o filho de dona susana


Eu n?o gosto de escrever a express?o "quest?o de g?nero"… Tamb?m n?o gosto de usar linguagem inclusiva, com esses horr?veis par?nteses que ofendem a est?tica e o ritmo do texto. Eu gostaria de pensar que tudo isso ? dispens?vel, j? que n?o existem diferen?as quando mulheres e homens unem-se na constru??o do Reino de Deus. Mas o fato ? que a tal "quest?o de g?nero" ainda ? um problema em muitas igrejas crist?s. Ainda existem p?lpitos vetados para mulheres, ritos que mulheres n?o podem realizar, palavras que elas n?o podem falar. 



Como nasci mulher num lar metodista, acho que fui privilegiada. Meus pais, que n?o haviam conseguido completar seus estudos, fizeram todos os esfor?os para que eu completasse os meus – fossem quais fossem, pois eu nunca ouvi dizer que h? profiss?es "femininas" ou "masculinas".  Fui privilegiada, tamb?m, porque, ainda crian?a, vi as primeiras pastoras metodistas. Eu sou da "gera??o bem-te-vi": cresci estudando as li?es de Escola Dominical da pastora Zeni de Lima Soares, primeira presb?tera ordenada pela Igreja Metodista, em 1974.



Cresci, tamb?m, ouvindo as hist?rias de uma mulher fiel e determinada chamada Susana Wesley.  Uma igreja que tem por fundador o filho de dona Susana realmente n?o poderia ser machista, n?o ?? Um dos relatos da vida de Susana Wesley que mais gosto ? aquele que fala das reuni?es de ora??o que ela come?ou a fazer em sua cozinha, numa das viagens de seu marido, Samuel Wesley, pastor da igreja local. Era para ser uma breve devocional com os empregados da casa, mas o grupo foi crescendo, crescendo… at? que juntou 200 pessoas e come?ou a incomodar a estrutura eclesi?stica. Afinal, naquela ?poca, lugar de mulher era mesmo na cozinha, mas sem substituir o marido na prega??o! O pastor substituto escreveu uma carta ao Rev. Samuel, alertando que os encontros poderiam ser alvo de queixa legal na igreja. Preocupado, Samuel escreveu ? esposa. E dela recebeu a seguinte resposta: "Se achas adequado dissolver esta assembl?ia, n?o me digas que desejas que eu o fa?a, pois isto n?o satisfar? a minha consci?ncia; mas envia-me a tua ordem expl?cita, tem termos t?o claros e expressos que me absolvam de toda culpa e puni??o por negligenciar esta oportunidade de fazer o bem, quando tu e eu aparecermos diante do grande e respeit?vel tribunal do Nosso Senhor Jesus Cristo". A hist?ria n?o registra uma resposta do pastor Samuel… E, certamente, o exemplo de lideran?a espiritual desta mulher leiga teve grande influ?ncia na origem e consolida??o do movimento metodista iniciado por John Wesley.



Outro dia, eu soube que, quando foi lan?ada a festa Susana Wesley, um evento beneficente que auxilia v?rias a?es sociais da igreja, houve rea??o contr?ria em algumas igrejas. Elas rejeitaram especialmente o primeiro logotipo criado para o evento: o desenho de uma senhora do s?culo 18 dando instru?es a um garotinho que a ouvia muito atentamente. Teve gente que achou que a Igreja Metodista estava "idolatrando" a figura de Susana Wesley. Teve gente at? que, para ridicularizar – ou, quem sabe, por genu?no equ?voco – disse que a Igreja estava criando uma "santa metodista".



Confesso que, quando soube dessa hist?ria, ela me pareceu t?o absurda que dei risada… Mas tenho a impress?o que dona Susana Wesley n?o acharia a menor gra?a…  E passou-me pela cabe?a uma id?ia provocadora: ser? que, na rejei??o ? figura que colocava a figura da m?e Susana numa posi??o de autoridade diante do pequeno filho John Wesley, n?o estaria, tamb?m, o tra?o de um machismo renitente? N?o podemos nos esquecer que, em que pese nossa tradi??o metodista de participa??o feminina, em que pese o pr?prio exemplo de Cristo, nossa sociedade ainda ? machista. Pense comigo: na empresa em que voc? trabalha  tem creche?  Os homens da empresa em que voc? trabalha j? reivindicaram creches para seus filhos (ou essa ? uma preocupa??o apenas das funcion?rias)? E na igreja que voc? freq?enta: h? homens cuidando de classes de crian?as, ou do ber??rio? E dentro de casa: marido e mulher dividem igualmente as tarefas dom?sticas e o cuidado das crian?as?



 As pastoras Genilma e Ros?ngela acabaram de publicar uma pesquisa de monitoramento da participa??o feminina no 18? Conc?lio Geral da Igreja Metodista (voc? j? viu pesquisa sobre "quest?o de g?nero" feita por homens? Eu nunca vi…).Temos uma not?cia boa e outra ruim. A boa primeiro: esse monitoramento s? ? poss?vel numa igreja inclusiva e aberta como a nossa, que n?o teme se avaliar continuamente, que n?o teme reconhecer as pr?prias defici?ncias. A not?cia ruim: mulheres ainda participam pouco, ainda que a maioria da membresia seja feminina (j? ouvi falar at? em 70%!). Por essas e por outras, continuemos usando linguagem inclusiva, continuemos ensinando ?s meninas que elas t?m vez e voz – ao lado dos meninos – em todas as inst?ncias da sociedade e continuemos, sobretudo, compreendendo que "quest?o de g?nero" n?o ? papo de mulher em p? de guerra contra os homens. Quest?o de g?nero ? assunto de todos(as) n?s para que possamos, um dia, – todos e todas – construir um mundo t?o harmonioso que esse assunto ter? sido superado.


                                                                                                                                                                       Suzel Tunes



 

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