H? algum tempo surgiu um tipo de "pegadinha" em que um suposto entrevistador perguntava a opini?o do transeunte sobre um assunto mais que inveross?mil: absurdo mesmo. Alguma coisa como a vida sexual das minhocas do planeta Marte ou uma nova experi?ncia que estaria sendo testada por qu?micos norte-americanos… Quem assistia ou ouvia no r?dio se divertia quando o incauto tentava explicar e justificar sua palavra com argumentos que s? faziam incentivar novas investidas do falso rep?rter.
Pensei que uma boa dessas pe?as se daria assim:
– O que ? que voc? achou da longanimidade do time no jogo de ontem?
– Ah, achei boa, n?. Massacrou.
– Boa? Boa o qu??
– Isso a? que voc? disse. Como ? que ? mesmo?
– Longanimidade.
– Pois ?! Achei meio longa mesmo. No primeiro tempo o time estava muito lento.
– Mas e a longanimidade na hora do segundo gol?
– Ah, essa foi demaaais, mano!, diz enquanto come?a a pular e gesticular na frente da c?mera: "Tim?o, e?, Tim?o, e?…"
Longanimidade ?, de fato, uma dessas palavras que todo mundo da igreja j? ouviu falar mas que…
– Eu sei que tem na B?blia!, responderia um juvenil quando a professora da Escola Dominical perguntasse "Quem sabe o que ? longanimidade?"
Outros, mais antenados, talvez se lembrassem tratar-se de uma das qualidades resultantes da a??o do Esp?rito Santo em sua vida conforme lista do ap?stolo Paulo registrada em sua carta aos g?latas: Mas o fruto do Esp?rito ? amor, alegria, paz, longanimidade…
– N?o falei, n?o falei?, interrompe o que tinha dito estar na B?blia.
– T? bom, t? bom. Mas o que sig-ni-fi-ca a palavra longanimidade?
-( . . .)
– Quem sabe?
-( . . .)!?
H? alguns anos, meu filho Joaquim aprendeu o significado da palavra "serenata" de uma maneira bastante interessante: vivenciando e experimentando seu significado. Est?vamos dormindo quando, de madrugada, fomos despertados por um grupo de instrumentistas e cantores que nos brindaram com uma serenata.
– O que ? isso? Que m?sica ? essa?, perguntou quando nos encontrou, a mim e ? Vera, de p?, olhando l? pra baixo, pela janela.
– Isso ? uma serenata. Para comemorar nosso anivers?rio de casamento…
No dia seguinte n?o falou em outra coisa. At? seresteiro disse que queria ser quando crescesse. Permita Deus que possa mesmo ouvir e fazer muitas serenatas durante a vida.
Mas n?o ? de serenatas que este texto quer tratar e sim sobre o significado das palavras. E sobre como transmitir esse significado para quem n?o conhece a palavra em quest?o. Convenhamos, haver? forma mais agrad?vel de se tomar contato com a palavra serenata? Na mesma dire??o, n?o ? muito mais f?cil explicar o que significa, por exemplo, a palavra ins?pido (que n?o tem sabor) oferecendo um copo d??gua para o aprendiz ao inv?s de faz?-lo decorar defini?es do dicion?rio?
Por outro lado, h? palavras que n?o quero nem recomendo sejam "experimentadas" como dor de dente, seq?estro, fome, trai??o al?m daquelas express?es que aprend?amos com os colegas da escola ou da rua as quais, quando repetidas em casa, davam castigo na certa.
Pensei em tudo isso quando recebi a encomenda de um texto sobre o Pentecostes. ? que ando meio cansado de ouvir gente pedindo, quase chorando, que lhe seja dado o Esp?rito Santo. Na semana seguinte, l? est?o de novo, se derramando no altar.
De forma muito reverente (N?o estou brincando com o santo Nome, n?o.), penso em Deus respondendo algo como: "De novo? O que ? que voc? fez com o que ganhou na semana passada? O que pensa em fazer com o que receber hoje?"
Os mais sinceros, para ser bem sinceros, deveriam responder que n?o fizeram nada. E que nem sabem direito por que est?o pedindo t?o ardentemente, de novo, que seja derramado sobre eles e elas o Poder e a Gra?a divinos. Talvez estejam pedindo apenas para se exibirem; para causar inveja; para, assim, confirmarem, perante os outros, a aura de santos que cultivam.
Particularmente, entendo que nessa hist?ria de Pentecostes, bom mesmo ? o que vem depois e n?o o momento da descida como querem nos fazer pensar aquelas express?es e manifesta?es de gozo e alegria de quem, l? no altar, at? cai no ch?o para confirmar que recebeu o Esp?rito Santo.
N?o, n?o estou desprezando a descida do Esp?rito Santo que a Igreja comemora no Domingo de Pentecostes.Tamb?m eu canto, submissamente, "Vem como em Pentecostes e enche-me de novo!".
S? que, neste ano, pensei que talvez dev?ssemos pensar tamb?m no resultado dessa descida, no fruto que a a??o do Esp?rito provoca em cada um de n?s.
Por isso comecei este texto falando de longanimidade, caracter?stica ou qualidade do que ? long?nimo, magn?nimo, aquele(a) que tem princ?pios altos, tem nobreza de alma, ? altru?sta, bondoso, generoso e tamb?m paciente, resignado (nada a ver com medida de tempo como at? j? ouvi dizerem enfatizando as s?labas loooongaaaaanimidaaaaadeeeeee).
Nobreza da alma, princ?pios e valores elevados, altos…
Penso que talvez esse seja o jeito certo de entender a palavra alta no poema do Fernando Pessoa. Lembram-se?
Para ser grande, s? inteiro.
P?e quanto ?s no m?nimo que fazes.
Nada teu exagera ou exclui.
Assim a lua toda no lago brilha
Porque alta vive.
Lua me lembra serenata. A minha ora??o e o meu desejo ? que meu filho possa aprender o significado de amor, alegria, paz, benignidade, bondade, fidelidade, mansid?o, dom?nio pr?prio, longanimidade, como aprendeu o de serenata. N?o procurando no dicion?rio (o que, na pior das hip?teses, evitaria equ?vocos como aquele comum que entende longanimidade como longo ?nimo) mas tendo contato vivo com uma pessoa long?nima, recebendo e oferecendo atitudes bondosas, exercendo o dom?nio pr?prio. Tudo isso como resultado da descida do Esp?rito Santo sobre sua vida e sobre a vida da igreja da qual ser? parte.
Rev. Fernando Cezar Moreira Marques
Depto. Nacional de Escola Dominical
Pastor da Igreja Metodista na Lapa
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