Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 17/01/2011

Reflexão sobre as catástrofes da região serrana

Por Luis de Souza Cardoso/ Rede Metodista de Educação

Observando as catástrofes que têm atingido o Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais com as chuvas das últimas semanas, tenho refletido muito sobre essa situação.

Não é fácil ver tanta gente sofrendo, morrendo, perdendo tudo que tem para sua sobrevivência, especialmente na maioria dos casos em se tratando de famílias empobrecidas, mas não somente, pois, no Rio de Janeiro a catástrofe atingiu casebres e mansões, ou seja, vemos aqui que a calamidade provinda da "fúria" da natureza não faz acepção de classe social.

Acontece que na maioria dos casos, nas grandes cidades, como São Paulo, por exemplo, esse tipo de calamidade atinge primeiro os mais pobres, que ano após ano perdem tudo, perdem seus queridos e seus parcos bens, num ciclo que parece interminável (vide o caso da Favela do Pantanal).

É impossível com um pouco de sensibilidade humana não sermos tocados por toda essa situação. E como cristãos chegamos a nos perguntar sobre o que Deus está querendo dizer com tudo isso? Deus é Deus e tem o controle de tudo, sabemos disso e acreditamos nisso, porém é de se perguntar, no mínimo, "por que Senhor?". E parece que nos toca muito mais de perto quando somos afetados, uns mais outros menos, na própria família.

Nós estamos afetados primeiramente na grande "família humana", como disse acima, porque são seres humanos que estão sendo atingidos, independentemente se são pobres ou ricos, se são negros ou brancos, se são cristãos ou não.

Em segundo lugar, estamos afetados em nossa "família metodista", porque como está sendo veiculado nas notícias da Primeira Região Eclesiástica, cerca de 40 irmãos e irmãs metodistas nas áreas afetadas tiveram suas vidas ceifadas e outros possivelmente estarão entre os desaparecidos.

Além disso algumas propriedades da Igreja Metodista estão entre o grande contingente de prédios e casas que foram completamente arrasados pela água, lama e tudo mais que desceu da encosta dos morros na área serrana do Rio. Isso é insignificante enquanto patrimônio material, entretanto, são espaços da Igreja que neste momento estão impossibilitados de serem utilizados para a salvação de vidas (em todos os sentidos) e isso é igualmente doloroso.

Mas, há ainda um terceiro aspecto, que é o fato de muitos dos nossos irmãos e irmãs metodistas estarem afetados nas suas próprias "famílias biológicas". É o caso do nosso colega Pastor Marcio Ramos, que perdeu seu filhinho na tragédia de Nova Friburgo. Isso é muito dolorido! Nossa oração e dor junto com ele, sua esposa e sua filha, para que Deus tenha misericórdia.

São Paulo já sabia, quando se referindo ao Corpo de Cristo, a Igreja, constatou aos Coríntios e também a nós: De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele (1Cor 12.26), e desafiou-nos à solidariedade e ao compadecimento - Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram. (Rm 12.15)

Todos procuramos respostas diante dessas situações. Muitos falam que são "sinais dos últimos tempos" e eu me lembro que Jesus advertiu aos fariseus e saduceus dizendo: Chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está avermelhado; e, pela manhã: Hoje, haverá tempestade, porque o céu está de um vermelho sombrio. Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos? (Mt 16.2-3). Pois é precisamente sobre esses "sinais dos tempos" que precisamos estar atentos e discerni-los.

O planeta está gemendo as dores do desequilíbrio ambiental ... a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora (Rm 8.22). Parece-me que toda essa situação que enfrentamos neste dias nada mais são do que "sinais dos tempos". A família humana precisa fazer sua mea culpa e mudar seus hábitos, corrigir-se, se é que ainda há tempo, para frear o enorme desequilíbrio causado neste planeta, nas suas condições climáticas, na desorganização dos seus ciclos naturais, na ocupação desordenada e inadequada dos espaços, etc. São "sinais dos tempos" pelos quais Deus e a natureza por Ele criada estão querendo nos dizer alguma coisa.

São "sinais dos tempos" para os quais os profetas e apóstolos, há muito tempo, já nos advertiram e chamaram ao arrependimento e à correção, porém ainda não fomos capazes de assumir essa necessidade. Como disse Paulo a Timóteo (3.1-5): nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes.

Plantamos ventos e estamos colhendo tempestades. E isso se repete em muitos outros lugares deste mundo, de diferentes formas, ano após ano, a natureza está gemendo e aguarda a redenção.

A Igreja de Cristo está diante de uma grande tarefa evangelizadora. Se por um lado somos desafiados à solidariedade com os afetados, por meio de doações e orações, por outro, Deus demanda de cada um de nós uma mudança de consciência e nos vocaciona a denunciarmos toda e qualquer agressão ao meio ambiente, que causa esses enormes desequilíbrios que estamos vivendo.

A tarefa evangelizadora da Igreja num tempo como esse, de calamidades, passa primeiramente pelo serviço de cura aos feridos, de consolo aos enlutados, de aparo aos necessitados e de motivação e esperança aos desalentados, mas, passa também pelo chamamento ao arrependimento, à mudança e a correção pessoal, comunitária e governamental, para que possamos garantir às atuais e futuras gerações, dias melhores, dias em que se cumpra em plenitude a promessa de Jesus Cristo, para que todos tenham vida e a tenham em abundância (Jo 10.10), e isso inclui o ser humano e a criação.

Que Deus nos abençoe e nos dê clareza desses "sinais dos tempos". Amém.


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