Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Ministério público convoca igrejas

Respeito ao Indígena:

Ministério Público do Mato Grosso do Sul notifica igrejas

Igrejas que atuam em aldeias indígenas em Dourados, MS, comprometem-se a respeitar a cultura local e a liberdade religiosa das comunidades

As igrejas que atuam em aldeias indígenas na região de Dourados, Mato Grosso do Sul, incluindo a Missão Metodista Tapeporã, foram convocadas a comparecer no dia 5 de maio, a uma audiência na promotoria de Justiça. As autoridades estão preocupadas com casos de desrespeito à cultura e religião indígenas relatados pela imprensa (veja reportagem abaixo).

As igrejas da região assinaram um "Termo de Ajustamento de Conduta", no qual se comprometem a respeitar a liberdade cultural indígena, capacitar as pessoas que atuam nas aldeias e limitar os níveis de emissão sonora nos eventos realizados nas comunidades locais.

CLIQUE AQUI PARA VER o Termo de Ajustamento de Conduta e os compromissos firmados pelas Igrejas.

LEIA, a seguir, reportagem da Agência Estado sobre a questão:

Cresce conflito entre guaranis e evangélicos No MS, pastores estariam convertendo índios e obrigando-os a se afastar da origem.

Mato Grosso do Sul

Aleluia! Jesus, derrama seu poder! Glória a Deus! Amém!' No início da noite, os gritos ressoam pela reserva dos índios guaranis, na periferia de Dourados, em Mato Grosso do Sul. Saem de pequenas, modestíssimas igrejas, erguidas ao longo dos estreitos caminhos de terra da reserva.

Há muitas delas por ali. São tantas que, às vezes, no intervalo dos clamores dos fiéis, é possível ouvir os gritos vindos da igreja ao lado. Mas mesmo assim não param de se multiplicar. É possível perceber esse movimento pelos vários templos em construção. Mesmo sem teto, com tijolos aparentes e à luz de velas, eles já operam.

Pelas contas de um dos líderes indígenas do lugar, o guarani-caiuá Getúlio de Oliveira, já chega a 36 o número de igrejas evangélicas plantadas naquela reserva - uma área de 3,4 mil hectares, na qual ficam as aldeias Jaguapiru e Bororó e vivem 12 mil almas. Se o líder estiver certo, há uma igreja para cada grupo de 330 índios.

Quase todas elas se filiam a correntes pentecostais, com vários nomes: Deus É Amor - Pronto Socorro de Jesus, Igreja Pentecostal Indígena, Casa da Bênção, Congregação Maranata, Congregação Betel e outras. Até a Igreja da Unificação, do coreano Sun Myung Moon, que não venera Cristo e é dono de fazendas no Estado, tem feito incursões na área.

A invasão não é nova. Os guaranis convivem com evangélicos desde 1928, quando uma missão presbiteriana, chefiada por um pastor americano, se instalou no meio deles e está lá até hoje. A novidade é o surgimento de uma crescente tensão entre líderes pentecostais e guaranis.

Nos últimos dias, o escritório da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Dourados recebeu a visita de duas delegações indígenas, as duas com reclamos contra os evangélicos. Eles contaram à chefe do escritório, a assistente social Margarida Nicoletti, que os pastores estão elevando o tom dos ataques aos cultos indígenas; e que cinco de suas casas de reza foram misteriosamente incendiadas.

O pior, na opinião deles, é que os evangélicos estão se voltando agora para Panambizinho - outra reserva, a 18 quilômetros de Dourados, tida como um dos últimos redutos preservados da espiritualidade guarani. Seu principal líder religioso - o nhanderu, na linguagem guarani - estaria sendo acusado por obreiros da Igreja Deus É Amor de ser um enviado de Satanás.

DEMONIZAÇÃO

O caiuá Getúlio de Oliveira, que além de chefe de clã familiar, também é nhanderu, conta que o ataque dos pastores inicia com a demonização do culto indígena. 'O pastor discrimina nós', conta, depois de desligar o celular e alisar uma pulseira de contas herdada do bisavô. 'Diz que nosso trabalho, nossa reza, nossa dança, é anhá - coisa ruim, do demônio. O urucum, que nós usa no rosto, ele diz que é bosta do rabudo, do Satanás.'

Outra tática dos pastores é afastar os fiéis dos ritos culturais indígenas: 'Não deixa o índio ir em festa, faz ele ter vergonha da nossa tradição.' Depois de convertidos, os homens guaranis raspam a cabeça, passam a vestir camisa de manga comprida, calça social e sapatos; e começam a se preocupar com o pagamento do dízimo às igrejas. As mulheres deixam o cabelo crescer e aumentam o comprimento das saias.

De acordo com o antropólogo Levi Pereira, professor da Universidade Federal da Grande Dourados e estudioso da cultura guarani, os índios convertidos são estimulados a interagir apenas entre eles: 'Até nas escolas, as crianças de pais pentecostais tendem a excluir e demonizar os filhos de rezadores indígenas.'

O avanço pentecostal, na opinião do antropólogo, pode ter efeitos dramáticos: 'Esse avanço ocorre diante de uma população fragilizada e encurralada em termos culturais, lingüísticos, geográficos. Por suas práticas demonizantes, pela intolerância e a desproporção de forças, o pentecostalismo pode ser o golpe de misericórdia no etnocídio a que estamos assistindo.'

Na Funai, Margarida Nicoletti, a chefe do escritório, tem recomendado aos índios que não abdiquem de suas crenças e rezem cada vez mais.

'Não se usa flecha e pajés só bebem pinga'

Os pastores pentecostais são recrutados entre os próprios indígenas. É o caso do caiuá Edson Cáceres, de 37 anos, pregador da Igreja Deus é Amor. Ele conta que antes de se converter ao pentecostalismo, sete anos atrás, tinha sido alcoólatra e usuário de drogas: 'Até que um dia, passando na frente de uma igreja, a palavra me tocou e eu conheci o que é o discernimento do poder de Deus na vida do ser humano.'

Ficou tão seduzido que doou parte do terreno onde vive, na aldeia Jaguapiru, dentro da reserva de Dourados, para a construção do pequeno templo que administra. No horário do culto diário, entre 18 e 21 horas, a igreja fica rodeada de charretes, carros velhos e bicicletas.

Edson aprendeu a ler com os presbiterianos. Casou-se com 15 anos (é comum entre guaranis o casamento na faixa dos 13 aos 16) e tem uma filha e dois netos, que ele já afastou da tradição indígena: 'Temos duas culturas a escolher: a que vai para o Céu e a que não vai.'

Na opinião dele, as queixas de intolerância feitas por líderes religiosos são descabidas: 'Se alguma casa de reza queimou é por culpa deles mesmos, que só se reúnem para beber cachaça.'Perto dali, na aldeia Bororó, outro pregador da Deus É Amor, o terena Luciano de Oliveira, bate na mesma tecla: 'Cultura indígena? Aqui tem TV, luz elétrica, celular. Ninguém mais usa flecha e os pajés, falsos pajés, só querem beber cachaça.' Jovens perdem interesse pelas tradições indígenas.

Os guaranis das regiões Centro-Oeste e Sul do País se dividem em dois grupos: nhandevas e caiuás. Estes últimos são conhecidos pela forte religiosidade. Rezam para plantar, colher, curar doenças, viajar, chamar chuvas, desfazer coisas ruins.

A grande tragédia dos caiuás no momento é a falta de interesse dos jovens por essas práticas. 'Até os 12 anos, o menino gosta de cantar, dançar, rezar. Mas depois começa a ficar com vergonha', diz o líder Getúlio de Oliveira, 54.


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