Palavra Episcopal julho 2008

Diretrizes para a vida financeira do crist?o e da crist? Metodistas.








 

Adonias Pereira do Lago – Bispo na 5? Regi?o Eclesi?stica


Falar sobre a quest?o financeira no contexto crist?o ? um grande desafio. O presente tema ? de extrema complexidade em fun??o da l?gica capitalista e individualista que determinam as diversas rela?es sociais e n?o seria diferente nas rela?es circunscritas aos espa?os eclesi?sticos. Muitas pr?ticas forjadas na cultura da ?poca s?o facilmente reproduzidas nos espa?os das nossas igrejas.


Uma vez que estamos num contexto social em que predomina a mercantiliza??o da f?, fundamentada na teologia da prosperidade, que coloca o/a fiel como investidores cuja ?nfase est? na sa?de plena, na prosperidade irrestrita e valoriza??o do eu, com certeza falar na quest?o financeira requer muito cuidado e base b?blico-teol?gica s?lida.


No entanto, a problem?tica apresentada pelo referido tema n?o pode ser tomada como fator impulsionador para referendar o exerc?cio de uma pr?tica de f? distanciada do compromisso financeiro e social, inerente a todo/a crist?o/? que busca realizar a vontade de Deus em todos os aspectos da sua vida.


Tenho consci?ncia da seriedade do assunto e dos desafios que enfrentamos nesta ?rea, por isto tomo como refer?ncia para falar sobre o assunto, o resgate, praticamente integral, de um artigo adaptado por Charles Edward White, na Revista "Leadership", publicada em 1987. O texto mostra, de forma clara e brilhante, o testemunho da Gra?a de Deus sobre a vida financeira de Jo?o Wesley. O artigo traz quest?es fundamentais, com princ?pios bem simples, por?m eficazes para a nossa reflex?o e aplica??o pr?tica.


Em pleno s?culo 18, Jo?o Wesley foi usado por Deus para restaurar a Inglaterra e dar in?cio ? Igreja Metodista. N?s o conhecemos como um grande pregador e um not?vel organizador, mas poucos sabem que Jo?o Wesley escreveu uma quantidade imensa de serm?es e que a venda dos seus escritos o tornaria uma das pessoas bem sucedidas economicamente falando, na Inglaterra. Numa ?poca em que um homem solteiro poderia viver confortavelmente com 30 libras (moeda inglesa), por ano, sua renda anual atingiu a 1.400 libras. No entanto, a partir de sua experi?ncia com Deus, ele estabelece uma forma diferente de lidar com a sua quest?o financeira. Com sua renda, ele teve oportunidade de colocar em pr?tica suas id?ias a respeito do dinheiro. Isto ? o que veremos a seguir.


Resgatando um pouco a hist?ria


Jo?o Wesley soube conviver com a pobreza desde crian?a. Seu pai, Samuel Wesley, foi pastor anglicano em uma das par?quias mais pobres da Inglaterra. Tinha nove filhos para criar e, muitas vezes, tinha d?vidas para pagar. Certa vez, Jo?o Wesley viu seu pai sendo levado preso por falta de pagamento de uma d?vida. Assim, quando Wesley seguiu os passos do pai no minist?rio, n?o tinha ilus?es acerca de recompensas financeiras.


Foi, provavelmente, surpreendente para Jo?o Wesley, ao ser chamado por Deus para seguir a voca??o de seu pai, n?o passar pelas mesmas dificuldades econ?micas pelas quais ele passara. Ao inv?s de tornar-se pregador em uma par?quia, Wesley sentiu a dire??o de Deus para lecionar na Oxford University. L?, ele foi eleito membro do Conselho do Lincoln College e sua condi??o financeira mudou extraordinariamente. Sua posi??o usualmente lhe rendia 30 libras por ano, mais que o necess?rio para um homem solteiro viver. E Jo?o Wesley parece ter apreciado sua relativa prosperidade, pois gastava seu dinheiro em jogo de cartas, fumo e bebidas.


Durante sua estada em Oxford, um incidente mudou sua vis?o sobre o dinheiro. Ele havia terminado de adquirir e pagar por alguns quadros que seriam colocados em seu quarto, quando uma das camareiras chegou ? sua porta. Era um frio dia de inverno e ele notou que a camareira nada tinha para proteg?-la, exceto um gorro de l? fina. Ele enfiou as m?os nos seus bolsos procurando algum dinheiro para dar a ela a fim de que ela pudesse comprar um casaco, mas constatou que lhe sobrara muito pouco. Imediatamente, perplexo, seu pensamento lhe disse que o Senhor n?o estava satisfeito com a forma como gastava seu dinheiro. Wesley perguntou a si mesmo porque o Senhor diz, "Bem feito, bom e fiel despenseiro?". Deus tem adornado tuas paredes com o dinheiro que poderia ter protegido esta pobre criatura do frio. Justi?a! Miseric?rdia! N?o ser?o estes quadros o sangue desta pobre camareira?


