Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Trovador de Cristo

"Somos imagem e semelhança de um Deus criativo". Um bate-papo com o músico metodista Glauber Plaça

Por Ana Claudia Braun Endo   

   Parece que o músico Glauber Plaça nasceu para compor e dedilhar as cordas de um violão. E quando faz isto, pode ter certeza que logo ouvirá boa música, acompanhada quase sempre de uma letra inspirada e uma forte voz, que invade o espaço onde estiver, agrupando todos ao seu redor.

Ao contrário de muitos artistas que se dedicam à música desde cedo, este paulistano de 35 anos de idade conta que, da infância, guardou especialmente os jogos de bola e os passeios de bicicleta - ao lado dos pais Jonas e Diva, e da irmã Melissa - e apenas na adolescência teria os primeiros contatos que o fariam se interessar pela MPB.

Há muito sua música ganhou espaço também nas igrejas e nos espaços onde costuma tocar muitas das composições brasileiras de seus músicos preferidos, entrelaçadas em letras de canções que criou nos últimos tempos.

Veja a seguir trechos da entrevista que ele deu ao portal Cristianismo Criativo (www.cristianismocriativo.com.br).Neste portal, desenvolvido pela editora cristã W4 Editora, você encontra esta entrevista na íntegra e vários outros textos sobre música, literatura, cinema e teologia.

Gostaria que você falasse um pouco sobre você e seu trabalho... qual seu primeiro contato com a música? Quando começou a tocar e a compor?

Desde que nascemos, entramos em contato direto com a música em quase todos os momentos... as canções de ninar para o bebê, os sons dos pássaros, da natureza... brinquedos que "cantam", as trilhas sonoras de filmes e desenhos animados, os jingles das propagandas etc. No meu caso, além de tudo isto, cresci na igreja Metodista, que por tradição reunia pequenos grupos vocais masculinos e os corais para cantar os Hinos. Meus pais não eram músicos instrumentistas, mas participavam destes encontros de louvor, entre ensaios e cultos, e quase sempre eu estava junto com outras crianças brincando aos pés dos cantores.
Mesmo vivendo num lar cristão, graças a Deus, nunca fui privado de ouvir músicas populares que tocavam nas rádios e outras que os colegas de escola, da mesma idade, gostavam na época. Aprendi que devemos ouvir de tudo e reter o que é bom. O que não é bom devemos descartar.

Qual foi sua primeira composição?
Comecei a compor sem muita seriedade e compromisso algumas músicas instrumentais e a primeira letra que fiz com início, meio e fim foi para uma menina por quem eu estava apaixonado... muito legal estes caminhos de Deus em nossa vida. A música, entre outras artes, é um ótimo meio para externar sentimentos.

E quando você começou a compor músicas para Deus? E como a MPB entrou nesta história?
Minha conversão e decisão para Cristo aconteceu em 1993, num acampamento, onde conheci um grupo de louvor da Igreja Metodista em Campo Belo. Nos encontrávamos para estudos, ensaios e comunhão, aprendendo juntos mais da Palavra. Em 1997 compus a primeira música inteira com um tema cristão, chamada Príncipe da Paz. Fui incentivado por pastores e amigos a inscrever esta canção no FECASA (Festival de Música da Casa da Juventude Metodista). No ano seguinte gravei minha segunda composição, Nova Manhã, num CD em conjunto com outros participantes do mesmo festival. Em 2004 gravei um CD com a maioria de músicas próprias, comecei a divulgá-lo no ano seguinte com a intenção de louvar a Deus com música brasileira de uma forma mais autêntica e pessoal, usando essas várias influências que citei acima, sem me preocupar em seguir a tendência musical do momento. Atualmente, continuo divulgando este primeiro trabalho ("Homens no Mar") e gravando um segundo "disco", que pretendo lançar ainda em 2008.

