mensagens de Natal 2009






  “E deu ? luz a seu filho primog?nito, e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura, porque n?o havia lugar para eles na estalagem” (Lucas 2.7)




Deus evoca a surpresa, a novidade, a contradi??o. Nas p?ginas do Novo Testamento nota-se um fato: "e n?o havia lugar para o criador de todos os lugares". N?o havia espa?o para o mantenedor de todos os espa?os. O Verbo Divino, contrariando todas as l?gicas, armou sua tenda e montou acampamento entre n?s. As raposas possuem covis. As aves do c?u, ninhos. Mas o Filho do homem n?o tinha aonde reclinar a cabe?a.


N?o h? nada mais terr?vel, mais dilacerante, mais angustiante, do que pertencer ao lugar dos que n?o t?m nenhum lugar.


Drama vivido por crian?as e adolescentes nos abrigos e orfanatos. Todos os la?os de pertencimento e de afetividade, nestes lugares, foram cortados. Eles n?o pertencem a nada e a ningu?m. N?o possuem uma rede afetiva, social e psicol?gica em que possam estabelecer as bases de sua identidade pessoal e comunit?ria. N?o possuem o pleno dom?nio de sua cidadania.


Seres errantes, n?mades, itinerantes. Ovelhas desgarradas de seu leg?timo pastor. Falta ao mundo uma dose de pertencimento. Os "n?s" afetivos, relacionais, espirituais, est?o afrouxados. H? mais comprometimento com o "ter" do que com o "ser" de um modo geral.


A falta desse componente assemelha-se a um corpo que n?o det?m a posse final de sua alma. ? como uma alma expropriada do seu pr?prio corpo. Ser estranho ao ser. Inquilinos que recebem precocemente a ordem de despejo. Seres que s?o e, ao mesmo tempo, por aus?ncia de espa?o, de ligadura social e de afeto, nada s?o.


Pobres corpos. Corpos desalmados. Esp?ritos descorporificados. Desespacializados. Desenraizados de sua pr?pria feitura e condi??o. Corpos que nascem sem territ?rio necessitam conquistar seus pr?prios lotes, a fim de que n?o se tornem m?seros ambulantes.


Faz mais de dois mil?nios, numa terra long?nqua, amea?ada e demarcada pela ambi??o dos poderosos, que a presen?a do filho de Deus foi submetida a esse mesmo princ?pio de orfandade. Mesmo que n?o se tratasse de uma orfandade familiar, a orfandade do Menino-Deus caracterizou-se pela falta de um l?cus social e espiritual, a propiciar o aparecimento da vida.


Os espa?os que lhe poderiam servir de abrigo, ?s proximidades da gruta de Bel?m, estavam completamente abarrotados. Com tantas casas, com tantos abrigos, com tantas hospedagens, inexistia lugar para o surgimento de Deus na dimens?o da vida. Desde seu nascedouro a vida do Deus-Menino foi marcada pelo signo do abandono, da rejei??o e da indiferen?a. Naquele mundo, havia lugar para tudo, para todos, menos para o mais importante.


Lembro-me de um outro caso, n?o muito distinto desse, no qual uma mulher sofria pela car?ncia de espa?os. Era uma colecionadora de sofrimentos. Ela n?o detinha a posse efetiva de seu pr?prio territ?rio. H? sofrimentos que deixam marcas irremov?veis na alma humana, daquelas que nenhum cirurgi?o ? capaz de remover e apagar, dado sua profundidade e complexidade.


Fora educada para cuidar da casa, dos filhos, do marido, como muitas mulheres em nosso pa?s foram treinadas. Certo dia resolveu aderir a uma comunidade religiosa e servir a Deus. Servir a Deus tornou-se, para ela, um verdadeiro calv?rio. As persegui?es e emboscadas foram muitas e se intensificaram com o tempo.


Bebia a ta?a amarga do sofrimento, dia ap?s dia, em doses cavalares. Mesmo assim ia com freq??ncia aos cultos religiosos, tentando buscar for?as para superar as dificuldades de uma vida matrimonial conturbada.


