primeiro de maio






29.04.08 – BRASIL


Brasil – O trabalho na sociedade do desemprego



Adital –
Esta semana, marcada pelo feriado do 1? de maio, nos faz refletir sobre uma das maiores contradi?es da sociedade: ela reconhece o trabalho como direito sagrado de todos os seres humanos (Declara??o da ONU sobre os Direitos Humanos), mas, ao mesmo tempo, desenvolve um modelo de desenvolvimento econ?mico, baseado no aumento do desemprego e no absoluto descompromisso com o trabalhador. Como, nestes dias, demonstrou em Goi?nia, o soci?logo Ives Lesbaupin, em uma reflex?o com agentes sociais, pode-se dizer que nos ?ltimos 30 anos, o mundo foi radicalmente transformado por pol?ticas econ?micas que radicalizaram uma forma de Capitalismo que os cr?ticos chamam de “neo-liberal”, termo pouco adequado, mas que o distingue do Capitalismo vigente antes de 1970, quando a sociedade procurava crescer economicamente, mas garantindo vida, sa?de e trabalho dos cidad?os. A partir de ent?o, a renda dos pa?ses cresceu imensamente, mas, ao mesmo tempo, os servi?os que os Estados prestavam (educa??o gratuita, sa?de, habita??o) foram todos abandonados. O Estado se retirou da fun??o de promover o desenvolvimento e o crescimento do pa?s. Abriu a economia nacional ao capital de fora. A preocupa??o passou a ser com o capital estrangeiro investido no pa?s e n?o com o desenvolvimento do povo.

No Brasil, os deputados aprovam a “lei das fal?ncias”, segundo a qual, se uma empresa cai em fal?ncia, a prioridade ? pagar suas d?vidas com os bancos e empresas internacionais. Depois, na medida em que puder, honra suas obriga?es com os trabalhadores. O importante ? garantir que as empresas de fora tenham toda facilidade em investir no pa?s. Como as empresas querem lucro para si e n?o melhoria para o povo, quanto mais reduzem gastos e empregos, mais lucram. Em todo o mundo, o resultado disso ? um desemprego estrutural e massivo. Nos ?ltimos 20 anos, mesmo nos pa?ses ricos, a taxa de desemprego se multiplicou por dez. Os governos convivem tranquilamente com a super-explora??o do trabalhador e a precariza??o do emprego. Na d?cada de 70, um cortador de cana era obrigado a cortar cinco toneladas de cana por dia. Hoje, o obrigam a cortar 12 toneladas. Multiplicam-se casos de trabalhadores que morrem no trabalho, extenuados. Morrem de trabalhar. A imprensa quase n?o publica isso. Em todos os pa?ses, existem trabalhos de semi-escravid?o, explora??o de crian?as e de estrangeiros. Quando h? um esc?ndalo de lavradores trabalharem acorrentados ou sob mira de revolver, o Minist?rio do Trabalho atua. Mas, infelizmente, o importante ? a produ??o.


At? 1990, no Brasil, 60% dos trabalhadores tinham carteira assinada. Hoje, s?o 40%. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso declarou: “O Brasil n?o tem desempregados. Tem inimpreg?veis”. Conforme esta declara??o, o Brasil tem emprego sim, mas n?o para o seu povo despreparado e ignorante. A ditadura militar dizia que o povo n?o sabe votar. Agora, dizem que n?o est? preparado para os empregos especializados que a ind?stria exige. A culpa do desemprego ? do trabalhador. Pouco importa que apenas seis grandes empresas mandem na agricultura brasileira e, em um ano, o pre?o de alguns alimentos tenha subido 168% (Folha de S.Paulo, 13/04/2008).


O professor Milton Santos declara que houve um verdadeiro “desmonte da sociedade e destrui??o dos la?os sociais”. “Trata-se da produ??o volunt?ria e calculada da pobreza, em um Estado de inseguran?a social”. O soci?logo Michael Davis que estuda a quest?o urbana no mundo publicou um livro que, significativamente, se chama “Planeta Favela”. Os Estados Unidos t?m 40 milh?es de norte-americanos, (n?o de latinos), vivendo abaixo da linha da pobreza. E a preocupa??o dos seus presidentes ? diminuir impostos e manter o jeito americano de viver, mesmo se este estilo destr?i a natureza e ? respons?vel por uma injusti?a social cada dia mais terr?vel.


A esperan?a dos pobres ? que este sistema n?o est? dando certo em nenhum lugar do mundo. Nenhuma das promessas foram cumpridas e nenhuma das teses do neo-liberalismo se confirmou. Isso permite que, cada vez mais, aumente o n?mero de pessoas que rejeite o pensamento ?nico de que n?o existem alternativas. Os diversos caminhos de espiritualidade humana recordam de que a vida de todos depende da solidariedade. Multiplicam-se no meio do povo experi?ncias de economia solid?ria e produ??o comunit?ria de empregos em cooperativas e trabalhos de base. Quando este modelo se firmar, poderemos dizer de novo: “viva o 1? de maio!”. 



* Monge beneditino, te?logo e escritor. Tem 30 livros publicados.

Fonte:www.adital.com.br

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