A prega??o do pastor Ricardo Gondim, no segundo dia do Encontro Nacional de Pastores e Pastoras Metodistas
O Bispo Stanley Moraes, secret?rio do Col?gio Episcopal, passa a palavra ao Rev Ricardo Gondim, pastor da Igreja Assembl?ia de Deus Betesda (? direita)
O esp?rito do Senhor Jeov? est? sobre mim: porque o Senhor me ungiu para pregar boas novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de cora??o, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de pris?o aos presos. A apregoar o ano aceit?vel do Senhor e o dia da vingan?a do nosso Deus; a consolar todos os tristes; a ordenar acerca dos tristes de Si?o que se lhes d? ornamento por cinza, ?leo de gozo por tristeza, vestido de louvor por esp?rito angustiado; a fim de que se chamem ?rvores de justi?a, planta??o do Senhor, para que ele seja glorificado. Isa?as 61.1-3
Esse texto de Isa?as foi a base da confer?ncia do pastor Ricardo Gondim no segundo dia do Encontro. Ele lembrou que, nos prim?rdios do s?culo 20, o protagonista da filosofia niilista Nietzsche gritou “Deus est? morto e n?s o matamos”. Contudo, entramos no s?culo 21 ouvindo an?nimos que gritam: "morreram os sonhos, morreu o Estado como promotor da justi?a, morreu a arte, a fam?lia, o ecossistema…"
Come?amos o s?culo 20 com o que comumente se chama de modernidade. Entramos no s?culo 21 com uma coisa esquisita que chamamos de p?s-modernidade. Os estudiosos sequer t?m um consenso sobre o que ? isso. Alguns dizem que a modernidade terminou com o muro de Berlim. Mas outros dizem que a p?s-modernidade ? a agudiza??o da modernidade.
O pastor destacou que modernidade n?o ? um per?odo da hist?ria, mas uma mentalidade, que se inaugura a partir de alguns eventos: grandes navega?es, Renascimento, Iluminismo, ci?ncia de Cop?rnico e Galileu, Reforma Protestante, Imprensa… “A modernidade ? um jeito de pensar, de organizar a vida, um per?odo em que a religi?o perde o seu dom?nio na cosmovis?o”. Nesses tempos p?s-modernos, n?o ? mais a religi?o que dita as normas da vida. A raz?o, o m?todo, a experi?ncia laboratorial ? a medida que afere a verdade. Deixamos de lado a vis?o teoc?ntrica, predomina a antropoc?ntrica, o homem e a mulher est?o no centro das aten?es.
A modernidade se fortalece na Revolu??o Francesa, na Revolu??o Industrial, no positivismo otimista que cr? no progresso, que acredita que as possibilidades do ser humano s?o infinitas; no marxismo que promete um para?so na terra, no capitalismo que promete a acessibilidade dos bens de consumo. Essas s?o as grandes avenidas da modernidade. S? que o para?so n?o se concretizou na terra e a modernidade come?ou a perder f?lego. “Se a modernidade produziu um Einstein, tamb?m produziu um Mengele. Se valorizou gente como Gandhi, Martin Luther King e Mandela, tamb?m trouxe Mussolini e Pinochet. Se teve Pavarotti, teve a morte tr?gica de Janis Joplin, a arte devassa de Madona e a caricaturiza??o do ser humano na figura de Michael Jackson. Se teve Madre Teresa de Calcut?, Henry Nowen e Oscar Romeiro, tamb?m teve um Jim Jones e Reverendo Moon”, disse Gondim.
Segundo o pastor, estamos na situa??o do goleiro que n?o sabe pra que lado ir quando a bola desvia no zagueiro. Estamos no contrap?. “A gente est? no meio do ar sem saber. N?o ? mais tempo de Jean Paul Sartre, mas de Paulo Coelho. N?o ? tempo de Guevara, mas de Putin. N?o se fala em Mandela, mas em Bush”.
Se a atitude era otimista na modernidade, na p?s ela ? no m?nimo c?nica. Acreditava-se que o Estado laico seria o ?rbitro das injusti?as sociais. Na p?s-modernidade, o Estado precisa ser enxugado, pois ? visto como lento e corromp?vel. Ocorreram guerras mundiais, o rio Tiet? se poluiu, aconteceu o acidente em Tchernobyl, abriu-se um buraco na camada de oz?nio. O que fazer? Essa ? a ang?stia do homem p?s-moderno.