O que significa música e arte para você?
A meu ver, a arte é a condutora das expressões de sentimento contidas em todo ser humano e a música é um dos ramos desta arte. Todas as pessoas expressam dores, anseios, vontades, alegrias, tristezas, sonhos, medos, desejos, de várias formas, com a intenção de se comunicarem. Mesmo aquelas antigas artes rupestres nas paredes das cavernas são resultados desta necessidade de comunicação. Neste sentido, acredito que qualquer pessoa possa se expressar através da arte.Resumindo, cito o poema Metade, de Oswaldo Montenegro: "que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba. E que ninguém a tente complicar..." (nem eu!), "porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer."

Como você acredita que a fé influencia sua arte?
A influência da fé na minha arte está ligada à capacidade de conseguir perceber a grande diversidade da Criação, que se mostra desde uma pequena flor no alto de uma montanha até a descoberta de estrelas que estão nascendo e morrendo constantemente em algum canto do Universo, a anos-luz de nosso planeta. Quando começamos a observar tudo isto através de nossos sentidos, imaginamos um Deus criativo.
Esta criatividade aparece nos primeiros versos bíblicos: "No princípio, criou Deus..." (Gen. 1:1). (...) Se somos imagem e semelhança de um Deus criativo, acredito que trazemos em nós uma certa capacidade criativa. O homem é colocado em um lugar especial, num jardim, dotado de criatividade para cuidar, plantar, colher (Gen. 2:15) e inventar nomes para cada "objeto" da criação (Gen. 2:19 e 20).

Na sua opinião, qual o papel da arte na igreja?
(...)
Acredito que todas as formas de arte sejam importantes na vida da igreja porque são instrumentos de comunicação humana doados por Deus. Parece-me que quanto mais avançamos a caminho da modernidade da história e da igreja, nos afastamos na mesma proporção de uma "diversidade criativa inicial".
A começar pela arquitetura dos templos modernos, que parecem caixas de paredes brancas, onde não se pode expressar nenhuma arte em pinturas, exceto uma parede azul com nuvens brancas. Num contraponto a isto, temos igrejas que constroem verdadeiros palácios com grandes colunas, lembrando os antigos templos greco-romanos. Nada contra denominações específicas. Elas estão levando o Evangelho e creio que a Palavra deve ser divulgada e ministrada acima de tudo, mas estou expressando a minha opinião sobre arte, música e cultura dentro das igrejas onde ministro, participo e congrego há muitos anos.
Sei que isto tem a sua explicação histórica e não gostaria de ater-me aos motivos destes acontecimentos, mas me chama bastante a atenção o fato de limitarmos a nossa "arte evangélica" aos grupos musicais e aos raros grupos de dança com meninas, que repetem um movimento de lencinhos coloridos, principalmente no meio de comunicação televisivo. Mesmo dentro da extensa área musical evangélica, da qual também faço parte, nos deparamos com um número infinito de grupos e cantores que são levados a reproduzir músicas estrangeiras, não levando em conta a sua própria cultura local ou a riqueza de ritmos de nossa música brasileira. Somos detidos pelo preconceito contra a nossa própria cultura, em especial a cultura dos negros e dos índios, e os instrumentos ditos como "profanos" (principalmente os de percussão como tambores, pandeiros etc.).

De uma forma geral, a música é uma manifestação artística bem mais valorizada, que acaba monopolizando os espaços de culto. Seria interessante (não sei se possível dentro do nosso contexto) que outras expressões de sentimento, emoção e comunicação pudessem ser usadas para o louvor da Glória de Deus, incluindo a dança, as artes cênicas, a pintura, o desenho, a arquitetura, as artes circenses, as poesias escritas (não musicadas).
Só para experimentarmos um pouco desta liberdade de expressão, imagine, por exemplo, um momento de adoração em que tivéssemos a oportunidade de estarmos em silêncio, em oração, e nos fosse dado um lápis junto com um papel em branco, onde desenharíamos nele um símbolo de nosso amor e reconhecimento da soberania de Deus sobre nossas vidas e que este papel fosse levado até o altar da igreja.
Deus aceitaria esta expressão de louvor e adoração feita sem nenhuma música? Acredito que sim.

Ana Claudia Braun Endo   


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