Rescaldo do Concílio Geral

O inc?ndio havia acontecido, o pr?dio queimado, pessoas desaparecidas… Os bombeiros deveriam fazer um trabalho importante: o rescaldo. Era como se fosse passar um "pente fino", vendo o que restou; descobrindo sinais que poderiam indicar as causas do inc?ndio; encontrando corpos queimados e destro?os significativos. O rescaldo era um trabalho muito importante a ser realizado, pois, ele poderia indicar conseq??ncias e ind?cios importantes.


A primeira etapa do Conc?lio Geral terminou. Muitos dos acontecimentos surpreenderam a tantos, pelo seu alcance; at? a Sociedade brasileira e Internacional sentiu os impactos das decis?es ocorridas. Agora ? a hora do "rescaldo" ser feito; identificar as causas, os efeitos e os sinais indicativos significativos.


Tenho tido contato com diversas pessoas de forma pessoal, por telefone e atrav?s da Internet. Tenho lido e-mails os mais diversos, lido entrevistas, not?cias de ve?culos de comunica??o nacional e internacional. As observa?es e constata?es t?m sido as mais diversas. Tenho respondido a muitos e-mails e contatos pessoais avaliando as decis?es, solicitando cautela, busca de discernimento, sabedoria e orienta??o do Esp?rito Santo. Tenho dito para n?o haver precipita?es e nem julgamentos infundados.


Vejo de um lado algumas pessoas ou grupos euf?ricos com suas conquistas e vit?rias. Da mesma forma contemplo pessoas desoladas, desanimadas, sem entender o que aconteceu. Carecemos de muita sabedoria e gra?a divinas. Devemos evitar lan?ar sobre as igrejas locais um peso desnecess?rio e interpretativo que possa desestabiliza, desequilibrar e extasiar a muitos.


H? muitas fraturas nos relacionamentos. Pessoas magoadas, marcadas, chocadas, escandalizadas, perdidas e sem dire??o. O que ser? daqui para frente? Uns dizem! Outros afirmam: Agora tudo ser? diferente!


Uma grande movimenta??o est? ocorrendo de todas as ?ndoles e de todas as matizes.
No rescaldo alguns ind?cios est?o presentes. Que ind?cios ter?amos? Ouvi muitos dizerem: "Dever?amos ter denunciado tudo. Fomos coniventes!". Outros lan?am justificativas: “n?o poder?amos mais continuar assim. Haveria de ter-se mudan?as… Isso foi feito para responder a uma hierarquia insens?vel e conivente.”


Percebe-se, no rescaldo, que os "esp?ritos foram muito armados, fechados em si mesmos". Ningu?m estava pronto a ouvir ningu?m. Muitos falaram, mas os ouvidos e as mentes estavam sem sensibilidade.


Quando o Bispo Jo?o Alves de Oliveira Filho, no culto de abertura, leu a Mensagem do Col?gio Episcopal, poucos estavam interessados e atentos. Muito pouco foi percebido quanto ao esp?rito com que os Bispos convidavam os conciliares a vivenciar. Ali?s, havia uma constante desconfian?a, de muitos, em rela??o aos bispos e o Col?gio Episcopal. Era fruto do desgaste desse per?odo eclesi?stico ou outro fato imperceptivelmente presente?


No momento em que se iniciou a reflex?o e discuss?o quanto ? perman?ncia da Igreja Metodista no CONIC, o Col?gio Episcopal encaminhou ao Conc?lio um texto, lido pelo Revmo. Bispo Adolfo Evaristo de Souza. Ao meu ver um texto claro, honesto, sem nada esconder, colocando tudo ?s claras. Na verdade esse texto deveria estar nas m?os dos Conciliares desde o in?cio do Conclave. O que se percebeu ? que muito pouco dos Conciliares estavam interessados no texto. Poucos o ouviram atentamente; alguns atentaram para o que lhes interessava; a maioria procurava argumentos para defender a sua posi??o na hora do debate.


Houve um longo e exaustivo col?quio a favor ou contra o Ecumenismo ou a filia??o da Igreja Metodista em ?rg?os ou Institui?es Ecum?nicas. Ouvimos testemunhos significativos, experi?ncias pessoais, preconceitos, etc. Muito pouco fundamenta??o b?blica, teol?gica, hist?rica e wesleyana foram colocadas e quando feitas, foram-nas de forma superficial.


