Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Palavra Episcopal novembro 2008

 

Josué Adam Lazier, Bispo Honorário da Igreja Metodista

Colocamos o tema em questão com uma pergunta: qual é o tom que deve reger a igreja? Com esta pergunta queremos refletir sobre o que deve ser predominante na orientação da vida, da missão, da estrutura, dos concílios e toda a vida eclesial.

Nos últimos anos, o que inclui alguns Concílios Gerais, o tom que tem estado presente é o jurídico, ou seja, os(as) advogados(as), juristas e conhecedores(as) de leis do país e da Igreja têm tido uma participação destacada e cuja palavra tem determinado decisões e encaminhamentos tomados ao longo do tempo. Esta ênfase no jurídico não garante, necessariamente, que a justiça esteja sendo feita. Acontece que este não é o tom que deveria reger a Igreja.

Logicamente que o jurídico é importante, especialmente numa sociedade que busca valorizar os direitos sociais e humanos e, para isto, a Igreja deve estar esclarecida e se manter em consonância com as leis que regem nosso país. Não há como ser diferente disto, mas o tom regente da Igreja deve ser outro. Para começar, devemos lembrar o célebre texto de Mateus 6.33, quando o evangelista orienta que a Igreja e sua membresia devem buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua Justiça. Ele apresenta, em forma de síntese, o tom ao qual estamos nos referindo.

O tom deve ser o teológico e missionário.

Teológico no sentido da compreensão de Deus, da revelação divina e da Palavra de Deus. O conhecimento de Deus, do Evangelho e dos valores que advêm deste conhecimento forma o saber teológico da Igreja e, por conseguinte, orienta sua vida e missão. Esta ênfase teológica tem um eixo, que é o Reino de Deus.

Missionário no sentido da ação e da presença pública da Igreja na sociedade, evidenciando compromissos com a justiça, sobretudo na perspectiva do Reino de Deus e se fazendo presente na denúncia, no anúncio e na ação restauradora, evangelizadora e transformadora da sociedade. Esta ênfase também tem um eixo, que é a justiça. Neste sentido, o teológico-missionário é o tom que deveria orientar o todo da Igreja, seus concílios, suas doutrinas, sua organização e estrutura, etc.

Ao ser regida pelo tom de Mateus 6.33, a Igreja ressaltaria os atos pastorais e ministeriais como expressão do amor e da graça de Deus.

A Constituição da Igreja Metodista assim se expressa: "A Igreja metodista tem como principal missão participar da ação de Deus no seu propósito de Salvar o mundo. A Igreja Metodista faz isto realizando cultos, pregando o evangelho, ministrando os sacramentos, ensinando os membros da igreja e capacitando-os para os diversos ministérios" (Art. 3º da Constituição da Igreja Metodista).

Já o Plano para a Vida e Missão da Igreja se expressa assim: "A missão de Deus no mundo é estabelecer o seu Reino. Participar da construção do Reino de Deus em nosso mundo, pelo Espírito Santo, constitui-se na tarefa evangelizante da Igreja" (Plano de Vida e Missão).

Nos dois documentos, estão evidentes estas ênfases teológicas e missionárias. Sendo assim, o tom predominante na regência da Igreja e da sua missão é o teológico e missionário e não o jurídico, como parece estar acontecendo nos últimos anos. O jurídico orientaria a Igreja para que suas leis e decisões estivessem em acordo com o que prescreve a Constituição Brasileira e suas leis e para que não tivéssemos que passar pela experiência de ver a Justiça Comum julgando a Igreja e, em muitas ocasiões, insinuando ou mesmo afirmando que a Igreja está equivocada.

Mas o tom, o diapasão que rege a Igreja deve ser o teológico e missionário, conforme nossos documentos, em outras palavras, a MISSÃO, segundo ela é entendida de forma conciliar, descrita nos documentos da Igreja e fundamentada na tradição bíblica com ênfase wesleyana.

Como estamos vendo, ao definir a sua missão a Igreja o faz a partir de um conceito bíblico-teológico mais amplo e abrangente do que a vida eclesial, ou seja, o Reino de Deus. Neste sentido, vale ressaltar que a Igreja existe para o cumprimento de sua missão na sociedade e nas fronteiras da vida, de forma ampla e abrangente, e não apenas para o crescimento numérico e em numerários como pensam algumas pessoas em nossa Igreja.

O crescimento numérico seja na forma de novos membros, de arrecadação ou de freqüência as atividades da igreja, são conseqüências do cumprimento cabal da missão na perspectiva do Reino de Deus, mas não se pode minimizar a confessionalidade da Igreja em termos estatísticos. A confessionalidade da Igreja se apresenta de forma pública e diante da sociedade e sinaliza a justiça, a paz, a fraternidade, a solidariedade, a tolerância, a reconciliação e uma vida marcada pelo caráter cristão.

O Reino de Deus apresenta a justiça que ajuda a eliminar as diferenças causadas por uma sociedade injusta. "A verdadeira liberdade nasce da aceitação do Reino como um dom que vem do Pai, e se torna o princípio de todas as decisões e de todos os atos (Lucas 12.31-34). Uma vez que o coração está preso ao absoluto do Reino, torna-se livre para conhecer o que é relativo, e dá força para uma renúncia capaz de abandonar o que é perecível e orientar a vida para aquilo que não perece".2

Portanto, "o coração", ou que seja o tom que deve reger a Igreja, é o teológico e missionário, cujo eixo principal é o Reino de Deus e a sua justiça. Que Deus nos ajude, enquanto comunidade de fé, a seguirmos as trilhas teológicas e missionárias do Reino de Deus e não perdermos nossa identidade e confessionalidade por causa de disputas pessoais, ministeriais ou jurídicas. Que o Reino de Deus venha em primeiro lugar.

2 Gorgulho,G.S. - Anderson, A.F. O Caminho da Paz. São Paulo, SP: Edições Paulinas, 1984, p. 160


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