Estamos diante de um novo processo eleitoral. Isto era previsto, porque faz parte do ritual democr?tico brasileiro. O que n?o se esperava era chegarmos a um per?odo eleitoral com tanta perplexidade no cen?rio pol?tico.
A raz?o ? simples: quando da elei??o do Presidente Lula houve como que uma como??o (emo??o com) de ampla parcela da popula??o, especialmente os setores mais desassistidos, explorados e humilhados, que enfim, viam chegar ao poder um representante seu: de origem humilde, oper?rio etc, sustentado por um partido que apontava para transforma?es sociais, embalado pelo discurso da ?tica na pol?tica.
Agora a popula??o est? dividida, digamos assim, em tr?s partes: os que se opunham a esta vis?o e ? elei??o de Lula e sentem confirmadas suas posi?es; os que justificam sua descren?a na pol?tica, e se abst?m, convencidos que o melhor ? n?o participar; e os que est?o meio embasbacados com o que ocorreu, procurando encontrar o ponto de retomar e de refazer as esperan?as.
Por onde come?ar? Talvez uma coisa importante para este momento seja come?armos tudo de novo, desde o in?cio, pensando em dois conceitos sobre os quais devemos basear nossa viv?ncia pol?tica: a Rep?blica e a Democracia.
Rep?blica ? uma palavra composta: o prefixo res do latim, que quer dizer coisa, e o adjetivo p?blico, portanto "coisa p?blica". Agora, quando falamos no sentido pol?tico, o que vem a ser p?blico? O dicion?rio nos ajuda a entender: 1. relativo ou pertencente a um povo, a uma coletividade; 2. relativo ou pertencente ao governo de um pa?s, estado, cidade etc.; 3. que pertence a todos; comum. Portanto, podemos dizer que p?blico tem a ver com o que ? de todos e, no sentido pol?tico, com a forma de gerenciar o que ? de todos.
Isto ? importante para entendermos porque tanta indigna??o com a corrup??o, pois corrup??o ? a apropria??o para uso privado daquilo que ? p?blico. No sentido financeiro, pegar o que ? de todos para o enriquecimento pessoal. Evidentemente nenhum tipo de corrup??o se justifica. Entretanto, podemos fazer algumas considera?es a respeito dos acontecimentos revelados nos ?ltimos meses. Corrup??o ? coisa nova no Brasil? Surgiu somente agora? Todos sabemos que n?o. Esta deforma??o ? um "pecado original", "grudado" na forma de se fazer pol?tica no Brasil desde que come?ou a nossa hist?ria. Mas algumas coisas t?m contribu?do para criar essa sensa??o de que "tudo est? podre na pol?tica brasileira": o aumento da consci?ncia ?tica da popula??o, que n?o mais aceita as sujeiras feitas para beneficiar interesses pessoais ou privados; o aperfei?oamento dos ?rg?os p?blicos que t?m o papel de fiscalizar ou controlar o uso dos recursos p?blicos (Minist?rio P?blico, Pol?cia Federal, o pr?prio Poder Legislativo atrav?s de suas comiss?es, etc.) e, at? mesmo, a visibilidade que a imprensa tem dado aos casos de corrup??o.
E a Democracia? Vamos de novo ao dicion?rio: 1. governo do povo; governo em que o povo exerce a soberania; 2. sistema pol?tico cujas a?es atendem aos interesses populares; 3. governo no qual o povo toma as decis?es importantes a respeito das pol?ticas p?blicas…; 4. governo que acata a vontade da maioria da popula??o, embora respeitando os direitos e a livre express?o das minorias.
Evidentemente esses conceitos referem-se a um ideal de democracia. Na pr?tica, para exercer a soberania, o povo necessita de mecanismos pol?ticos atrav?s dos quais fa?a prevalecer seus interesses. E sabemos que n?o existe essa entidade abstrata chamada "a vontade do povo"… Existem muitas "vontades" e muitos interesses em jogo. ? por isso que existem os partidos pol?ticos. J? o pr?prio nome diz: partido – o que n?o ? inteiro, o que ? parte. Os partidos representam partes ou parcelas da popula??o que t?m vis?es de mundo e interesses relativamente semelhantes. Existe tamb?m o esfor?o de parte dos partidos de atrair a popula??o. E para isso, nem sempre s?o publicados os reais interesses que t?m ou quem representam efetivamente. Por exemplo, ? considerado "feio" no Brasil representar os ricos e poderosos. Por isso, nenhum partido diz que representa esta parcela da popula??o – o que n?o significa que n?o o fa?a…. Portanto, temos que pensar bem antes das escolhas que fazemos e n?o basta lermos o programa dos partidos. Temos que "ler" tamb?m a trajet?ria hist?rica dos partidos e das pessoas que os comp?em.
Outro fator a considerar ? que, de toda a hist?ria do Brasil, muito poucos foram os momentos em que a democracia esteve em vig?ncia. O atual per?odo tem apenas 21 anos (iniciou-se com a redemocratiza??o posterior ao regime militar). Assim, nossa democracia tem muito que se aperfei?oar. E se ela ? capenga eu diria: qual o rem?dio para a democracia? Mais democracia. ? s? refor?ando os mecanismos da democracia que vamos ter uma melhor democracia (que nunca ser? perfeita, pois sabemos que a perfei??o s? poder? existir no Reino de Deus).
A forma de se aperfei?oar a democracia ? a participa??o. Na democracia formal que temos essa participa??o manifesta-se atrav?s do voto. Mas n?o ? essa a ?nica possibilidade de participa??o democr?tica. Podemos, e penso que tamb?m devemos, estar presentes nas inst?ncias de participa??o popular como os movimentos sociais que v?o constituindo grandes "correntes de opini?o" de como deve ser gerenciado o poder no pa?s, bem tamb?m nos partidos pol?ticos. Afastar-se e adotar uma posi??o de individualismo ou de cinismo em nada contribui para o aperfei?oamento da Rep?blica e nem da Democracia. Votar nulo ou branco n?o resolve nada na elei??o. ? prefer?vel errar tentando acertar a, simplesmente, desistir e deixar que outros tomem as decis?es por n?s.
Para concluir: O que fazer diante dessa situa??o em que vivemos? Minha resposta ? participar. No m?nimo com o voto, se esta for sua disposi??o. Mas mais do que isto, temos que tamb?m participar de organismos que possam influenciar positivamente a vida e as decis?es pol?ticas no Brasil. Escandalizar-se ao ponto de abster-se neste momento ? deixar o campo livre para quem n?o tem escr?pulos de usar em benef?cio privado a coisa p?blica e tamb?m para quem, mesmo com boas inten?es, equivoca-se na condu??o pol?tica. Essa ? minha opini?o. Qual ? a sua?
Rev. Luiz Eduardo Prates da Silva
Uma outra opini?o. Reflex?o de Luiz Felipe Lehman, membro da Igreja Metodista em Belo Horizonte. Clique aqui.
