Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

Palavra Episcopal outubro 2007

 

João Carlos Lopes, Bispo da 6ª Região Eclesiástica

"Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação. De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus". - II Coríntios 5.18-20

Na breve passagem de II Coríntios 5.18-20 o apóstolo Paulo usa cinco vezes o termo "reconciliação". O termo original usado é "katallosso" e passa a idéia de troca, mudança ou restauração.

No texto, a idéia é de mudança de uma situação de inimizade para uma situação de amizade. É restauração da amizade.

Esse é, sem dúvida, um conceito fundamental da mensagem cristã. O ser humano encontra-se separado de Deus e essa separação se manifesta em sentimento de culpa, hostilidade e desesperança. Assim, a comunicação da mensagem de reconciliação é o conteúdo primeiro e a razão de ser do ministério cristão. O/a cristão/ã é então, acima de tudo, um/a comunicador/a da mensagem de reconciliação. O apóstolo usa a expressão "ministro da reconciliação".

Vejamos alguns aspectos desse ministério encontrados no texto de II Coríntios 5.18-20:

1. O ministério da reconciliação tem sua origem em Deus:

O texto inicia com a afirmativa: "ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo...". O ministério da reconciliação não é a descoberta de um pastor ou uma oferta dessa ou daquela denominação. É decisão de Deus.

O pecado resultou em inimizade entre Deus e o ser humano (Isaías 59.1-2). Mas o evangelho proclama que Deus tomou a iniciativa de reconciliar o ser humano com Ele.

Aqui é importante fazer uma clara distinção: Não é Deus que é reconciliado com o ser humano, como se Deus tivesse parte da culpa da inimizade. Foi o ser humano que se afastou de Deus e, portanto, precisa ser trazido de volta.

Quando duas pessoas precisam ser reconciliadas, normalmente a situação envolve erro de ambas as partes. Porém, não é esse o caso do ser humano com Deus. Deus não errou. Mesmo assim, conforme o texto, Ele tomou a iniciativa "não imputando aos homens as suas transgressões".

2. O ministério da reconciliação pressupõe uma experiência pessoal:

Não nos tornamos ministros da reconciliação porque fizemos um curso de teologia, ou porque temos habilidade para falar e convencer pessoas. Somos ministros da reconciliação, em primeiro lugar, porque nós mesmos experimentamos reconciliação com Deus. O apóstolo Paulo afirma que Deus "nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo".

3. O ministério da reconciliação não requer qualidades extraordinárias (super-poderes) dos ministros:

O apóstolo Paulo afirma que Deus "nos confiou a palavra da reconciliação".

Em cada geração a palavra da reconciliação é transmitida por homens e mulheres comuns. Pessoas cultas ou incultas; ricas ou pobres; autônomas, com bom emprego ou desempregadas; negras, brancas, amarelas ou vermelhas. Mas sempre pessoas comuns. Nunca um tipo especial de pessoas, nem pessoas poderosas. Não precisamos ser poderosos. O Deus a quem servimos, Ele sim é poderoso.

4. O ministério da reconciliação é investido de autoridade:

O apóstolo Paulo conclui: "De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio".

Embaixador é um porta-voz oficial de uma nação. Sua palavra tem o respaldo do chefe de estado que o enviou. Assim é o nosso ministério. Realizamo-lo na autoridade daquele que nos enviou. Mas o fazemos também com humildade lembrando que aquele que nos enviou é o Filho do Homem que "não veio para ser servido, mas para servir...".

5. Conclusão:

Vivemos num tempo em que os conflitos se multiplicam. São conflitos de caráter político, religioso, social, cultural e tantos outros. É nessa realidade que o povo Metodista é chamado a ser ministro da reconciliação. Que tremendo privilégio esse chamado representa para nós. Ao mesmo tempo, que tremendo desafio e que tremenda responsabilidade, visto que para ministrarmos a reconciliação, temos o dever de testemunhar nossa disposição para vivenciá-la nos nossos relacionamentos.

Que Deus nos ajude a respondermos positivamente a esse chamado, tanto na proclamação como no testemunho de vida.


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