Publicado por José Geraldo Magalhães em Expositor Cristão - 04/06/2014

Meio ambiente: papel intransferível da Igreja

 
fonte: Pr. Levy da Costa Bastos / 
Coord. do curso de Teologia no Instituto Bennett
 
 
Mesmo quem não mora na cidade de São Paulo/SP, sente-se também preocupado/a com a diminuição contínua dos níveis de água dos reservatórios que abastecem a maior cidade brasileira. Não é somente o risco de racionamento que perturba a muitos de nós, mas acima de tudo, as causas da falta de água. Já que estamos falando de fenômenos climáticos, por que não mencionar a onda de calor que vivenciamos no verão passado? Combinaram-se o calor extremo com a falta d’água e a nossa vida se viu ameaçada. Agora, estamos todos antevendo os efeitos danosos que isso poderá causar ao longo do ano, não somente para a vida urbana, mas também para as plantações que dependem de um ciclo regular de oferecimento de água. 
 
É por essa e por outras razões, que o tema do meio ambiente tornou-se agenda intransferível para todos/as os/as que têm sensibilidade e cuidado para com a criação de Deus. Para nós que estamos preocupados/as com os gemidos da criação, que aguardamos ansiosos/as uma reação cuidadora e curativa dos filhos e filhas de Deus. A criação de Deus espera mesmo uma atitude responsável de cada crente em Cristo. Desses/as, se espera uma maior participação como cooperadores/as de Deus, na grande obra de redenção do mundo. Isto é o que fundamenta toda teologia da criação, que se inspire na Palavra de Deus, que se anseie expressar a mais autêntica das formas de espiritualidade: a espiritualidade que não separe o templo onde se cultua a Deus do mundo e de sua criação (Jo 3.16).
 
Co-criadores/as com Deus A criação está aí como um presente de Deus a todos/as nós. Pessoas que orientam suas vidas pela Palavra de Deus, sentem-se chamadas a atuarem no mundo como co-participantes deste processo divino de criação continuada. Somos então, criaturas co-criadoras. O ser humano é vocacionado a intervir na história humana e na criação, tornando-se partícipe do agir divino, do mover de Deus. A criação está sendo renovada a todo momento por Deus. Ela ainda não encontrou seu ponto definitivo (Fp 3.14ss). Todo momento é, portanto, uma oportunidade para refazer-se o que se perdeu, recriar o que se destruiu e dar vida nova ao que está sob risco de extinção e morte. 
 
A palavra criadora de Deus é um acontecimento que nunca se esgota. Tudo na criação está direcionado e aberto para o futuro de Deus. Isso equivale a dizer que alguém que foi redimido pelo amor de Cristo não pode fazer de sua vida um ato de resignação ante aos fatos, mesmo os mais assutadores. Ao contrário disso, os filhos e filhas de Deus sentem-se continuamente inspirados/as, no poder do Espírito, a se inserirem transformadoramente no mundo visando a contribuir para a transformação da obra de Deus. O relato da criação do Gênesis nos permite constatar que a pessoa humana deve postar-se ante a criação como um semelhante seu, que experimenta um processo de contínua transformação. 
 
A interpelação que a Palavra de Deus faz aos/às crentes em Cristo é para que eles/as, uma vez tendo reconhecido sua condição de criaturas “co-criadoras”, engajem-se na missão divina (missio Dei). A fé em Deus convoca a todos/as os/as que têm um mínimo de sensibilidade frente às questões ambientais, a elaborarem uma palavra e atitude críticas ao modelo de desenvolvimento ado­tado em nosso mundo. 
Esse modelo expressa-se mais perigoso à vida nas nações ricas onde se instalou há muitas décadas um avançado processo de industrialização. Nesses países, adotou-
 
se um padrão de utilização dos recursos energéticos incompatível com sua evidente esgotabilidade. Mesmo uma observação menos rigorosa permite constatar que, o padrão de vida das nações ricas não pode ser estendido às demais nações sem levar a terra à bancarrota. Isso não deve ser entendido como um salvo-conduto ou isenção para as nações pobres, as quais, em decorrência de sua relação de dependência diante das mais ricas, acabam por reproduzir em escala diferenciada, mas igualmente danosa, a destruição da natureza. 
 
A única alternativa ecológica para a sociedade moderna é a adoção de uma forma nova de relacionamento com a natureza e, em consequência disso, a elaboração de uma nova maneira de servir-se dos recursos oferecidos pela mesma. Uma tal mudança de mentalidade pressupõe, necessariamente, a superação do ideal de aniquilação da vida presente de forma latente ou explícita na civilização técnico industrial. A natureza não pode ser vista como um objeto sem vida, sobre o qual o homem e a mulher se debrucem no intento de esquadrinhar a sua estrutura mais íntima para, a partir daí, exercer absoluto domínio. 
 
O que se requer, todavia, é que a natureza seja reconhecida e interpretada como criação de Deus, como um espaço no qual o ser-humano se realize em parceria com a natureza. Quando o ser-humano conhece a natureza como criação de Deus, passa a ter comunhão com a mesma e não a querer explorá-la predatoriamente, vendo nela parte integrante de si mesmo. Assim, os homens e mulheres desenvolvem uma relação de permuta dando de si e recebendo da natureza. 
 
A natureza é como um espelho revelatório da glória de Deus (Sl 8.3-9; Rm 1.18-20). Nela, o Deus Trino se deixa conhecer a Seus filhos e filhas, dando testemunho de Seu eterno poder e misericórdia. Na criação, Deus não responde às perguntas da curiosidade humana, mas sim, dá um sentido para a condução da vida. Não importa pois saber quando ou como Deus criou céus e terra, mas sim, com qual motivação Ele o fez. 
 
Os/as que veem na criação a ação amorosa divina, a esses/as foi pois revelado o seu sentido mais profundo. Somente aqueles/as que podem ver a natureza como criação de Deus é que podem ver os “vestígios” de Deus no mundo atual. Esses/as, sim, são os/as amigos/as de Deus. 
 
LEIA A EDIÇÃO DO EXPOSITOR CRISTÃO DE JUNHO NA ÍNTEGRA!
 

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