Talvez, como resultado desse incidente, em 1731, Wesley come?ou a limitar suas despesas de maneira que pudesse ter mais dinheiro para dar aos pobres. Ele recorda que em um ano seus rendimentos foram 30 libras e suas despesas 28 libras, s? lhe restando 2 libras para doar. No ano seguinte, sua renda dobrou, mas ele ainda viveu com 28 libras e p?de doar 32 libras aos pobres. No terceiro ano, seus rendimentos subiram para 90 libras, mas ao inv?s de deixar seus gastos subirem de acordo com os seus ganhos, Wesley os manteve em 28 libras e doou 62 libras. No quarto ano ele recebeu 120 libras. Como antes, seus gastos continuaram em 28 libras e o montante que ele p?de doar cresceu para 92 libras.


Wesley sentiu que o crist?o n?o deveria dar apenas a d?cima parte, mas doar toda renda extra, desde que a fam?lia estivesse bem cuidada e os d?bitos devidamente quitados. Ele acreditava que o crescimento de sua renda poderia n?o somente elevar o padr?o de vida dos crist?os, mas tamb?m elevar o conceito de "dar".


Essa pr?tica come?ou em Oxford e continuou por toda a sua vida. Mesmo quando seus rendimentos se elevaram para milhares de libras esterlinas, ele viveu com simplicidade e doava o dinheiro que lhe sobrava t?o rapidamente quanto poss?vel.


Um ano sua renda foi um pouco superior a 1.400 libras. Ele gastou 30 libras e doou perto de 1.400. Como n?o tinha fam?lia para cuidar, ele n?o necessitava poupar. Jo?o Wesley n?o estava preocupado em armazenar tesouros na terra e ent?o usava o dinheiro para caridade t?o logo o recebia. Ele disse que nunca tivera 100 libras no bolso uma s? vez.


Wesley limitou suas despesas n?o comprando coisas as quais n?o fossem de absoluta necessidade para o seu padr?o de vida. Em 1776, a Comiss?o de Impostos da Inglaterra inspecionou sua declara??o de renda e escreveu o seguinte: "N?o podemos duvidar, mas h? ind?cios de que o Senhor possui uma baixela de prata e n?o fez o devido registro de entrada do dinheiro". Eles estavam dizendo que um homem de sua notoriedade certamente teria que possuir alguma baixela de prata em casa e o estavam acusando de n?o ter pago o imposto de consumo. Wesley escreveu de volta: "Eu tenho duas colheres de prata em Londres e duas em Bristol. Isto ? toda a prataria que eu tenho no momento e eu n?o poderia comprar nenhuma mais enquanto muitos ao meu redor querem p?o".


Os ensinamentos de Jo?o Wesley a respeito de dinheiro oferecem simples e pr?ticas diretrizes para todos os crentes.


Sua primeira regra a respeito do dinheiro foi: "Ganhe o m?ximo que puder". A despeito de seu potencial para o uso indevido, o dinheiro, por isso s?, ? uma coisa boa. N?o h? fim para o bem que o dinheiro pode proporcionar: "Nas m?os dos filhos de Deus, o dinheiro ? alimento para o faminto, bebida para o sedento, vestu?rio para o nu. Ele oferece ao viajante e ao estrangeiro um lugar para repousar sua cabe?a. Com dinheiro poderemos suprir a falta do marido para a vi?va e a falta do pai para o ?rf?o. Podemos ser defensores dos oprimidos, dar condi?es de sa?de para os doentes e aliviar os que sofrem dores. O dinheiro poder? ser os olhos para o cego, os p?s para o aleijado: um voto a favor dos que est?o ? beira da morte!"


Wesley ensinou que os crist?os, ao ganharem o m?ximo que podem, necessitam ser muito cuidadosos para n?o destru?rem suas pr?prias almas, mentes e corpos ou a alma, mente e corpo do pr?ximo. Ele tamb?m proibiu que os crist?os ganhassem dinheiro atrav?s de ind?strias que poluem o meio ambiente ou que exp?em os seus empregados a riscos. Ganhar sob princ?pios do reino, n?o sob press?o do consumismo e do materialismo ego?sta de nosso tempo.


A segunda regra de Wesley para o uso correto do dinheiro foi: "Poupe tudo que puder". Ele instigava seus ouvintes a n?o gastarem dinheiro somente para agradar aos desejos da carne, aos desejos dos olhos ou a vaidade da vida. Alertava quanto ao gasto com comidas caras, roupas chiques e mob?lias elegantes. "Despreze o regalo e a variedade e esteja contente com a ess?ncia do b?sico." Wesley tinha duas raz?es para dizer aos crist?os que comprassem somente o necess?rio. A primeira, obviamente, era que os crist?os n?o poderiam esbanjar dinheiro; a segunda, era que os crist?os n?o deveriam alimentar seus desejos ego?stas.


