Publicado por José Geraldo Magalhães em Escola Dominical, Estudos Bíblicos, Discipulado - 20/08/2014

Bispo Paulo Lockmann: Características do Líder Cristão

Em busca de líderesA história da humanidade é melhor conhecida pela história de homens e mulheres que a influenciaram. Sim, nós lembramos de Moisés, de Davi, de Elias; dificilmente lembramos de tantos outros que cooperaram com eles. Isso pode até parecer injustiça, mas o fato é que há pessoas que nascem com um potencial de liderança, as quais podem ter este potencial inibido ou desenvolvido. Podem atuar a favor do Evangelho ou contra ele.
 
            A Bíblia tem padrões diferenciados de liderança. Em 2Crônicas 16.9a, a palavra do profeta Hanani ao rei Asa é clara: “Porque, quanto ao Senhor, seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é totalmente dEle.” Assim, vamos buscar padrões bíblicos de uma liderança eficaz. Neste primeiro estudo sobre o assunto, vamos tentar um modelo de liderança, sem dúvida o melhor: Jesus.
 
            Nosso objetivo é aprender de Jesus, seguir seu estilo de liderança, e ensinar esse padrão a nossa Igreja Metodista. Afinal, não é isso o verdadeiro discipulado? Não foi isso que Jesus fez com seus discípulos? É exatamente o que o apóstolo Paulo quis dizer em 1Coríntios 11.1: “Sede meus imitadores, como também em sou de Cristo.”
 
         Precisamos trabalhar o nosso conceito de liderança, porque alguns modelos são mundanos, erotizados, deformados, ou místicos, messiânicos ou mal intencionados; povoam o universo da mídia e até das nossas relações eclesiais. Um exemplo é o grau de erotização aplicado ao visual de cantoras e cantores evangélicos. A motivação do marketing em nosso meio está marcada pela sedução e a qualidade, e isso, infelizmente, influenciou o mundo evangélico. Em vez de investirmos nos conceitos como santidade, integridade, espírito de servo, unção espiritual, caminhamos para técnicas de manipular emoções, palavras de ordem várias vezes repetidas, diferentes dinâmicas de envolver e cativar multidões, autoritarismo espiritual, chantagem espiritual, enfim toda sorte de técnicas de controle  e sedução.
 
            Mas, nós queremos com estes estudos recuperar modelos de liderança bíblicos e da história da Igreja, que nos ajudem a reconstruir modelos de liderança cristã que Deus quer e a Igreja precisa, começando pelo modelo de Jesus. Certamente, isso será também um processo de avaliação dos nossos estilos de liderança.
 
            Tomei como referência idéia de Bob Briner e Ray Pritchard no livro Lições de Liderança de Jesus, da editora United Press, sendo que temas e texto são exclusivamente minha criação, conforme o Espírito propôs ao meu coração.
 
 
1) João Batista: Um modelo de liderança
 
“Convém que ele cresça e que eu diminua”.  (Jo 3.30)
           
O testemunho de João Batista a respeito de Jesus mostra o que o profeta via em Jesus. João Batista vinha tendo um ministério exemplar, era reconhecido pelo povo, e pelas autoridades religiosas judaicas (cf. Jo 1.19-23), como homem de Deus. Poderia ter-se arvorado em ser muito mais, as multidões o seguiram, e bastava ele querer. Mas uma condição para liderar é ter clareza da obra que Deus nos confiou para fazer.
 
           Em função disso, ele sabia que o poder era de Deus, e o que lhe cabia era um papel transitório; ele não era o ator principal. “És tu o Cristo?” Pergunta tentadora, pois, afinal, o povo  buscava um Messias; ontem e hoje. Muitos líderes escorregam, porque desejam ser os atores principais, roubam para si a honra que pertence a Deus.
 
            Quantos estão dispostos a dizer: “...o qual vem após mim, do qual não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias.” (Jo 1.27), ou ainda a frase titulo: “Convém que Ele cresça e que eu diminua.” Isto se chama humildade, dependência de Deus.
 
            Deus, em Cristo, é a origem, a causa, e o fim do ministério do/a líder cristão; a vaidade, a necessidade de afirmação e de reconhecimento público são sentimentos incompatíveis com uma liderança cristã madura e eficaz.
 
            Não esquecer que temos nosso ministério (tesouro) como em vasos de barro, para que  a excelência do poder seja de Deus (cf. 2Co 4.7). Pode ser que Deus nos dê uma liderança ministerial de um mês; profetas anônimos foram levantados para entregar uma única mensagem (cf. 1Sm 2.27), outros tiveram uma liderança ministerial de anos, como  Elias, Isaías, etc... Em todos os casos, ao Senhor seja o louvor e a honra.
 
 
2) “Vi o Espírito descer do céu como pomba e pousar sobre ele.” (Jo 1.32)
 
            Quem vai fazer a obra de Deus, especialmente numa posição de liderança, precisa ter um chamado, ser vocacionado para esta obra. E este chamado precisa ser reconhecido pela Igreja.
 
