Trag?dia no Haiti
| Adriel de Souza Maia – Bispo na 3? Regi?o Eclesi?stica A not?cia do terremoto que arrasou o Haiti no ?ltimo dia 12 de janeiro de 2010, especialmente, a capital, Porto Pr?ncipe, chegou fortemente em minha vida. Estive no Haiti h? cerca de cinco anos compondo uma comitiva internacional denominada: "Miss?o de Paz", sob a lideran?a de Adolfo Esquivel – Pr?mio Nobel da Paz – e, nesse sentido, percorri os principais espa?os pol?ticos e sociais desta na??o que vem sofrendo h? anos uma qualidade de vida subumana. |
Tenho na minha mem?ria as crian?as pelas ruas da cidade ? procura de um peda?o de alimento, o impacto da visita aos pres?dios da capital, a inseguran?a do povo andando pelas ruas ao som dos tiros disparados, a ansiedade da juventude na busca de uma melhor qualidade educacional e, ainda, a rede hospitalar insuficiente para atender ?s necessidades b?sicas da popula??o. H? muita gente morrendo antes da hora e, ainda, uma popula??o marginalizada e sem a dignidade de sua cidadania.
Assim sendo, deparei-me com um t?tulo de uma reportagem num dos jornais de grande circula??o nacional: "O Haiti j? estava de joelhos; agora, est? prostrado". Realmente, este ? o cen?rio deste pa?s que sofre a profunda dor do apagamento de mais de 150 mil pessoas e incont?vel n?mero de feridos e, do mesmo modo, com uma profunda sensa??o do desaparecimento de uma na??o.
A trag?dia registrou a morte de lideran?as internacionais importantes que estavam l? prestando solidariedade ao povo haitiano e buscando intensificar parcerias para uma melhor qualidade de vida pessoal, social e ambiental para esse povo. Entre elas destacam-se a m?dica Dra. Zilda Arns Neumann, idealizadora e coordenadora da Pastoral da Crian?a e, ultimamente, Coordenadora Nacional da Pastoral da Pessoa Idosa e dois l?deres metodistas em miss?o no Haiti: o Reverendo Dr. Sam Dixon, diretor da Ag?ncia de Socorro Humanit?rio da Igreja Unida (UNCOR) e o Reverendo Clint Rabb, Coordenador dos Volunt?rios em Miss?o da Igreja Metodista Unida.
Ainda no ardor dessa trag?dia algumas r?pidas considera?es:
a) Num desastre com essa propor??o muitas s?o as interpreta?es apocal?pticas sobre a trag?dia.Devemos ter muito cuidado com as explana?es teol?gicas que est?o sendo dadas a esse acontecimento e, na verdade, muitos cercados de preconceitos e descaracterizando o fundamento b?blico do Deus da justi?a, da paz, da reconcilia??o e mesmo com as conting?ncias humanas ? o Deus que revela em Jesus Cristo o seu amor ? humanidade. Foi muito oportuna a reflex?o do Pr. Ricardo Gondim quando ele sublinha: "acredito em um Deus que se relaciona com a humanidade em outras bases. Deus ? amor. A bonan?a e a tempestade s?o elementos da conting?ncia, espa?os para a liberdade. N?o creio na teologia da Provid?ncia. Aceito que Deus amorosamente participa nas iniciativas de bondade e nos movimentos de justi?a que um cataclismo possa desencadear. N?o imagino que o Deus de Jesus Cristo possa estar por detr?s de um acidente t?o horrendo. Ele ? luz e interpela homens e mulheres de bem que se fa?am presentes na cat?strofe, minorando o sofrimento dos pobres. Descreio das l?gicas que transformam os pensamentos divinos em maldi??o, Deus ? o Deus da paz."
b) Assim sendo, ? quase imposs?vel encontrar palavras para apresentar a trag?dia no territ?rio haitiano. As not?cias que chegam e as imagens que s?o exibidas d?o conta da profunda agonia e do total estado de caos da popula??o no Haiti. Comentando sobre o terremoto no Haiti, o Pr. Israel Belo de Azevedo, em sua mensagem "Prazer da Palavra" de 21 de janeiro de 2010 diz assim: "A chamada "peste negra" devastou a Inglaterra no come?o do s?culo 17. De seu escrit?rio na igreja, o pastor John Donne (1572-1631) via os corpos sendo carregados para serem sepultados em valas comuns, como no Haiti de 2010. Ent?o escreveu:
"Nenhum homem ? uma ilha plena em si mesma. Cada homem ? uma parte do continente, uma parte do todo. Se uma por??o de terra ? levada pelo mar, a Europa ? levada, como se um penhasco fosse, como se a casa dos teus amigos ou a tua pr?pria fosse. Toda a morte humana me diminui, porque sou parte da humanidade. Ent?o, n?o queiram saber por quem os sinos dobram: eles dobram por ti" (John Donne – Devotions Upon EmergentOccasions, 1623).
c) No cen?rio dessa agonia, uma luz brilha, ou seja, a luz da solidariedade de ag?ncias humanit?rias, ONGs, Igrejas, empresas, volunt?rios se apresentando de toda a parte do mundo, governos etc. se articulam para oferecer ao povo haitiano a dignidade da vida. Com certeza, somente a solidariedade ativa poder? tirar o povo dessa prostra??o e coloc?-lo em p? para sonhar com o novo dia.
Nessa perspectiva, o povo chamado metodista est? sendo convocado para participar desse movimento de solidariedade em favor do povo haitiano e a reconstru??o desse Pa?s.
Igualmente, reafirmamos a nossa confian?a na gra?a transformadora de Deus, mesmo diante da ambig?idade da vida.
Em ora??o em favor dessa na??o.
Com f?, esperan?a, solidariedade e amor.