Agora, as rea?es s?o as mais diversas: anula??o da decis?o por falta de constitucionalidade; reconsidera??o na pr?xima etapa do Conc?lio; retirada imediata dos ?rg?os e institui?es que contemplaram a proposta aprovada; euforia entre os que lutaram para esse acontecimento; acirramento entre muitos; igrejas locais afetadas pelas decis?es; rea?es de in?meras Institui?es Religiosas, Sociais, Nacionais e Internacionais, inclusive oriundas das Igrejas Cooperantes.


Tenho lido posicionamentos de todas as ?ndoles. Sites e blogs foram criados visando a discuss?o, quem sabe vindo tarde demais, pois poderiam ter amadurecido essa discuss?o antes do Conc?lio, preparando-nos para uma tomada, menos emocional e mais consciente, qualquer que fosse ela.


Tenho dito: "n?o vamos nos precipitar… vamos assimilar o acontecido… avaliar a nossa caminhada, desde o momento em que um Conc?lio votou o ingresso no CONIC e outros ?rg?os. Como foi o relacionamento, o tratamento e o reflexo para com os que pensavam e tinham posicionamento diferentes? Ser? que n?o tentamos "impor" uma decis?o Conciliar, da maioria, a uma minoria?


Sa?mos festivamente a fazer nossos pactos, marcar nossos ingressos, sem levar a Igreja a refletir, fundamentar de forma pedag?gica, metodol?gica e, acima de tudo, pastoral.


Creio que surge perante n?s um momento de reflex?o, de aprofundamento de nossos fundamentos b?blico-teol?gicos e hist?ricos; um momento justo, honesto em que vamos avaliar os nossos relacionamentos com outras Igrejas e Organismos, firmando nossos valores hist?ricos, nossos pontos em comum e falando a verdade, em amor, a respeito das nossas diferen?as, o que quase nunca desejamos faze-lo.


Sempre cri ser poss?vel viver na Igreja Metodistas um pluralismo teol?gico, religioso e de espiritualidade. ? frase minha: "N?o temos uma linha que nos caracteriza, na qual todos(as) devem se enquadrar; temos e somos uma "faixa", na qual h? mobilidade. Contudo , esta faixa tem limites que devem ser respeitados e vivenciados". Os diversos posicionamentos teol?gicos n?o significam quebra de unidade, desde que existam segundo os fundamentos b?sicos de nossa f? b?blica e wesleyana. Como Wesley dizia, "No fundamental Unidade". Nesse fundamental, n?o sei se bem caracterizado para todos, devemos estar unidos com as mentes, com a alma, com o cora??o, a vontade e a a??o. H? diversidades que devem e necessitam ser respeitadas. Elas devem existir ? luz dos nossos fundamentos; vivenciadas com respeito, sem imposi??o. Acima de tudo, carecemos nos respeitar, ter acolhimento, confiabilidade, disposi??o e boa vontade e, acima de tudo, Amor. Tem faltado respeito, toler?ncia e confiabilidade entre n?s. Al?m disso h? falta de respeito, de submiss?o ?s autoridades constitu?das por Deus, presen?a de insubmiss?o e falta de disciplina. Aqui reside grande parte de nossos maiores problemas. Contudo, o que mais tem marcado a nossa trajet?ria ? a falta de autoridade, n?o de autoritarismo, e a aus?ncia de car?ter. N?o s?o as posi?es diferenciadas ou divergentes que nos separam e nos impedem a caminhada comum, mas sim, a falta de car?ter, da viv?ncia evang?lica de nossa f?. Podemos, sim, caminhar com nossas diferen?as, desde que n?o sejam b?sicas e quebrem os fundamentos de nossa f?, mas com respeito, empatia, confiabilidade, credibilidade, amor e um estilo de vida confi?vel pelo car?ter que ele testemunha.


