06/05/2008 – 08h00
CNBB leva ? C?mara dossi? sobre amea?as de morte a bispos e den?ncias de explora??o sexual infantil na Amaz?nia
Adriana Monteiro
Especial para o UOL
Em Bel?m
Explora??o sexual de crian?as e adolescentes, tr?fico de mulheres e amea?as de mortes a autores de den?ncias de abusos. A CNBB (Confedera??o Nacional dos Bispos do Brasil) leva hoje a uma audi?ncia na Comiss?o de Amaz?nia da C?mara dos Deputados um dossi? de aproximadamente 80 p?ginas em que cobra a??o das autoridades para a situa??o que considera grave, principalmente no Estado do Par?, onde tr?s bispos cat?licos foram amea?ados de morte.
A CNBB j? vinha tentando, com a ajuda de ?rg?os internacionais ligados aos direitos humanos, chamar aten??o de pol?ticos e da Justi?a brasileira para a explora??o sexual de crian?as e adolescentes na Ilha do Maraj? e outros munic?pios do Par?. Desde 2006, quando a exist?ncia de uma rede de explora??o de menores na regi?o com a participa??o de pol?ticos foi denunciada pelo bispo dom Jos? Luiz Azcona, da Prelazia do Maraj?, nenhum dos acusados de estupro ou aliciamento na ocasi?o foi indiciado judicialmente.
“Achamos at? que essa audi?ncia j? foi marcada por interfer?ncia de ?rg?os internacionais de direitos humanos”, declarou Orlanda Rodrigues Alves, secret?ria-executiva da CNBB no Par?, referindo-se ? audi?ncia que acontece na C?mara.
O dossi? que ser? apresentado hoje na C?mara j? foi recebido pela Anistia Internacional. Ele trata das amea?as de morte sofridas pelos bispos dom Jos? Luiz Azcona, dom Erwin Kr?utler (do Xingu), e dom Flavio Giovenale (de Abaetetuba). Constam do dossi? recortes de jornais (16 p?ginas), 16 cartas encaminhadas a ?rg?os p?blicos, entidades ligadas aos direitos humanos e ? governadora do Estado, Ana J?lia Carepa, al?m de 20 p?ginas de um relat?rio com perfil das 14 dioceses do Par? e 10 notas de solidariedade recebidas por populares.
“Queremos que essa audi?ncia em Bras?lia, pelo menos, traga alguma provid?ncia concreta para a situa??o em que vivem essas crian?as e adolescentes”, declarou Orlanda.
Rotina de amea?as
O bispo dom Jos? Luiz Azcona sofre amea?as constantes de morte na regi?o. Apesar disso, tem mantido a rotina de trabalho em Soure, onde mora. “Estou nas m?os de Deus”, afirma o religioso, que se recusou a receber seguran?a diferenciada oferecida pelo governo do Estado. “Ele est? irredut?vel em rela??o ?s den?ncias e diz que n?o ? o momento para pedir seguran?a pessoal. Ele sabe que as amea?as v?m por conta das graves den?ncias que tem feito e ? exatamente por isso que tem evitado falar com a imprensa. Ele confia em Deus para dar a seguran?a que ele precisa”, relatou Orlanda Alves.
H? duas semanas, Azcona voltou a denunciar a explora??o sexual nos munic?pios da Ilha do Maraj? e a aus?ncia de provid?ncias do Estado, o qual acusou de “omiss?o e ingovernabilidade”. Desde ent?o, passou a sofrer novas amea?as e tem evitado contatos com a imprensa. Na tentativa de entrevist?-lo, a reportagem teve de enviar documento formal ? CNBB no Par?, mas o bispo s? volta a se pronunciar ap?s a audi?ncia desta ter?a-feira.