O velho pregador sabiamente chamava a aten??o dizendo que quando uma pessoa gasta dinheiro com coisas das quais realmente n?o necessita, logo come?ar? a querer mais e mais coisas de que n?o necessita e, ao inv?s de satisfazer o seu desejo, ela somente o torna maior.


A terceira regra de Jo?o Wesley foi: "Doe tudo o que puder". A doa??o poder? ter in?cio pelo d?zimo. Wesley dizia que quem n?o ? dizimista colocar?, indubitavelmente, seu cora??o no seu ouro e advertia, "isso consumir? a sua carne com o fogo".


Para o crist?o aut?ntico o ato de doar n?o termina com o d?zimo, mas todo o seu dinheiro est? cem por cento sob a orienta??o de Deus.


Como Deus tem direcionado os crist?os no uso de seus rendimentos? Wesley enumerou quatro princ?pios b?blicos essenciais:


I – Abaste?a sua fam?lia e voc? mesmo de coisas realmente necess?rias (1Tm 5:8). O crente precisa estar seguro de que sua fam?lia tem garantido o b?sico: alimenta??o saud?vel, trajes limpos para usar bem, um local para viver e ainda o suficiente para sobreviver se algo inesperado acontecer ? pessoa que prove o sustento da fam?lia.


II – "Tendo comida e vestimenta, estejamos contentes". (1 Tm 6:8)


"Quem tem comida suficiente e roupas para vestir, com um lugar para repousar sua cabe?a e alguma coisa mais ? rico", disse Wesley.


III – Abaste?a-se de coisas honestas ? vista de todos os homens (Rm 12:17) e "N?o deva nada a ningu?m" (Rm. 13:8). Wesley disse que ap?s cumpridos os primeiros dois princ?pios, a pr?xima reivindica??o sobre o dinheiro dos crist?os s?o as d?vidas. Ele ensinou tamb?m que aqueles que t?m neg?cios por conta pr?pria precisam ter ferramentas adequadas, estoques ou capital suficientes para conduzir os neg?cios.


IV – "Por isso, enquanto tivermos oportunidades, fa?amos o bem a todos, especialmente aos da fam?lia da f?". (Gl 6:10). Depois que o crist?o prover a fam?lia, pagar as d?vidas e cuidar dos neg?cios, a pr?xima obriga??o ? usar o dinheiro que sobrou para suprir as necessidades dos outros.


Ao pronunciar estes quatro princ?pios b?blicos e b?sicos, Jo?o Wesley reconheceu que algumas situa?es n?o eram claras o suficiente e, conseq?entemente, apresentou quatro perguntas para ajudar seus ouvintes a decidirem como gastar dinheiro:


1. Ao gastar dinheiro estou agindo por mim mesmo ou estou agindo como um mordomo de Deus?


2. O que me ordenam as Escrituras ao gastar dinheiro dessa maneira?


3. Posso eu oferecer esta aquisi??o/compra como sacrif?cio para o Senhor?


4. Deus me recompensar? por este gasto na ressurrei??o dos justos?


Em 1744, Wesley escreveu: "Quando eu morrer, se deixar 10 libras voc? e qualquer ser humano podem testemunhar contra mim, dizendo que eu vivi e morri como um ladr?o e um roubador". Quando ele morreu, em 1791, o ?nico dinheiro citado em seu testamento foi uma miscel?nea de moedas encontradas em seus bolsos e em suas gavetas de roupas. A maior parte das 30.000 libras que ele ganhou em toda a sua vida ele doou. Da mesma forma ele disse: "Eu n?o tenho como evitar deixar os meus livros no tempo em que Deus me chamar daqui: mas, em qualquer circunst?ncia, minhas pr?prias m?os ser?o minhas testemunhas".


Como vimos, o artigo evidencia que Wesley testemunhou de sua experi?ncia nesta ?rea e deixa para todos n?s, metodistas, valores e princ?pios que valem a pena colocar em pr?tica em nossas vidas. Deus nos chama para uma vida de compromisso. Ele nos convoca a honr?-lo com os nossos bens e com as prim?cias da nossa renda. Somos desafiados/as a colocarmos tudo o que temos e o que somos ? disposi??o do Reino de Deus. Que a gra?a de Deus nos ajude a perceber que a maior gra?a ? a da doa??o ao pr?ximo a favor da vida e de sua dignidade.


Refer?ncia


Texto adaptado da Revista "Leadership", inverno de 1987 por Charles Edward White. Tradu??o: Suleimar Archibald, Membro da Igreja Metodista Central de Goi?nia.

Picture of Portal Igreja Metodista

Portal Igreja Metodista

Igreja Metodista - Sede Nacional.

Tags

compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine nossas notícias

Receba regularmente as notícias da Igreja Metodista do Brasil em seu e-mail.
A inscrição é gratuita!