Sabedoria se mede, n?o pela quantidade de experi?ncias vividas, mas o que se fez com elas. Muita gente passa literalmente pela vida, e n?o aprendeu nada, n?o viu nada, n?o se apercebeu de nada. Espera-se do crist?o que a cada momento vivido, que a cada luta enfrentada, a cada doen?a sofrida, seja para ele uma oportunidade para desenvolver seu ser.
Como diz o psiquiatra Augusto Cury: "h? jovens que s?o velhos pois s?o engessados e r?gidos intelectualmente. H? velhos que s?o jovens, pois s?o livres e est?o sempre dispostos a aprender". Sim, h? jovens que passam pela vida como velhos cansados e exaustos, fechados em si mesmos, sempre com as for?as exauridas, sempre enfastiados n?o se sabe exatamente com o que, e muito pouco abertos a aprender. E h? velhos que mant?m a jovialidade, um lampejo no rosto e a mente aberta para receber o novo a cada manh?.
Creio que essa diferen?a de postura est? no desejo de aprender, na maleabilidade da alma, no permitir-se errar – pois a obriga??o de acertar sempre nos impede de agir. S? quem se coloca na posi??o de um eterno disc?pulo pode aprender com o Mestre. S?bio n?o ? algu?m que chegou a algum lugar, mas que reconhece ser um caminhante.
Infelizmente vivemos uma gera??o de crist?os que pouco refletem, que n?o examinam detidamente as coisas, que buscam respostas padronizadas, e vivem atr?s de facilidades para suas vidas. N?o ? dif?cil ouvir algu?m orando: "Senhor, me facilita isso; Senhor, me facilita aquilo". Chega a ser engra?ado: agimos sem refletir, n?o buscamos conselhos, nos metemos em confus?o, e depois esperamos que Deus quebre as leis naturais, pare a rota??o da Terra, segure o sol, e mude o cora??o de todos os inimigos que criamos, s? para tirar-nos daquela confus?o. Deus se torna, ent?o, o nosso grande quebrador-de-galhos.
Este mundo evang?lico tem produzido uma gera??o de crentes que sofre de um grande alheamento existencial, pois a igreja tem se preocupado em enfatizar conceitos e doutrinas, que muitas vezes n?o passam de "letra morta", que n?o trazem vida, que n?o resolvem o problema existencial de ningu?m, e ainda imp?em, regras e deveres, cujo resultado ? uma vida de medo e culpa constante. E toda alegria, espontaneidade e criatividade se perdem para que a pessoa se encaixe em modelos doutrin?rios do tipo fa?a-o-que-o-l?der-mandar. Jesus, ao contr?rio, levava os disc?pulos a sa?rem do lugar-comum, a quebrarem seus paradigmas, a viverem na liberdade de vida que Ele era o portador.
Quando permanecemos numa vida crist? dominada por conceitos, ca?mos no mesmo erro de Felipe: "Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta". Felipe tinha seu conceito de Deus, de vida religiosa, de espiritualidade. Ele n?o entendeu nada do que Jesus mostrou em todo o seu minist?rio: n?o entendeu a import?ncia da simplicidade, da miseric?rdia, da tranq?ilidade dos p?ssaros, n?o entendeu nada sobre o perd?o, sobre a gra?a que vem sobre maus e bons, nada, nada, nada. Ele buscava um Deus que se encaixasse em seu conceito.
Muitas vezes, em meu minist?rio pastoral fui abordado por perguntas e questionamentos. Se eu percebia que o interlocutor queria apenas uma resposta f?cil e n?o uma compreens?o da situa??o, despedia-o com algum vers?culo b?blico. N?o adiantava me aprofundar, pois n?o era isso que ele estava buscando. Mas se percebia a pessoa sedenta, querendo encontrar algo mais do que uma resposta, ent?o em dizia: "sente-se aqui, vamos conversar". Parece-me que a maioria das pessoas n?o busca sabedoria, e sim solu?es para seus dilemas.
N?o se pode separar a vida espiritual da vida existencial. Muitas vezes imaginamos que a espiritualidade se resume em ora?es, c?nticos, medita?es… e deixamos a "exist?ncia" de lado. Temos, ent?o, um crist?o que tem um cora??o bom, mas quando ele age na vida, ? um desastre! Vida crist? n?o ? s? ter o conceito certo, mas buscar a exist?ncia certa.
Sabedoria n?o ? quantidade de diplomas, n?o s?o cursos realizados, n?o ? conhecimento acumulado. A sabedoria tem sua base naquilo que recebemos de Deus. ? aquele entendimento que agu?a a minha sensibilidade. Ter sabedoria ? ter a alma e todos os sentidos abertos, ? ter percep??o do que acontece dentro de si e ? sua volta. ? sensibilidade do mundo interior e abertura para a transcend?ncia. Quem tem sabedoria jamais ser? um alienado do mundo e das coisas do seu tempo.
Sabedoria ? uma qualidade divina, da qual o homem pode participar mediante a ilumina??o que o Esp?rito Santo traz. Sabedoria ? discernimento que vem do Alto, ? abertura dos olhos, da mente e da intui??o; ? a capacidade de viver bem, de resolver problemas, de entender o outro, de compreender a Palavra.
"Se algu?m necessita de sabedoria, pe?a-a a Deus, que a todos d? liberalmente, e ser-lhe-? concedida " (Tg 1.5). Sim, Senhor, n?s queremos. D?-nos dessa Sabedoria!
Daniel Rocha
Pastor da Igreja Metodista, e psic?logo