J? o bispo dom Erwin Kr?utler tem lutado pelos direitos dos meninos emasculados no munic?pio de Altamira (oeste do Par?), caso que levou ? condena??o, em outubro de 2006, o mec?nico Francisco das Rodrigues de Brito, 41, a 20 anos e oito meses de pris?o pelo homic?dio e pela oculta??o do cad?ver de Jonatham Silva Vieira, 15. No julgamento, o r?u teve a pena reduzida em cerca de oito anos por ter sido considerado parcialmente respons?vel pelos crimes e por t?-los confessado. Brito era acusado de ter matado 42 meninos, entre 1989 e 2003, na regi?o de S?o Lu?s (MA) e em Altamira, no Par?, e retirado os ?rg?os sexuais da maioria deles. O caso ficou conhecido como os meninos emasculados do Maranh?o e de Altamira.
Dom Erwin tamb?m sofre amea?as por sua atua??o contra a forma como o governo do Estado executa a constru??o da Hidrel?trica de Belo Monte. Segundo ele, o empreendimento n?o apresentou estudos de impacto ambiental e social necess?rios para avaliar as condi?es socioecon?micas das fam?lias que moram no entorno do projeto. “O caso do dom Erwin ? bem mais complicado. Ele tem seguran?a refor?ada, porque sofre amea?as constantes de empres?rios e pol?ticos da regi?o sul do Estado”, disse Orlanda Alves.
Seis policiais militares se revezam na seguran?a dele, que ? monitorado em regime de 24 horas. “Ele vive prisioneiro dentro de casa. Os policiais ficam em frente ? casa, em frente ? porta do quarto dele, o acompanham nas celebra?es e em todo o lugar que ele anda no munic?pio de Xingu. Ele at? brinca dizendo que os policiais viraram os seus coroinhas. Na missa, pede que eles abaixem a arma para que possam orar. Quando ele viaja, agentes da pol?cia federal o esperam no aeroporto. Tem sido bastante dif?cil, mas necess?rio”, destacou a secret?ria.
Secretaria da Seguran?a
O secret?rio de Seguran?a P?blica do Estado, Geraldo Ara?jo, n?o quis se pronunciar sobre a quest?o. A assessoria de imprensa do ?rg?o afirmou que Ara?jo s? vai falar sobre o caso na audi?ncia marcada para esta ter?a-feira na C?mara. Informou ainda que a secretaria ofereceu seguran?a em n?veis diferentes aos tr?s religiosos e que apenas dom Erwin Kr?utler aceitou. De acordo com a assessoria, dom Erwin e outras 12 pessoas passam por situa??o semelhante no Estado (amea?a de morte, mas por diferentes motivos) e recebem seguran?a m?xima, com policiais militares dispon?veis 24 horas por dia morando na casa deles.
A identidade das outras 12 pessoas ? mantida em sigilo. Dom Luiz Azcona e dom Flavio Giovenale, ainda de acordo com a assessoria da Secretaria da Seguran?a, recusaram a seguran?a oferecida pelo Estado, mas, ainda assim, s?o monitorados por uma “seguran?a leve”, com rondas di?rias em torno da casa deles e em outros locais onde freq?entam. “Eles recusaram a seguran?a, mas o Estado tem obriga??o de garanti-la, como cidad?os que s?o”, afirmou Orlanda.
O temor da CNBB em rela??o ? seguran?a dos bispos aumentou depois da morte do agricultor Emival Barbosa Machado, 50 , que foi assassinado com tr?s tiros quando sa?a de casa, em Tucuru? (sul do Par?), no ?ltimo dia 14 de abril. Ele estava amea?ado de morte por ter denunciado a explora??o ilegal de madeira por empres?rios nas regi?es sul e sudeste do Estado.
Participam da audi?ncia na C?mara nesta ter?a o presidente da CNBB, dom Geraldo Lyrio Rocha, o secret?rio da Seguran?a do Par?, Geraldo Ara?jo, o secret?rio da Justi?a e da Seguran?a do Amap?, Aldo Alves Ferreira, o secret?rio da Seguran?a de Roraima, Cl?udio Lima de Souza, o diretor-geral da Pol?cia Federal, Luiz Fernando Corr?a, al?m dos tr?s bispos do Par? dom Jos? Lu?s Azcona, dom Flavio Giovenale e dom Erwin Kr?utler.
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