No Encontro Nacional de Pastores (as), a psic?loga Janice Bicudo e o pastor Ed?sio de Oliveira Rocha, da 4? Regi?o, falam da sa?de emocional no exerc?cio do minist?rio
Rev. Ed?sio, no p?lpito, d? seu testemunho ap?s palestra da psic?loga Janice (sentada ao lado do Bispo Geoval).
Professora do Instituto de Psican?lise de Campinas e membro da Igreja Metodista Central dessa cidade, Janice come?ou sua palestra fazendo uma reflex?o sobre o tema que motivou o Encontro Nacional de Pastores: "Reaviva o Dom". Reavivar, disse ela, ? ressignificar, dar novo significado ao vivido. "N?o mudamos os acontecimentos vividos, mas podemos dar novos significados, que mudam o sentido do que aconteceu".
Ela lembrou que n?o somos apenas seres biol?gicos. Recebemos influ?ncia de nosso psiquismo, somos movidos por desejos. "O desejo nasce da falta, da nossa incompletude humana. Ele ? instalado j? em nossos primeiros relacionamentos, ainda beb?s", lembra Janice. Mas desejo que n?o ? reconhecido tende a nos levar por caminhos que ?s vezes n?o esperamos, alerta a psic?loga. Quando nossos desejos est?o desnorteados, vivemos a impossibilidade da espera. "Acabamos escolhendo qualquer coisa que nos traga satisfa??o imediata; essa ? uma caracter?stica da sociedade contempor?nea".
Segundo a psic?loga, as pessoas muitas vezes agem como Esa?, que n?o ag?entou esperar e trocou a sua primogenitura por um prato preparado pelo irm?o Jac?. Esse tipo de comportamento tem afetado diretamente o relacionamento familiar, desafiando os pastores e pastoras no seu trabalho de orienta??o crist?. "? necess?rio ensinar as pessoas, desde crian?as, a lidar com frustra?es e perdas. N?o podemos ir atr?s de nossos impulsos sem levar em conta o outro. Crian?as s?o confundidas com adultos, colocadas no centro da fam?lia, num lugar que n?o lhes pertence e n?o faz bem a elas. Projetamos nelas o que n?o podemos ser e idealizamos os relacionamentos". Essa idealiza??o, explicou a psic?loga, pode ser direcionada aos filhos ou aos c?njuges, que recebem a tarefa de suprir lacunas imposs?veis de serem preenchidas, a n?o ser pela Gra?a do pr?prio Deus. "Nossa exist?ncia enquanto seres humanos ? sempre prec?ria.. N?o somos completos, por isso precisamos da Gra?a de Deus".
Se a pr?pria fam?lia pode ser alvo de idealiza??o, o que n?o dizer da fam?lia pastoral? Para a comunidade, explicou a psic?loga, o sacerdote ? aquele que tem a "cust?dia" do sagrado. Muitas pessoas acreditam que ele est? "mais pr?ximo de Deus".
Assim, um problema que atinja a fam?lia pastoral tende a causar inseguran?a em toda a comunidade, a partir do equivocado racioc?nio: "Se aquele que estava mais perto de Deus foi atingido dessa forma, n?o foi protegido, imagina n?s!".
Essa idealiza??o, afirmou ela, pode provocar danos irrepar?veis ? fam?lia pastoral. "Pastor e pastora vivem a proximidade e o contato di?rio com o transcendente, com o Absoluto. Mas vivem tamb?m no mundo profano. T?m necessidades financeiras, sexuais, precisam pagar impostos, votar, educar filhos… Lidam com os dois mundos: o concreto e o transcendente. Esses dois mundos podem se chocar e se contradizer; ? necess?rio integr?-los. Diante dessa dicotomia, corre-se o risco de se tentar encobrir a pr?pria humanidade com o discurso religioso", alerta Janice. "A Gra?a de Deus n?o ? para encobrir a falta, mas para nos sustentar diante da falta".
O pastor Ed?sio de Oliveira Rocha, da 4? Regi?o, confirmou as palavras da psic?loga Janice Bicado a partir de seu pr?prio testemunho. "Minha esposa foi diagnosticada com transtorno bipolar misto. Sentimos temor e falta de coragem de assumir diante da Igreja que a esposa do pastor tinha doen?a de fundo emocional", conta o pastor. Ele diz que a esposa do pastor ? a pessoa mais sacrificada da Igreja e os filhos s?o os mais incompreendidos. "Cobra-se da fam?lia determinados pap?is, o que ? refor?ado pela pr?pria postura pastoral". Segundo Ed?sio, a fam?lia pastoral somente ser? meio de gra?a quando cada membro tiver liberdade para exercer o seu minist?rio sem imposi??o ou cobran?a. "N?s tamb?m alimentamos essa ilus?o e preferimos representar, viver o mito da fam?lia perfeita, da fam?lia modelo. Essa disfun??o tem adoecido a fam?lia pastoral. Ficamos constrangidos em demonstrar a nossa humanidade, revelar nossas enfermidades e at? nossas extrovers?es. O que se espera ? algo sobre-humano".
Mas, o que fazer quando algum membro da fam?lia sofre transtornos emocionais? Resposta ?bvia, disse o pastor: orar e jejuar, ter f?, acolher. Tudo isso ? necess?rio, mas n?o dispensa o tratamento especializado. "Terapia ? meio de gra?a", afirmou o Rev.Ed?sio. "N?o somos deus em miniatura. Precisamos nos humanizar. Reconhecer que n?o temos resposta para tudo, nem resposta para todos. Isso ? ser humano. Precisamos reconhecer nossos limites ao nos colocarmos frente aos ?amigos de J??".
O Rev. Ed?sio lan?ou, ent?o, uma pergunta ? plat?ia: "A Igreja gosta do perfil do pastor que faz tudo?" E ele mesmo respondeu: "Claro que gosta!" De maneira geral, a Igreja acha que tem ganhos com o pastor extremamente ativo, que toma todas as responsabilidades sobre si. Mas tamb?m h? perdas. "A Igreja pode se tornar dependente, imatura, infantilizada". "Nos primeiros anos do minist?rio, eu n?o tinha limite e n?o sabia colocar limites na igreja. Trabalhava 12, 14, 18 horas di?rias. Mas fui confrontado com a necessidade de cuidar das minhas emo?es. Meus condicionamentos e preconceitos, minha ignor?ncia, n?o haviam me permitido ouvir o que era ?bvio. Demorei quase uma d?cada e meia para come?ar a ouvir os meus fantasmas".
Pessoas que nunca falam de suas frustra?es t?m chance m?nima de obter al?vio, alertou o pastor, que deixou um conselho pessoal aos pastores e pastoras que o ouviam: "Nunca se isole. N?o tenha medo de dar nome a seus fantasmas. Mas n?o fale com todo mundo. Nem sempre os bispos, a bispa, ou os SDs s?o as melhores pessoas para nos ouvir. Quero encorajar voc?s a desenvolver alguns amigos de jugo, que possam escut?-los e n?o acus?-los. Quero desafi?-los a buscar ajuda. No Gets?mani, Jesus desabafou com tr?s amigos. Ele teve coragem." Lembrando que n?o h? crescimento sem dor, o Rev. Ed?sio Rocha tamb?m desafiou os colegas a buscarem atendimento terap?utico. "Terapia n?o ? gasto, mas investimento, para quem reconhece necessidade de ajuda. Terapia ? auto-conhecimento, ? tarefa para a vida inteira".