ELEI??O EPISCOPAL


O que dizer do "rescaldo da elei??o episcopal". H? euforias e tristezas; alegrias e choros; fam?lias realizadas e outras machucadas; bispos valorizados e outros colocados ? margem. Ser? que tudo o que ocorreu na elei??o, nos seus cinco escrut?nios n?o ? devido a falta de respeito ao carisma episcopal, ao preconceito ideol?gico ou teol?gico presente para com alguns bispos ou a forma como foi exercitado o carisma episcopal? Ouvi, a tempos, algu?m dizer: "Se fulano pode ser bispo, por que eu n?o posso tamb?m?". Acontece que ser bispo n?o ? uma mera decis?o de vontade, aspira??o ou manipula??o. ? chamado divino, sob o crit?rio das Escrituras, com autoridade de vida, car?ter e testemunho. Ser desta ou daquela posi??o, desta ou daquela postura ou ?nfase doutrin?ria n?o d? validade e autenticidade ao exerc?cio do episcopado. Essas posi?es podem existir e coexistirem, mas, muito mais do que isso necessita estar presente naquele(a) que como Servo do Senhor ? escolhido(a) para pastorear o rebanho, inclusive pastores e pastoras, junto de suas fam?lias e igrejas locais, dentre esses muitos com posturas teol?gicas e religiosas diferentes. Alguns, no passado se tornaram bispos devido a esquemas e movimentos os mais diversos. Isso parecia ter passado, mas, o rescaldo da elei??o infelizmente nos indica um caminho menos excelente do que os do passado, que j? n?o eram t?o excelente. Como seres humanos, desta ou daquela postura, n?s decidimos, constitu?mos, retiramos ou colocamos, conforme nossas decis?es e aspira?es.


H? uma grande dor no cora??o da Igreja, no cerne do Evangelho, a dor de ver na Igreja esquema semelhantes ou piores dos que est?o no mundo. Ser? isso verdade? H? em algumas Regi?es acolhimento dos que foram rejeitados e rejei??o aos que foram aclamados. S? Deus poder? dar condi??o aos bispos no exerc?cio do seu mandato, em ?reas e Regi?es onde n?o h? maioria para si. S? o quebrantamento do Esp?rito pode levar-nos a nos "abstrair" de personalismos para podermos acolher e conviver com o que parece a alguns ou a muitos, ser o contr?rio, o que n?o tem perfil para esse ou aquele rebanho.


Com "rescaldo" ou n?o, agora ? hora de pagar o pre?o de nossa decis?o. Cabe-nos avaliar o sistema de elei??o, o perfil b?blico e pastoral dos candidatos(as). Somos desafiados, num ato de quebrantamento evang?lico, a honrar e valorizar aqueles que foram marginalizados, juntos de seus familiares e acolhendo-os, caminhar juntos; dar apoio aos que alcan?aram esse "minist?rio", orando por eles, seus familiares e minist?rio que receberam. Dessa forma estamos testemunhando, o paradoxo do Evangelho, de que mesmo contrariados, agir com Cristo e no Esp?rito visando o bem de todo o Corpo de Cristo, a Igreja, vivenciando a Miss?o intra, inter e extra-Igreja, ao lado, junto de, com, a favor do ser humano e da transforma??o da Hist?ria. O Reino de Deus, mesmo nos momentos de desaprova??o, tem esses desafios e essas caracter?sticas. Todavia, esse Reino tamb?m nos diz: “N?o vos conformeis com os valores desse s?culo, mas permiti a Deus vos transformar, para que possais experimentar a ?nica, boa, agrad?vel e perfeita vontade, que ? a Vontade Divina, e permiti-la conduzir as nossas vidas, a vida da fam?lia, da Sociedade e da enferma Igreja. Rm.12.2 – Tradu??o livre.


E AGORA ?


Chega de euforismo ou de depress?o. ? hora de avaliar o rescaldo do Conc?lio sem ter vencedores e vencidos. Diante de Deus ningu?m venceu, ali?s, talvez, fomos todos derrotados. Carecemos perguntar ao Senhor de nossas vidas, se de fato desejamos uma avalia??o dEle: o qu? o Senhor deseja falar-nos atrav?s desses acontecimentos? Onde ?le deseja tocar, mudar e transformar em nossas pessoas, nossos relacionamentos e nossa Institui??o? Estaremos desejando, de fato, uma atua??o do Esp?rito em n?s, colocando-nos perante Ele com esvaziamento, humildade, acolhimento e simplicidade? Entregando-Lhe nossas posturas, nossos direitos, nossas posi?es, nossa autoridade e tudo o mais? Ou estamos perante Cristo nos justificando, dizendo ao Senhor que agimos assim ou dessa maneira visando o bem da Igreja, a sua Reden??o, a defesa da verdade da f? ou que deixamos de agir pensando em nossa pr?pria seguran?a, em n?o nos desgastar, nos omitindo a favor de uma causa maior. E assim, agora, buscamos a Sua Ben??o!