            Estamos vivendo um tempo em que muitas pessoas estão querendo liderar; há um apelo na sociedade capitalista e consumista, o qual faz com que as pessoas não se satisfaçam com cantar no coral; muitos querem ser solista, e simplesmente não dá, afinal, se todos quiserem ser solista, vai ser difícil, a harmonia inspiradora de um coral vai ser quebrada.
 
            Por outro lado, há os que pensam bastar ter uma boa formação intelectual. Possuir todos os requisitos técnicos e racionais não fazem de uma pessoa um/a líder cristão.
 
            Nosso texto afirma o sentido da prioridade da habilitação por Deus, para o exercício de qualquer ministério, mas  quem vai liderar um rebanho, ou um ministério precisa ser levantado por Deus para essa obra. Nós já vivemos e sofremos com lideranças acentuadamente políticas, pessoas que exercem liderança como quem exerce um cargo: não há paixão, não há carisma, cumprem-se ordens, não há motivação, e por isso os frutos são raros.
 
            Paulo é um exemplo disso, no início como Fariseu, tinha até liderança, zelo e mesmo paixão, mas a serviço de um cargo e da causa errada. Tinha uma credencial dada pelo sumo-sacerdote; mas para quê? Perseguir a Deus (cf. At 9.4). Isso porque o Espírito Santo não estava sobre ele. Era preparado intelectualmente, mas não tinha a habilitação de Deus; até que teve um encontro com Jesus.
 
            A habilitação e o chamado de Deus são fundamentais para que o líder esteja certo de duas coisas: a) Qual a missão que Deus tem para ele realizar no Corpo de Cristo; b) E que está capacitado por Deus para a mesma, porque o Espírito Santo está sobre ele.
 
            Para João Batista e o povo, foi crescendo a convicção de que Jesus era o ungido de Deus, à vista dos frutos do seu ministério. Se somos chamados e habilitados por Deus, isso há de ficar visível. Vejam o testemunho de Jesus à pergunta feita pelos discípulos de João Batista: “Quando os homens chegaram junto dele, disseram: João Batista enviou-nos para te perguntar: És tu aquele que estava para vir, ou esperaremos outro? Naquela mesma hora, curou Jesus a muitos de moléstias e flagelos e de espíritos malignos; e deu vista a muitos cegos. Então, Jesus lhes respondeu: Ide, e anunciai a João o que vistes e ouvistes: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres anuncia-se-lhes o evangelho.”(Lucas 7. 20-22).
 
 
3) “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.” (Tg 4.6)
 
Deixem-me concluir com a observação vital para qualquer líder, em qualquer área da vida humana, mas especialmente na Igreja: Fuja da vaidade e do orgulho.
 
O orgulhoso depende de si mesmo, sua base é ele/ela mesmo(a). O humilde depende do Senhor, e d´Ele faz a sua rocha e segurança. O vaidoso necessita ser notado, pois lhe interessam os primeiros lugares, o destaque, o brilho. O servo humilde tem interesse em que sua vida aponte para Jesus; a glória é do Senhor, e depois de ter feito tudo afirma: “Convém que ele cresça e eu diminua” ou “Sou servo inútil.” Duro? Mas é isso que ensina a Palavra de Deus.
 
O primeiro grande sermão de Jesus começa com: “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.” (Mt 5.3). Por que Jesus iniciou sua vida numa manjedoura, viveu como carpinteiro e entrou em Jerusalém num jumentinho? Porque queria nos ensinar a valorizar a humildade, a dependência total de Deus. Humildade é aprendida como outras virtudes cristãs; especialmente numa sociedade que cultua as personalidades, a auto-suficiência, carecemos de aprender a sermos humildes e dependentes da graça de Deus.
 
“O orgulho o impelirá a buscar posição que julga merecer, em vez de levá-lo ao lugar que Deus escolheu para você”.[1]
 
Nós aprendemos a ser humildes, algumas vezes sendo humilhados, pois criamos expectativas de que vamos fazer, conseguir, sem consultar a Deus, sem contar com Ele, e os resultados nos deixam encabulados, humilhados. Mas aprendemos a ser humildes quando reconhecemos que somos pecadores, carentes da graça e do amor de Deus, quando reconhecemos quão precárias são nossas forças, e quão grande é o poder de Deus. Quando descobrimos que é somente Deus que “...a um abate, a outro exalta.” (Sl 75.7). A humildade em nossa vida cresce com a consciência e o espírito de servo; quanto mais amor e desejo de servir, mais humildes vamos nos tornando.
 
Paulo aprendeu isso numa caminhada de servo, até o ponto de dizer: “Então, ele me disse: A minha graça te basta porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza"
 
Bispo Paulo Tarso de Oliveira Lockmann
 
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[1] Wilkes, Gene – O Último Degrau da Liderança. São Paulo: Mundo Cristão. p. 57.o amigo Bispo Paulo Lockmann.

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