Deus n?o morre como apregoa o fil?sofo, mas ressurge com for?a na explos?o pentecostal, nos fundamentalismos judaicos, crist?os e mu?ulmanos. lembrou o pastor. Assim, a p?s-modernidade imp?e desafios ? Igreja. O primeiro deles ? a “ideologia do mercado”. “Vivemos debaixo de uma lei que n?o ? divina, que regula todas as nossas institui?es sociais e comportamento”. Cria-se nova esp?cie de evolu??o tecnol?gica. Afirma-se que s? sobreviver?o os que tiverem uma conjuntura tecnol?gica. N?o h? espa?o para o pequeno no mundo neo-liberal.
Hoje ? o mundo do mais forte, e esse mundo j? est? na Igreja. O mercado domina as necessidades eclesi?sticas. Alugu?is s?o caros, ? necess?rio recursos para fazer miss?es e est? se exigindo dos nossos cultos tecnologia de ponta. “Tente ter uma igreja com pastor que n?o seja carism?tico”, disse Gondim, ressaltando que usava esse termo no sentido de pessoa multifacetada, perform?tica. “Na esquina h? um pastor ?vido por ter um rebanho. O mercado exerce press?o sobre o pastor, exigindo dele mensagens cada vez mais palat?veis. O mundo religioso ocidental vive uma ?poca de grande crise de conte?do. A maior parte do que se ouve no p?lpito n?o passa de clich?s e h? um empobrecimento das letras das m?sicas”.
Segundo Gondim, as igrejas evang?licas est?o se distanciando do protestantismo quando tiram o eixo da prega??o do Evangelho e colocam a ?nfase na b?n??o. Essa ? uma mensagem antropoc?ntrica. “Apregoa-se que Deus tem uma b?n??o para sua vida. Isso ? um desvio crasso da nossa heran?a protestante. O cerne do Evangelho ? a busca da justi?a, n?o ? b?n??o. A ?nfase ? proclamar a justi?a de Deus. Isa?as 61 diz `para que sejam carvalhos de justi?a`. Quantas vezes o pastor n?o inicia o culto perguntando Quem vem aqui em busca de b?n??o? Eu mesmo j? iniciei culto com essa pergunta. O que voc? espera de uma pergunta dessas?”
Gondim nos alertou que os pastores e pastoras s?o chamados(as) a ser carvalhos de justi?a. Contudo, as igrejas est?o se transformando em centros de neurolingu?stica com verniz evang?lico. “A B?blia diz: Buscai em primeiro lugar o seu Reino e a sua Justi?a. Por que aquele que quiser salvar a sua vida perde-la-?. A voc?s foi dado o privil?gio de sofrer por Cristo. Pastor n?o ? executivo, n?o ? marqueteiro, nem mercadejador de esperan?a. ? sacerdote do Deus Vivo, pregoeiro da Justi?a!”
Segundo o pregador, os pastores e pastoras precisam entender a press?o que est?o sofrendo do mercado. “Sofremos press?o do fundamentalismo, do legalismo e dos processos de recrudescimento dogm?tico”. E explica que, diante das incertezas, diante da vulnerabilidade, h? a perigosa tend?ncia de se resvalar para um pragmatismo que desconsidera os valores espirituais e ?ticos, para um utilitarismo que utiliza o racioc?nio do sucesso como padr?o — 'se minha Igreja est? lotada, se cresce, est? dando certo', diz essa perigosa forma de pensar. “Cemit?rio tamb?m cresce”, alertou Gondim.
Como exemplo, ele contou a hist?ria de um colega pastor, no interior de S?o Paulo, que pregava em sua igreja a “batalha espiritual”. Ele afirmava ter o poder de “degolar dem?nios”. A igreja lotou. Amigos tentaram demov?-lo da id?ia. Mas o fato ? que sua prega??o lotava a igreja… Segundo Gondim, a pergunta de pastores e pastoras deve ser: “isso gera a gl?ria de Deus ou gera uma comunidade infantilizada, que transfere para as camadas espirituais o que ? de nossa responsabilidade? “
Esse ? um momento cr?tico e desafiador. A proposta do fundamentalismo escatol?gico, do evangelho integral, do pacto de Lausanne foi atropelado pelo neo-pentecostalismo. Os pr?prios pentecostais est?o aturdidos pela teologia da prosperidade. Como resolver essa crise existencial, espiritual em meio a audit?rios lotados?