Quem est? disposto(a) a ouvir e a permitir o agir do Senhor? Talvez seja mais f?cil ouvir as nossas pr?prias vozes, refor?ar os nossos argumentos, os nossos acordos e projetar o futuro, visando ? conquista ou ? reconquista de nossas posi?es.


No lema dos Alco?licos An?nimos h? um princ?pio: "A ?nica pessoa que voc? pode mudar ? voc? mesmo". Muitas vezes, pensamos, que podemos mudar as outras pessoas, os seus valores, comportamentos e maneira de ser. "Quem pode nos mudar, somos n?s mesmos, quando assim desejamos e nos permitimos.” ? luz da f? crist?, podemos dizer: “permitindo ao Senhor da gra?a a mudar-nos interiormente." Essa ? a mudan?a que todos as) necessitamos. O restabelecimento e fortalecimento do nosso Ser Interior, mediante a a??o Santificadora do Esp?rito Santo.


Infelizmente, muitas vezes, o nosso cristianismo ? de fachada, superficial, de "slongans", de eventos e nada mais. Falta o mais fundamental, o que est? no interior do ser, como diz o autor Larry Crab(?) em seu livro de "De Dentro para Fora", ao falar do sentido de Cristo na vida das pessoas e nos relacionamentos. "A sonda invasiva do Esp?rito Santo" necessita penetrar o nosso ser interior: nossas mentes, cora?es, emo?es, sentimentos, espiritualidade, valores, compromissos, relacionamentos, alvos, objetivos, anseios, projetos, etc., localizar as nossas enfermidades, cauterizar feridas, desobstruir canais, fazer angioplastias, remover tumores, restaurar tecidos e ?rg?os fundamentais. Necessitamos de uma nova mente, um novo cora??o e um novo Esp?rito, conforme Jeremias 31.33-34 e Ezequiel 36.24-28.


H? um dito significativo: "Se todos varresem a sua cal?ada, logo a rua inteira estaria limpa". Citado no livro: O Monge e o Executivo, pg.109, de James C. Hunter. Essa ? uma verdade que envolve a todos (as) n?s. Teria esse "slongam" validade para a vida da Igreja.


Leio no Apocalipse que algu?m "comeu o livrinho,achando-o doce". Talvez tenha nos faltado "comer o livrinho", isto ?, a Palavra do Senhor, vivenciando-a, achando-a doce para o nosso viver, os nossos relacionamentos, as nossas decis?es e o nosso modo de ser Evang?lico, isto ?, vivendo segundo o Evangelho de Jesus Cristo.


Citamos a Palavra, falamos a seu respeito, usamo-la para justificar nossos argumentos, escolhas e procedimentos, mas…, n?o a "comemos" e por isso estamos com um "amargor" em nossas bocas, em nosso ser e em nossas rela?es. Saber a Palavra e seguir caminhos que a contrariam levam-nos ? maior infelicidade que possa um ser vivente ter. Foi Jesus quem nos disse, ap?s o "lava-p?s". Bem-Aventurados sois, se sabendo essas coisas, as praticardes". Jo.13.17


No lugar do sabor de "mel", nossas bocas e todo o nosso ser, est?o vivendo um "sabor de um amargor".


Ou?amos a Palavra do Senhor:


"Longe de n?s toda a amargura, ressentimento, ci?mes, iras, contendas, blasf?mia e bem assim, toda a mal?cia. Antes ,sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como tamb?m Deus, em Cristo, vos perdoou. Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor, como tamb?m Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por n?s, como oferta e sacrif?cio a Deus, em aroma suave". Ef. 4.30-5.2. Dessa forma deixaremos de "entristecer ao Esp?rito de Deus…" (30).


Ser? isso poss?vel entre n?s? Ou ? ingenuidade, falta de relev?ncia, de autenticidade, sentido e objetivo esse modo de agir?


"N?o por f?r?a e nem por viol?ncia, mas pelo meu Esp?rito", diz o Senhor.


Se muito do que aconteceu foi por f?r?a, por viol?ncia ao Evangelho, ? Hist?ria da Igreja e ? nossa tradi??o Institucional, deveremos continuar caminhando assim ou assim nos preparar para a pr?xima etapa de nosso Conc?lio Geral?


Cada um(a) dar? conta de si mesmo a Deus, dos seus movimentos e organiza?es pr?-conciliares. Somente Ele ? Senhor!


A Ele seja toda a gl?ria e a n?s o "corar de vergonha".


Nelson Luiz Campos Leite

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