| Josu? Adam Lazier, Bispo Honor?rio da Igreja Metodista Colocamos o tema em quest?o com uma pergunta: qual ? o tom que deve reger a igreja? Com esta pergunta queremos refletir sobre o que deve ser predominante na orienta??o da vida, da miss?o, da estrutura, dos conc?lios e toda a vida eclesial. Nos ?ltimos anos, o que inclui alguns Conc?lios Gerais, o tom que tem estado presente ? o jur?dico, ou seja, os(as) advogados(as), juristas e conhecedores(as) de leis do pa?s e da Igreja t?m tido uma participa??o destacada e cuja palavra tem determinado decis?es e encaminhamentos tomados ao longo do tempo. Esta ?nfase no jur?dico n?o garante, necessariamente, que a justi?a esteja sendo feita. Acontece que este n?o ? o tom que deveria reger a Igreja. |
Logicamente que o jur?dico ? importante, especialmente numa sociedade que busca valorizar os direitos sociais e humanos e, para isto, a Igreja deve estar esclarecida e se manter em conson?ncia com as leis que regem nosso pa?s. N?o h? como ser diferente disto, mas o tom regente da Igreja deve ser outro. Para come?ar, devemos lembrar o c?lebre texto de Mateus 6.33, quando o evangelista orienta que a Igreja e sua membresia devem buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua Justi?a. Ele apresenta, em forma de s?ntese, o tom ao qual estamos nos referindo.
O tom deve ser o teol?gico e mission?rio.
Teol?gico no sentido da compreens?o de Deus, da revela??o divina e da Palavra de Deus. O conhecimento de Deus, do Evangelho e dos valores que adv?m deste conhecimento forma o saber teol?gico da Igreja e, por conseguinte, orienta sua vida e miss?o. Esta ?nfase teol?gica tem um eixo, que ? o Reino de Deus.
Mission?rio no sentido da a??o e da presen?a p?blica da Igreja na sociedade, evidenciando compromissos com a justi?a, sobretudo na perspectiva do Reino de Deus e se fazendo presente na den?ncia, no an?ncio e na a??o restauradora, evangelizadora e transformadora da sociedade. Esta ?nfase tamb?m tem um eixo, que ? a justi?a. Neste sentido, o teol?gico-mission?rio ? o tom que deveria orientar o todo da Igreja, seus conc?lios, suas doutrinas, sua organiza??o e estrutura, etc.
Ao ser regida pelo tom de Mateus 6.33, a Igreja ressaltaria os atos pastorais e ministeriais como express?o do amor e da gra?a de Deus.
A Constitui??o da Igreja Metodista assim se expressa: "A Igreja metodista tem como principal miss?o participar da a??o de Deus no seu prop?sito de Salvar o mundo. A Igreja Metodista faz isto realizando cultos, pregando o evangelho, ministrando os sacramentos, ensinando os membros da igreja e capacitando-os para os diversos minist?rios" (Art. 3? da Constitui??o da Igreja Metodista).
J? o Plano para a Vida e Miss?o da Igreja se expressa assim: "A miss?o de Deus no mundo ? estabelecer o seu Reino. Participar da constru??o do Reino de Deus em nosso mundo, pelo Esp?rito Santo, constitui-se na tarefa evangelizante da Igreja" (Plano de Vida e Miss?o).
Nos dois documentos, est?o evidentes estas ?nfases teol?gicas e mission?rias. Sendo assim, o tom predominante na reg?ncia da Igreja e da sua miss?o ? o teol?gico e mission?rio e n?o o jur?dico, como parece estar acontecendo nos ?ltimos anos. O jur?dico orientaria a Igreja para que suas leis e decis?es estivessem em acordo com o que prescreve a Constitui??o Brasileira e suas leis e para que n?o tiv?ssemos que passar pela experi?ncia de ver a Justi?a Comum julgando a Igreja e, em muitas ocasi?es, insinuando ou mesmo afirmando que a Igreja est? equivocada.
Mas o tom, o diapas?o que rege a Igreja deve ser o teol?gico e mission?rio, conforme nossos documentos, em outras palavras, a MISS?O, segundo ela ? entendida de forma conciliar, descrita nos documentos da Igreja e fundamentada na tradi??o b?blica com ?nfase wesleyana.
Como estamos vendo, ao definir a sua miss?o a Igreja o faz a partir de um conceito b?blico-teol?gico mais amplo e abrangente do que a vida eclesial, ou seja, o Reino de Deus. Neste sentido, vale ressaltar que a Igreja existe para o cumprimento de sua miss?o na sociedade e nas fronteiras da vida, de forma ampla e abrangente, e n?o apenas para o crescimento num?rico e em numer?rios como pensam algumas pessoas em nossa Igreja.
O crescimento num?rico seja na forma de novos membros, de arrecada??o ou de freq??ncia as atividades da igreja, s?o conseq??ncias do cumprimento cabal da miss?o na perspectiva do Reino de Deus, mas n?o se pode minimizar a confessionalidade da Igreja em termos estat?sticos. A confessionalidade da Igreja se apresenta de forma p?blica e diante da sociedade e sinaliza a justi?a, a paz, a fraternidade, a solidariedade, a toler?ncia, a reconcilia??o e uma vida marcada pelo car?ter crist?o.
O Reino de Deus apresenta a justi?a que ajuda a eliminar as diferen?as causadas por uma sociedade injusta. “A verdadeira liberdade nasce da aceita??o do Reino como um dom que vem do Pai, e se torna o princ?pio de todas as decis?es e de todos os atos (Lucas 12.31-34). Uma vez que o cora??o est? preso ao absoluto do Reino, torna-se livre para conhecer o que ? relativo, e d? for?a para uma ren?ncia capaz de abandonar o que ? perec?vel e orientar a vida para aquilo que n?o perece".2
Portanto, "o cora??o", ou que seja o tom que deve reger a Igreja, ? o teol?gico e mission?rio, cujo eixo principal ? o Reino de Deus e a sua justi?a. Que Deus nos ajude, enquanto comunidade de f?, a seguirmos as trilhas teol?gicas e mission?rias do Reino de Deus e n?o perdermos nossa identidade e confessionalidade por causa de disputas pessoais, ministeriais ou jur?dicas. Que o Reino de Deus venha em primeiro lugar.
2 Gorgulho,G.S. – Anderson, A.F. O Caminho da Paz. S?o Paulo, SP: Edi?es Paulinas, 1984, p. 160