| Jo?o Carlos Lopes, Bispo da 6? Regi?o Eclesi?stica Aqueles eram dias incertos na vida da Igreja. Dias de perigo, dias confusos, mas tamb?m dias de muito entusiasmo. Jesus havia morrido, ressuscitado e subido aos c?us. Ele havia deixado seus disc?pulos com muitos ensinos a serem explorados. Sua ordem final, "Ide, fazei disc?pulos de todas as na?es, batizando e ensinando" ainda soava nos ouvidos dos ap?stolos. O Esp?rito Santo havia descido sobre eles e lhes dado grande poder, otimismo incompar?vel e entusiasmo contagiante. Eles estavam prontos para participar na edifica??o de uma Igreja que glorificaria a Deus e levaria salva??o a muitos. Havia, por?m, apenas um problema – um grande problema. |
Um problema que tem sido uma pedra mesmo para n?s crist?os no s?culo 21: Jesus n?o disse exatamente como deveria ser a igreja. Instru?es passo a passo n?o s?o encontradas em nenhum lugar. Jesus n?o deixou nenhuma planta.
Assim, desde o come?o, temos aprendido a ser igreja por tentativa e erro. Erramos muitas vezes e, ent?o, temos que reconstruir as partes mal constru?das. Constru?mos "como que por espelho, obscuramente". Constru?mos pela f? e n?o pela vista.
Depois da experi?ncia de Pentecostes, a Igreja come?ou a crescer espontaneamente. Nos primeiros anos, deixou de ser apenas um novo ramo do Juda?smo para tornar-se um grupo majoritariamente gentio. Essa foi uma grande mudan?a, cheia de tens?es.
Os helenistas (como os gentios eram chamados) provocavam os hebreus crist?os e vice-versa. Num certo momento, os helenistas acusaram os hebreus de ignorarem suas vi?vas e n?o ajudarem os necessitados entre eles. Os ap?stolos concordaram. Entenderam que a igreja havia crescido tanto que, sozinhos, eles n?o poderiam atender a todas as quest?es. Ent?o nomearam di?conos para servir ?s vi?vas e aos pobres no meio deles.
Um desses di?conos era Filipe. Esse homem fez muito mais que cuidar das vi?vas. Sua experi?ncia mudaria o rumo e a maneira de ser da Igreja. Sob a dire??o do Esp?rito Santo, Filipe, em um dado momento, deixou de servir as mesas e come?ou a pregar. Ele foi sozinho em dire??o a Samaria (irm? desprezada de Jud?) e ali pregou, convidando os samaritanos a se unirem ? Igreja.
Dali, Filipe sentiu-se guiado em dire??o ? estrada de Gaza, no deserto. Algu?m poderia pensar que Filipe iria pregar para uma grande multid?o novamente, mas, que surpresa: foi-lhe dado um eunuco et?ope para evangelizar. Ser et?ope significava ser um total estrangeiro. Significava tamb?m ser negro. Talvez fosse a primeira pessoa negra que Filipe tenha visto. Era, certamente, uma situa??o fascinante; amedrontadora e confusa.
Aquele et?ope era tamb?m um eunuco – um macho que havia sido castrado. Ele possivelmente havia sido castrado a fim de poder trabalhar na corte real sem o risco de envolver-se romanticamente com as mulheres da corte.
Ele jamais podia tornar-se um judeu, porque, de acordo com a lei de Mois?s, em Deuteron?mio 23.1, a um eunuco n?o seria permitido entrar na assembl?ia para adora??o. Embora fosse bem educado, oficial da corte da rainha da Eti?pia, um homem de confian?a, em Jerusal?m ele teria que adorar de longe, estudar as escrituras a s?s.
Felipe correu acompanhando a carruagem desse eunuco et?ope e come?ou uma conversa. Ele falou sobre a passagem de Isa?as que o homem estava lendo. A passagem referia-se a Jesus. Aquele et?ope tinha muito em comum com Jesus. Felipe contou-lhe toda a hist?ria do Messias. O homem ficou t?o empolgado que quis ser batizado.
N?o "passou pela Clam", n?o "reuniu um conc?lio". N?o, Filipe fez o que o cora??o mandou. Seguiu a dire??o do Esp?rito. E ali aconteceu a primeira convers?o de um africano. Ele convidou o primeiro negro, o primeiro eunuco, a unir-se ? mesa da comunh?o. E aquele eunuco que a pouco se sentia um estranho, "persona non grata", foi embora feliz, agradecido e transformado.
Imagine aquele carro continuando a viagem, aquele homem lendo um pouco mais o livro de Isa?as e encontrando as seguintes palavras: "Pois assim diz o Senhor a respeito dos eunucos que guardam os meus s?bados, e escolhem as coisas que me agradam, e abra?am o meu pacto: Dar-lhes-ei na minha casa e dentro dos meus muros um memorial e um nome melhor do que o de filhos e filhas; um nome eterno darei a cada um deles, que nunca se apagar?" (Isa?as 56.4-5).
O que ? que essa hist?ria significa para n?s hoje? Significa que a Igreja de Jesus Cristo continuar? se expandindo de maneira surpreendente, ?s vezes confusa, ?s vezes amedrontadora. Mas n?o devemos ficar com medo. Sabem por qu?? Porque apesar de n?o termos uma planta, n?s temos o Esp?rito Santo. Ele caminha conosco, nos dirige e nos ajuda na constru??o.
No s?culo em que vivemos, os dias ainda s?o perigosos, complicados e confusos. A Igreja continua sendo constru?da por f? e n?o por vista. Tomamos decis?es e algumas pessoas ficam bravas, enquanto outras aplaudem. Escrevemos um artigo; uns ficam a favor, outros contra.
Os debates teol?gicos e administrativos continuar?o. Pessoas respeit?veis, verdadeiros crist?os, pessoas tementes a Deus, pessoas amorosas, estar?o em lados opostos das quest?es.
N?o ? a falta de discord?ncia que demonstra a presen?a do Esp?rito. ? o resultado surpreendente e aben?oado que demonstra essa presen?a.
N?o podemos ter medo de cometer erros. Filipe n?o teve medo. Sua motiva??o era o amor a Deus e ?s pessoas.
Quando, movidos pelo amor ao nosso mestre, buscando ser fi?is, ainda assim tomamos a decis?o errada, Jesus, nosso Senhor, aquele que no final das contas ? quem realmente edifica a igreja, coloca-se ao nosso lado e nos ajuda a derrubar e a reconstruir.
"Eis que eu estou convosco sempre". Ele est? conosco como l?deres, como profissionais, como pastores(as), como m?es, como pais, como filhos(as), como seres humanos vulner?veis que somos. Est? conosco por meio do Esp?rito Santo!
E o Esp?rito Santo nos guia para muito al?m do que esperamos. Ele nos guia e nos ajuda, como Igreja do Senhor Jesus, a continuar andando pela f?, n?o pela vista.