Fora agraciada com uma beleza ?mpar. Pr?pria da juventude de seu tempo. Mas n?o podia exibi-la como um trof?u, como o fazem a maioria das mulheres. Tinha que ocultar as partes que punham em evid?ncia seus atributos naturais. Seu dote est?tico era sua sina e tamb?m sua maldi??o.


Ele sofria de um ci?me possessivo e doentio por ela. V?rias vezes a destratou e a humilhou publicamente. Ela passou a sofrer abusos f?sicos e psicol?gicos, quase diariamente.


O lugar em que ela vivia tornou-se um lugar rarefeito, um n?o-lugar. Um espa?o opressivo, maligno, infernal. Vivia num lugar destitu?do de sentido, de beleza, de harmonia, j? que se tratava de um territ?rio violento e hostil. Foi condenada a residir na casa do medo ininterruptamente.


Naquele ambiente n?o sentia-se segura, protegida, amada, respeitada. Vivia num c?rcere privado, tornando-se ref?m do homem que prometeu am?-la para sempre. O amor logo virou doen?a. Quem ama cuida e cria para a liberdade, jamais para o cativeiro e sepultamento da liberdade.


N?o conseguia desligar-se fisicamente dele. O lugar de sua subjetividade havia sido completamente dominado. Estava presa por fora e aguilhoada por dentro. N?o era mais dona de si mesma, do seu corpo, de seu desejo. Vivia sob o regime do medo, equivalente ao sistema da escravid?o. Era uma coisa. Uma posse. Objeto nas m?os do agressor. Sua vida foi reificada.


Um semi-corpo. Um quase-corpo. Um corpo sem corpo. O marido, ao contr?rio, senhor e dominador. Possu?a todas as chaves de sua pris?o. N?o havia lugar para o afeto, para o respeito, para o di?logo na vida daquela mulher.


Bem sei que Deus irrompe na inquietude, no abandono e no inusitado. Quando menos imaginamos, ele organiza o caos, possibilitando a cria??o de "novos lugares". Principalmente, nos mais sombrios e amea?ados. Nesses espa?os ele estabelece sua morada e irradia sua presen?a contagiante. Deus mesmo ? capaz de fazer brotar a novidade e renascer a vida.


Basta que se abram as janelas da exist?ncia, enferrujada e endurecida pela falta de uso, para que Deus manifeste a luz verdadeira de Cristo em nossa vida. Deus passou por ali. Adentrou os espa?os habitados por aquela "fam?lia". E no cora??o daquele homem, n?o havia lugar para Ele. Cristo esteve aqui. Pediu licen?a para entrar: "eis que estou ? porta e bato". Ainda assim, n?o havia lugar e espa?o para Ele.


Rev. Jesus Tavernard J?nior


Agente de Pastoral do IEP



Ora??o


Como d?i essa dor que d?i em mim. Dor solit?ria, feita e refeita infinitas vezes. Como ? dif?cil remover o irremov?vel. Mover-se e habitar os espa?os vazios.


Espa?o n?o configurado, fraturado, conquistado. Demarcado pela aus?ncia do eu, assaltado pela presen?a do outro.


Lugar esquecido, abandonado, assombrado. Um n?o-lugar. Lugar de viol?ncia, de explora??o, de maus tratos, submiss?o. Minha prece outra coisa n?o quer, apenas vida, liberta??o, respira??o.


Espa?os que quero esquecer, abandonar, refazer. Pode surgir um lugar de um n?o-lugar? Tu podes todas as coisas em mim. Em Ti, posso todas as coisas, se o Senhor me fortalecer. Assombro-me com tua presen?a, sempre Maravilhosa e Contagiante, Tu que visitas at? os espa?os inabitados.


Vem morar em mim, ? pequeno e grande Deus-Menino. Meu cora??o anseia por uma nova terra. Vem e estabelece as bases da tua estalagem. Ela haver? de converter-se, pela for?a de Tua interpela??o, numa confort?vel manjedoura. Sou ovelha desgarrada, retirante, andante. Sem prado pr?prio pra pastar, sou obrigado a comer coisas das quais n?o tenho paladar. Sou peregrino numa terra estranha, repleta de senhores, vil?es e donos.




VEJA TAMB?M


Natal inspira plena submiss?o: texto Rev. Ivam Pereira Barbosa (Redator do IR – Informativo Regional da 5? RE)


 


 


 



 

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