos no tr?fico". Cantor de Rap, negro, morador da favela e um dos l?deres da Central ?nica das Favelas, MV Bill aparenta ser d?cil e firme. Com o document?rio afirma n?o ter pretendido agredir, fazer sensacionalismo ou ser "o justiceiro". O que quis, e conseguiu, foi mostrar a n?s que h? algo por detr?s dos belos muros bonitos, das nossas belezas sociais. Enquanto o tempo passa do lado de c? do muro, do outro lado gera?es seguidas est?o vivendo e solidificando uma cultura aterradora: vale a pena ser bandido. E nem ? o bandido de colarinho branco n?o – ? o bandido que vende e cheira p?; o bandido que vive na mis?ria; o bandido que desconhece pai e venera a m?e; o bandido que, com orgulho e alteza, vigia os limites da sua comunidade/favela. Bandidos crian?as. Crian?as de bandidos. Crian?as do?das, sofridas. V?timas e algozes. Solid?rias e agressivas. Violentas e protetoras. Das 17 crian?as/adolescentes entrevistadas apenas uma ainda permanece com vida (Jornal Correio, Uberl?ndia. Caderno Revista, p.C4). Crian?as matando e morrendo, numa sangrenta guerra civil aqui, neste pa?s que deita em ber?o espl?ndido.


Athayde, o parceiro de MV Bill neste projeto, comenta do enterro de um soldado e de um garoto falc?o: "Naquele momento eu via que as l?grimas que caiam n?o eram dos governos que as m?es acusavam de serem os respons?veis pelas mortes de seus filhos. Eram das m?es, pobres, pretas, que podiam ser perfeitamente irm?s de sangue e, naquele momento, eram irm?s da dor, irm?s de sangue derramado pela arma da ignor?ncia". (Jornal Correio, 21 de mar?o de 2006, p.C4).


O bin?mio crian?as e mulheres est? presente mais uma vez. Nos seus pronunciamentos as crian?as falc?es relatavam o amor pelas m?es e o desconhecimento e falta dos pais. E o "trabalho" deles visava dar uma vida melhor para as m?es e os/as irm?os/?s. Para obter-se o "progresso" valia a pena traficar.


Cabe aqui um artigo do Ver?ssimo, (Di?rio de Pernambuco, Caderno A3, 12 de mar?o/06, Recife), ao afirmar que diante de uma s?ria quest?o de guerra o general Groucho "postando-se ? frente de um mapa para explic?-lo ao seu comando, diz: – Uma crian?a de 3 anos entenderia isto".  E depois de algum tempo examinando o mapa: – Tragam uma crian?a de 3 anos!" Verdade. Certas situa?es s?o t?o ?bvias que uma crian?a de 3 anos, ainda na sua imaturidade, perceberia o perigo. Mas os/as adultos/as, experientes e maduros/as, n?o conseguem (n?o querem?) faz?-lo?


Acabou de cair o muro do Ministro da Fazenda, Sr. Ant?nio Palocci. Claro que ele (o muro) j? andava meio "perrengui", com acusa?es e esc?ndalos, mas quem deu o ?ltimo toque foi um caseiro, a quem um certo presidente do Senado certamente teria dito (se pudesse): "recolha-se ? sua insignific?ncia". Pois um insignificante empedermido da verdade deu uma assopradinha ?ltima. E l? se foi o muro pelo ch?o. Profecia que se cumpre: "os humildes ser?o exaltados e os exaltados ser?o humilhados". Que caseiro digno. Com a sua condi??o de proletariado foi l?, enfrentou "os grandes" e disse a verdade. E mais: afirmou: "morro dizendo o que vi". Ah, seu Francenildo, neste pa?s de crises o senhor ? um her?i. Sem pretens?o o senhor ensinou aos/?s nossos/as filhos/as que: "Viver ? negar as futilidades que se imp?em e entorpecem. A vida j? perdeu seu valor para muitos porque, ao correrem atr?s do sucesso, perderam o sentido da exist?ncia. Os grandes vencedores receberam suas coroas, esquecendo que a deusa da compet?ncia lhes exigiu como sacrif?cio que se imolassem os afetos, a solidariedade com os fracos e a pr?pria sensibilidade"1 O senhor me faz ouvir a voz do Todo Poderoso: "Ai dos que escondem profundamente o seu prop?sito do Senhor, e as suas pr?prias obras fazem ?s escuras, e dizem: Quem nos v?? Quem nos conhece? Que perversidade a vossa! Como se o oleiro fosse igual ao barro, e a sua obra dissesse do seu art?fice: Ele n?o me fez; e a cousa feita dissesse do seu oleiro: Ele nada sabe. Isa?as 29:15 e 16


Voc? sente-se assim como eu? Impotente? Sou Igreja viva de Cristo e n?o sei por onde come?ar. Abril ? o m?s das voca?es. Deus chama o seu povo a uma miss?o. Olha a? o apelo mission?rio. As crian?as est?o a?. As mulheres est?o a?. E os muros tamb?m. Algu?m se arrisca a subir num banquinho e olhar do outro lado? Algu?m se arrisca a pular o muro? H? algu?m cantando "Eis os milh?es que em trevas e pecados…" Ou: "Que estou fazendo se sou crist?o?" Ou quem sabe: "Pra nada pode a gente aproveitar…"


Ainda h? esperan?a. A Igreja ? de Deus e Ele a convidou a anunciar novos c?us e nova terra. O Deus que usou o Rei Ciro ? o mesmo que usa o Francenildo e ? o mesmo que nos intima ? miss?o. ? o mesmo que levou Rui Barbosa a afirmar: "Deus ? a chave do universo, a inc?gnita dos grandes problemas insol?veis. Deus ? a necessidade das necessidades".2 E n?o h? outra resposta a darmos a Ele a n?o ser: "Eis-nos aqui, Senhor! Envia-nos a n?s. Envia-nos a espiar os muros" (Isa?as 6:6).


Deus amado, que caiam os muros. E que a Igreja, comunidade mission?ria a servi?o do povo, testemunhando a alegria e a esperan?a do servi?o, enfrente a queda destes muros. Sabe por que Deus? Porque at? crian?a de 3 anos v? e conclui: como est? n?o ? poss?vel continuar.

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