Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 09/02/2012

Igreja e educação: dois relatos históricos

É bom olhar para o passado e lembrar que a presença e a ação da igreja cristã contribuíram (e contribuem) muito para os avanços educacionais e a transformação social. O historiador Alderi Souza de Matos diz que “a necessidade do estudo da Escritura, o princípio do sacerdócio de todos os fieis e a convicção de que Deus deve ser honrado mediante o cultivo intelectual levaram os reformadores a incentivar a criação de escolas”.

Já o pastor Manfred Grellert lembra que “o que mais marcou o Segundo Grande Avivamento no século 19, junto com uma poderosa proclamação do evangelho, foi o surgimento de numerosas ‘sociedades voluntárias evangélicas interdenominacionais’, como sociedades missionárias, de produção de literatura, de promoção de Escolas Dominicais, de reforma moral, e aquelas que buscavam a reforma da sociedade, lutando com assuntos como temperança, paz e abolição da escravatura”. 
 
Há inúmeras teses e informações sobre o assunto, mas neste espaço queremos relatar somente dois acontecimentos de extrema importância histórica: um é a origem das escolas dominicais em Gloucester, uma cidade próxima de Londres, Inglaterra, em 1780. A ideia inicial do filantropo Robert Raikes era tanto cuidar da educação secular quanto transmitir conhecimento cristão especialmente para crianças pobres.
 
O segundo acontecimento foi a realização, em plena década de 30, no Rio de Janeiro, da XI Convenção Mundial das Escolas Dominicais, com quase 2 mil pessoas. Este fato incrível para uma época em que a igreja evangélica ainda era pequena no Brasil mostra a força do trabalho educacional das igrejas protestantes no mundo.
 
É verdade; os tempos são outros, e o século 21 traz novos problemas e desafios para a educação numa sociedade secular e pós-moderna. No entanto, estes dois registros históricos mostram que Deus capacitou e ainda capacita a igreja cristã para exercer o seu papel no mundo, não somente gerando transformações espirituais, mas também mudanças sociais. Ambos os efeitos estão essencialmente interligados.
 
 
Escola Dominical - Sua origem é na missão integral, na Inglaterra, 1780. A Revolução Industrial acha-se em processo. A primeira máquina movida a vapor foi patenteada por James Watt há onze anos. A transformação traz sérios problemas socioeconômicos, com implicações morais e religiosas. Há muitos crimes. Bebe-se como nunca. Os divertimentos populares são grosseiros. Não há instrução. As leis são aplicadas de modo brutal. As prisões são antros de doenças e iniqüidades. A miséria das classes pobres é alarmante.
 
Vamos agora a Gloucester, uma cidade não muito distante de Londres, à rua Sonthgate. Aquela casa de três andares e três sótãos, à esquerda, é a residência do jornalista e filantropo Robert Raikes. Ele é proprietário do Gloucester Journal, fundado por seu pai há 68 anos. Este homem de 44 anos vem se preocupando muito com a situação moral e espiritual do país. Observou que a ignorância tem sido uma das principais causas do crime. Há em Gloucester uma fábrica de alfinetes que oferece emprego para muita gente, especialmente crianças (o que hoje, felizmente, não acontece mais). Só não se trabalha aos domingos.
 
Com estas observações na cabeça, Raikes teve a brilhante idéia de organizar uma escola dominical. Mas esta escola não cuidaria apenas da educação secular. Ela daria ênfase à educação religiosa e teria a Bíblia como livro-texto. Assim muitas crianças pobres receberiam educação que as desviariam do vício e do crime.
 
A escola dominical de Robert Raikes começou em 20 de julho de 1780 e a idéia se espalhou com incrível velocidade. João Wesley deu total apoio ao movimento. Em 1875 organizou-se em Londres a Sociedade para Promoção das Escolas Dominicais nos Domínios Britânicos. No ano seguinte havia 200 mil crianças matriculadas.
 
No Brasil, a primeira Escola Dominical nasceu em Petrópolis, RJ, no dia 19 de agosto de 1855, na casa do médico e missionário metodista Robert Reid Kalley. Neste dia havia cinco crianças presentes, e a esposa, Sarah Kalley, contou a história de Jonas.
 
Como os problemas sociais e morais de hoje não são muito diferentes dos problemas de dois séculos atrás, vale a pena resgatar um pouco do cunho social que deu origem à nossa Escola Dominical.
 
Fonte: Revista Mãos Dadas nº 6 (julho/2003)


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