Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

Palavra Episcopal dezembro 2006

 

Marisa de Freitas Coutinho é Episcopisa na Região Missionária do Nordeste (REMNE)

"Passo a mostrar a vocês um caminho sobremodo excelente..." - disse Paulo referindo-se ao amor (I Cor. 13). Caminho é rota, um traçado com início, meio e fim. No nordeste de Minas Gerais, quando um corte de cabelo é mal feito, apresentando falhas múltiplas, se diz: "fizeram um caminho de rato na cabeça do/a pobre coitado/a".

A sabedoria popular sempre retratando a vida: rato anda assim mesmo, parando aqui e ali, indo, voltando, direita, esquerda, com movimentos extremamente rápidos. O bichinho é elétrico nas suas caminhadas, tornando-as incertas, cheias de mudanças bruscas.

Vem daí a expressão "caminho de rato" referindo-se a escolhas apressadas, mal tomadas, imprecisas. É exatamente este sentimento que se tem dos caminhos que a humanidade vem traçando ao longo dos anos. Não lhe parece assim?

Todo caminho tem um ponto de partida, um trajeto curto ou longo e um ponto final - que, na verdade, pode ser um novo ponto de partida. Quanto mais se trilha um caminho, mais se sabe dele. Há caminhos que são tão conhecidos que se sabe onde há cada buraco, cada lombada, cada ponto de referência. Entretanto isto não garante uma caminhada segura. É que podem surgir imprevistos como novos buracos, acidentes, novas construções e, consequentemente, novos pontos de referências. Andar por um caminho é sempre um risco - sobretudo se ele é novo. Há quem diga que todos os caminhos levam a Roma. Será? Há caminhos que levam à morte, à dor, ao sofrimento, à depressão, enfim, à destruição. Mais parecendo caminhos de rato. Roma será tudo isto? "Há caminhos que aos homens parecem ser bons, mas seu fim não é o melhor" - diz o grupo Vencedores por Cristo, em uma de suas canções. E continua: "a solução não está no que acho. Tenho que, sem reservas, passo a passo seguir a Jesus."

Jesus é o caminho que conduz a vida - se andarmos por Ele chegaremos a lugar divino. Cristo não é apenas um idealista, um filósofo, um psicótico ou um revolucionário. Ele é O CAMINHO que conduz a nova vida. Como todo caminho, este tem início, percurso e fim. No início do caminho há uma porta estreita (Mt 7:13 e 14). Todo/a aquele/a que quiser passar por ela precisa lidar com a grande verdade do pecado humano. Por esta porta só passam aqueles/as que, sob ação do Espírito Santo de Deus, enxergam-se como pessoas pecadoras, distanciadas do querer de Deus, vivendo segundo seus próprios valores, traçando "caminhos de rato." Podem ser pessoas boas ou más - mas numa ou noutra situação concluem: "diante do Deus Santo, toda a minha justiça é como trapo de imundícia". (Isaias 64:5 a 9). Esta percepção leva ao arrependimento profundo de alma, mexendo com toda a estrutura da pessoa. Paralelo ao constrangimento e vergonha, Deus providencia que se ouça a voz Dele: "com amor eterno te amei ...." (Jr 31:3 a 9)

O Senhor chama:

"Vem, filho/a meu/minha. Façamos uma festa. (Parábola do Filho Pródigo - Lc 15: 11 a 32).

- Mas, Deus, não sou digno dela.

- É verdade! Mas Cristo, meu Filho e seu irmão, já liquidou esta sua dívida para comigo. Por meio d?Ele a porta do céu abriu-se prá você também."

Cristo é caminho do Deus de amor em ação. Caminho cuja porta de entrada não cabe aquele/a que quer trazer as mochilas de crenças múltiplas, de relativismos de fé, de orgulho e dureza de coração. Não dá prá passar pela porta carregando-se a si mesmo com faixas de: o/a melhor, o/a mais poderoso/a, o/a mais correto/a, o/a mais justo/a... Prá passar por esta porta é preciso a experiência da humildade.

A palavra humildade origina-se de humus: TERRA. Humildade é a capacidade de auto-avaliação, de colocar os "pés na terra." É ver-se como é - não para culpar-se, mas para traçar novos horizontes. É aceitar que viemos do pó, e voltaremos ao pó, entretanto há um Deus que nos ama. Este amor revela-nos que somos responsáveis por cada "Abel" que está ao nosso lado. Não existimos prá nós mesmos, prá vivermos egoistamente o que queremos, a qualquer preço. Não! Somos parte de um todo.

Tal como Deus amou ao mundo a ponto de morrer por ele, assim é o caminho que sucede a porta que conduz à salvação (João 3:16).

Caminho difícil, mas sobremodo excelente (I Co 13). Caminho de santificação. Caminho cheio de altos e baixos, de belezas e horrores, de facilidades e dificuldades. Caminho de doação e acolhimento. Caminho de submissão a Deus. Porém, em todo o tempo, Cristo está presente. Ele cerca cada caminhante, cada peregrino/a. Muitos/as já escreveram sobre esta caminhada e sempre afirmaram: "foi a melhor escolha que já fiz na vida. É caminho árduo, mas de pura vida."

Natal é festa que celebra a chegada deste CAMINHO até nós. É festa de caminhante, é festa de convertidos/as, é festa de quem tomou sua cruz e resolveu seguir a Cristo. Festa e caminho - Natal. Quem quer celebrar? Você quer participar? Se caminhar é preciso, que não façamos "caminhos de rato", mas caminhos de Natal.

Boa festa de caminhante de Cristo. É sempre Natal


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