Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

EECSN Jorge Domingues

A cara da mãe: a Igreja Metodista no Brasil e sua herança norte-americana

No dia 2 de setembro de 1930, a Igreja Metodista no Brasil conquistou sua autonomia, desligando-se da Igreja Metodista Episcopal do Sul, que dirigia a atividade missionária no país desde o ano de 1867, a partir da vinda de imigrantes do sul dos Estados Unidos. Mas as igrejas os dois países sempre mantiveram estreitos laços de relacionamento e cooperação. Essa parceria é bem exemplificada na figura do Rev. Jorge Luiz Domingues, secretário geral associado da Junta Geral de Ministérios Globais, que responde por três departamentos: "Relações e Contextos de Missão" , "Evangelização e Crescimento da Igreja" e"Educação para a Missão". O Rev. Jorge Luiz é brasileiro; presbítero da 1ª Região Eclesiástica, e foi para os Estados Unidos há quase 11 anos, para trabalhar na Secretaria da Juventude. Ele costuma dizer que não planejava ficar tanto tempo, mas, humildemente, buscou cumprir os planos de Deus para sua vida e hoje, faz esta "ponte" entre metodistas do continente americano. Na primeira etapa do 18º Concílio Geral da Igreja Metodista Jorge participou como convidado, representando Ministérios Globais. Mas já voltou aos Estados Unidos, levando consigo o coração cheio de saudade.

Qual a importância de um representante da Junta de Ministérios Globais participar de um Concílio Geral da Igreja Metodista no Brasil?

 É uma oportunidade para a Junta conhecer quais as ênfases missionárias da Igreja Metodista no Brasil, e para que possamos também indicar em quais áreas de trabalho podemos cooperar e assim ajudar uns aos outros. Nos últimos dez anos, isso tem acontecido de diferentes formas. Mesmo quando os recursos financeiros de Ministérios Globais diminuíram, projetos comuns de trabalho foram estabelecidos nas áreas de capacitação, evangelização, atendimento médico e social, e não somente aqui, mas também em outros países, e até mesmo nos Estados Unidos, com o surgimento do ministério brasileiro, em 1997.

O que é o ministério brasileiro nos Estados Unidos?

A Igreja Metodista Unida sensibilizou-se com o crescimento da comunidade hispânica, e criou o Plano Nacional de Ministérios Hispânicos - PNMH, em 1992, em sua Conferência Geral, para apoiar a evangelização e o estabelecimento de novas igrejas e de novos serviços para a população hispânica (de idioma espanhol). Entretanto, desde o surgimento dos ministérios brasileiros, levantou-se a questão: como os brasileiros integram-se na comunidade hispânica? A cultura e a língua são diferentes, mas, no fundo, todos chegam nos EUA no "mesmo trem" que traz todos os latino-americanos: compartilham a mesma angústia e a descoberta de que ser "brasileiro" nos EUA não significa nada, mas ser "latino" significa fazer parte de uma comunidade. Assim, foi encaminhada nova proposta ao Comitê Nacional do Plano para modificar o seu título e o conceito do público alvo, a fim de incorporar todos os povos provenientes da América Latina, passando a chamar-se Plano Nacional de Ministérios Hispano-Latinos, desde 2005.

Além da cooperação mútua em projetos, o que os metodistas do Brasil e Estados Unidos podem ganhar deste relacionamento?

A relação histórica entre a Junta e a Igreja Metodista no Brasil pode explicar muitas questões que ambas enfrentam. Por exemplo, existem mais semelhanças entre o metodismo norte-americano e o brasileiro do que reconhecemos - é mais fácil olhar para o metodismo inglês do século XVIII e discutir a identidade metodista baseada naquela experiência, do que olhar para a experiência norte-americana do século XIX e descobrir que somos filhos dela, que somos filhos da experiência do sul dos EUA depois da Guerra de Secessão, por meio dos missionários e membros metodistas que tinham sido derrotados na guerra civil. Esse fato implica toda uma história de como nos organizamos, de como nos relacionamos e das dificuldades que temos para lidar com os temas da diferença, do racismo, da desigualdade - e é nessa história que precisamos descobrir que a Igreja reencontrou o seu caminho de reconciliação, de ser novamente uma igreja relevante naquele contexto. Mas, muitas vezes, não queremos enfrentar o fato! Valorizamos a herança do pai e esquecemos a da mãe...

Mas, ainda hoje, a Igreja nos Estados Unidos enfrenta alguns impasses sociais, como a presença de imigrantes ilegais ou o fato de haver um presidente que comanda ações de guerra. Como ela tem lidado com estes fatos?

Sobre a ação militar dos Estados Unidos, é importante dizer que hoje a maioria da população americana a questiona e há muitos protestos nos EUA, mas eles nunca aparecem na TV. A Igreja Metodista Unida tem uma posição clara contra a guerra e tem comunicado isso ao governo e à sociedade americana. No entanto, o mundo olha os EUA pela tela da TV, do noticiário ou dos filmes. Então, fica fácil esquecer que o Império Norte-Americano não é composto só do Imperador. E é por isso que a mudança da lei de imigração no ano passado chamou a atenção. Hoje, são 42 milhões de hispanos vivendo nos EUA. O mundo inteiro se deu conta de que existe gente se organizando. Este é o grande desafio de hoje para compreender a relação com os EUA. É muito fácil demonizar o poder do Bush - e é um poder que precisa ser denunciado também pela população norte-americana, que precisa ser despertada para esse mundo dos imigrantes que lá estão entrando. Mas este também é um desafio para a Igreja Metodista no Brasil, em parceria com a igreja norte-americana. Os missionários brasileiros que foram aos Estados Unidos descobriram uma enorme missão: ministrar para uma comunidade que já não tem perspectiva de voltar do exílio.

A experiência da imigração de cada comunidade é marcada de uma forma diferente. A ilegalidade é igual, mas a forma de integração se dá por etnias. Cada grupo cria comunidades distintas, mas estão lá há tempos. E os brasileiros são novos, chegando a partir da década de 80, com a crise econômica, e aumentando nos anos 90. Hoje, o grande desafio é o ministério com essa população flutuante que, agora, procura raízes.

Suzel Tunes


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