Vivendo no limite daniel rocha

Admiro quem tem uma vida tranq?ila e serena, sem grandes sobressaltos e tudo muito bem organizado. Parece que Deus agraciou algumas pessoas, cercando-as de facilidades e levando-as a lugares pl?cidos.

Outros, como eu, est?o sempre no limite. Limite das for?as, do equil?brio, da f? e da esperan?a.  Assim como o salmista, repetidas vezes j? pressenti que “quase me resvalaram os p?s” (Sl 73.2).






 

 Felizmente estou em boa companhia. Acredito que h? pessoas cuja caminhada de f? nunca ser? nas plan?cies, mas nas escarpas montanhosas, onde o ar ? rarefeito, a subida ? cansativa, e a f? ? levada ao seu extremo. Apesar dos percal?os do caminho, a vis?o dali ? bel?ssima, e s? quem se arrisca a subir pode apreci?-la.


Paulo, o ap?stolo, viveu sua vida nos limites. No limite da fraqueza, com “lutas por fora, temores por dentro”; no limite da condi??o humana por conta das pris?es, a?oites, naufr?gios, perigos, frio e nudez; no limite do desprezo, sendo considerado como lixo e “esc?ria do mundo”.

O profeta Jeremias tamb?m experenciou os p?ncaros da tristeza (depress?o?) a ponto de maldizer a Deus por n?o t?-lo matado ainda no ventre materno (Jr 20.17). Os?ias viveu no limite da dignidade de um profeta quando Jav? lhe pediu para casar com uma prostituta do povo (Os 1.2) e o profeta Ezequiel no extremo do equil?brio emocional: a ele Deus at? proibiu de chorar a morte da esposa amada, “del?cia de seus olhos” (Ez 24.16).


As grandes obras de artistas, pintores e compositores sempre foram obtidas “no limite”.








Quem j? teve o prazer de ver “A noite estrelada” de Van Gogh n?o consegue imaginar que ao pintar um de seus mais belos quadros, com ciprestes retorcidos e estrelas em turbilh?o, ele retratava ali um pouco de sua loucura, que estava no auge.

 


Handel, j? quase cego, comp?s o “Aleluia” depois de se trancar no quarto por 24 dias, sem sair e com pouca comida, at? sua obra terminar. Foi no limite de uma surdez que nasceu a mais famosa sinfonia de Beethoven. Os mais belos poemas s? nascem na alma dos poetas que experimentaram as dores mais profundas. As notas mais altas e belas do violino s?o tiradas de cordas esticadas “ao extremo”.


Quem vive no limite tem poucos momentos prazerosos para desfrutar. Mas quando tem ? capaz de aproveit?-los e ser infinitamente agradecido a Deus, muito mais que aqueles que a todo momento se regalam, pois aprendeu a reconhecer a Gra?a divina.

Quem vive no limite quase nunca tem tempo sobrando, e justamente por isso ? chamado por Deus para realizar outras obras. Ao Senhor sempre apreciou chamar os atarefados.


Os personagens b?blicos que viveram no limite do pecado conheceram mais fortemente a Gra?a do perd?o, e sentiram mais intimamente o Amor do Pai. Vejo mais santidade no filho pr?digo que viveu no limite do desejo que seu irm?o sempre pesarosamente contido; vejo mais amor na mulher de m? fama que se derramou diante de Cristo que os convidados ? mesa, cheios de justi?a pr?pria.

O grande desafio de quem vive “no limite” ? a dificuldade de vislumbrar a presen?a do Senhor ao seu lado. Esta presen?a nunca ? suficientemente clara, dada a tens?o em que vive. Entretanto, justamente por n?o viver pela sensa??o, mas pela f?, ele sabe que Deus est? ali.

Compade?o-me tremendamente dos que est?o no limite da sanidade, quase a atravessar um caminho muito dif?cil de voltar.  J? perderam os amigos, os amores dos que antes os amavam, perderam a capacidade de controlar os pensamentos, e mergulharam num mundo desconexo e aterrador. 

Diferentemente dos que t?m uma vida bem estruturada, gozam de sa?de, e possuem recursos deste mundo, quem vive no limite precisa desesperadamente de Deus todos os dias, para suportar a dor, para n?o cair, para n?o pecar e n?o deixar-se morrer. N?o creio que haver? uma interven??o divina para mudar esse padr?o de ser, pois Deus os escolheu para testemunharem a Cristo na condi??o de “coisas loucas deste mundo”.

Num meio evang?lico obcecado por b?n??os, essas pessoas imaginam que n?o possuem testemunhos a compartilhar. Na verdade, se elas forem ? frente da igreja dar?o o maior de todos os testemunhos: de como Deus os tem sustentado a cada dia. Esses testemunhos fariam um contraponto aos “meninos na f?” que se vangloriam de possu?rem brinquedinhos novos que ganharam de Deus.

Dedico esse texto  a todos os que est?o nos limites de suas for?as e da paci?ncia, e que se seguram num t?nue fio de f?; dedico a todos que amaram e foram ignorados, aos que trabalham e n?o s?o reconhecidos, aos que vivem seu dramas – mas n?o fazem deles uma trag?dia,  nem ficam cobrando de Deus facilidades, nem livramentos milagrosos, mas t?o somente, t?o somente, que Ele lhe conceda for?as para acabar o dia e repousar o corpo cansado sobre a cama. A estes, o meu respeito e o meu reconhecimento de que estou diante de quem compreendeu o verdadeiro Evangelho de Cristo.


Pr. Daniel Rocha

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