Muitas igrejas buscam a resposta na ora??o. Mas o problema ? como estamos orando, alertou o pastor. Muitas das ora?es que fazemos s?o barganhas ou ordens dadas a Deus. Existe uma resposta legalista: n?o deixar o mundo entrar. Essas igrejas se fecham “ao mundo”, criticam o jovem que ouve uma m?sica secular, restringem a vida ao ambiente eclesi?stico. Existe uma resposta dogm?tica: precisamos de uma nova Reforma! “Mas qual delas? A de Lutero? Calvino? Voltamos ao puritanismo ingl?s? Estamos em outra ?poca. ? como querer ter cabelo de volta…”, disse ele. “Existe ainda uma resposta pragm?tica, de influ?ncia americana: a Igreja com Prop?sito, o G-12, colocar power-point no culto, reformar o banheiro, melhorar o estacionamento, colocar mais figurinha na revista de Escola Dominical. Estamos embarcando nisso!”
Somos chamados n?o para elaborar exaustivamente uma resposta para o tempo em que vivemos, mas para alertar que esse paradigma n?o responde mais. Precisamos quebrar o paradigma do Deus intervencionista nos ambientes religiosos, do milagre de Deus restrito aos membros da igreja, disse ele, lembrando que a Gra?a de Deus ? para todas as pessoas. Ele listou v?rios locais que carecem de vida, de cuidados, de amor: Gab?o, Angola, favelas do Rio de Janeiro… “Por que os evangelistas n?o v?o para a fila do ambulat?rio curar os doentes de dengue? A dor do mundo nos a?oita. N?o posso prometer celular novo a um membro da igreja diante dessa situa??o. N?o posso dizer: Deus vai abrir uma porta de emprego em sua vida. Como posso dizer que Deus vai abrir uma porta de emprego ao crente? Deus colocaria o curr?culo do crente acima dos demais? Isso n?o seria pistol?o? Detestamos quando um pol?tico faz isso e vamos pedir esse privil?gio a Deus?? com pol?tica econ?mica, educa??o e justi?a social que se abrem portas de emprego”.
Gondim lembrou que as igrejas crist?s n?o est?o num concurso de crescimento: “Voc? foi chamado para ser fiel, n?o para dar certo. Temos que devolver a Deus o centro da nossa prega??o. Religi?o n?o existe para te fazer bem. O que est? em jogo n?o ? nossa felicidade, nosso bem estar, mas como n?s entendemos a gl?ria de Deus. Prega-se que Deus est? a servi?o do ser humano. Os pregadores perguntam O que Deus pode fazer por voc?. Esse ? um desvio da mentalidade crist? do primeiro s?culo”.
As pessoas passam a amar a Deus por aquilo que ele d?, n?o pelo que Ele ?. Esse ? o problema de se pregar antropocentricamente.
Segundo Ricardo Gondim os pregadores de hoje t?m dificuldades em pregar o evangelho para pessoas que sentem que a religi?o n?o faz sentido na vida delas. H? pessoas que sentem n?o “precisar de Jesus”, enquanto outras buscam a Igreja apenas para satisfa??o de suas necessidades pessoais. Contudo, o papel da Igreja n?o ? pregar satisfa??o ?s pessoas, mas anunciar o nome Santo do Senhor Jesus, o seu Reino e a sua Justi?a. “N?o importa se voc? precisa ou n?o. Eu vim anunciar um Deus maravilhoso, que ? Jesus de Nazar?”
“Precisamos voltar a conhecer Deus n?o por aquilo que ele nos d?, mas pelo que Ele ?“. Lembrando do texto de J?, ele disse que os sofrimentos impostos a J? tinham uma raz?o clara: insultar a Deus. O insulto de Satan?s foi: tu compras o amor de J?, ele n?o te serve de gra?a“.
Ao finalizar a sua palestra, Ricardo Gondim convidou todas as pessoas a se perguntar: “Qual ? base do nosso amor a Deus?”. O amor de J? n?o estava baseado no que Deus lhe dava. No cap?tulo 19, em meio ao seu sofrimento, ele faz uma das mais belas proclama?es de f? da B?blia: “Contudo, eu sei que meu Redentor vive.”
VEJA TAMB?M:
A programa??o do primeiro dia do Encontro.
A prepara??o do evento e a chegada das delega?es.