queda para cima daniel rocha

 


"Assim diz o Senhor: maldito o homem que confia no homem…." (Jr 17.5a)


"Assim diz o Senhor: Maldito o homem que confia no homem…", e eu completo: seja este homem rabino, papa, cardeal, pastor, evangelista, padre, freira, mission?rio, ou um desses ap?stolos modernos.


? emblem?tico o que com aconteceu recentemente com o rabino Henry Sobel, homem profundamente ?tico em sua postura, autoridade maior do Juda?smo, religi?o que preza a guarda de um conjunto de valores morais, regras e preceitos de boa conduta, honestidade e respeito ao pr?ximo, e justamente ele foi flagrado furtando algumas gravatas de "griffe".


Tal fato suscitou grandes pol?micas e indigna??o. E eu me pergunto: Onde o espanto? Por que o pasmo?


N?o se trata de "demonizar" o rabino, como pretendem alguns, nem de empurrar a culpa para a f?rmula de rem?dios, como justificam outros, mas de entendermos n?o apenas quem ? aquele homem, mas quem somos n?s. Colocar a culpa na "droga" n?o ? a resposta mais adequada. Quer seja conseq??ncia de uma medica??o ou n?o, o desejo – mesmo que inconsciente – j? estava l?. ? como se "uma parte" dele j? desejasse em suas entranhas aquilo.


? da poesia que vem uma explica??o bastante realista de nossa condi??o humana, que Ferreira Gullar t?o belamente descreveu:


Uma parte de mim
? multid?o:
outra parte estranheza
e solid?o.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almo?a e janta:
outra parte
se espanta.


Somos mais honestos quando reconhecemos nossa condi??o humana da eterna luta que travamos contra a carne, contra as puls?es, tenta?es, sedu??o dos olhos e fraquezas.Paulo, o ap?stolo, reconhecia-se um guerreiro cujo campo de batalha estava dentro de si, e ? dele a melhor defini??o que j? encontrei na B?blia sobre nossa condi??o: "miser?vel homem que sou" (Rm 7.24).


Ningu?m ? um mon?lito, e pretender s?-lo torna esse pobre ser ris?vel. Desconfio que o Senhor se agradava mais do "err?tico" Davi justamente por sua ador?vel "humanidade" em compara??o aos que nunca erraram, e n?o t?m nenhum pecado a confessar, nenhum deslize para desculpar. Quem se reconhece maior pecador certamente expressa seu desespero em profundo amor. Justamente por isso Jesus diz ? pecadora: "perdoados s?o os seus muitos pecados, porque muito me amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama" (Lc 7.47).


Ningu?m pode ser reduzido a um ato. Ningu?m ? totalmente bom, nem totalmente mau. Estamos caminhando na f? e abrindo o nosso ser para que a presen?a divina ilumine totalmente os por?es do nosso inconsciente, e traga ? luz os bichos que ali est?o escondidos, para sermos curados.


Arrisco-me a dizer que o que aconteceu com Sobel ? a hist?ria de todos que assumem uma postura perante o mundo por demais extremada, sem uma contrapartida, dir?amos, mais humana, leve, brincalhona, de algu?m consciente de sua falibilidade. Um bailarino que d? saltos graciosos ? admir?vel, mas se ele tentar voar… torna-se rid?culo.


Desconfio sempre de quem fica incomodado com gays, com pobres, com alegria, com corpos, quem ? cheio de melindres, que se espanta com tudo o que ? humano.Desconfio de quem n?o sabe rir de si mesmo. Jesus, ao contr?rio, n?o tinha problemas com festa, com vinho, com perfume, com gente de m? fama, com mulheres ou crian?as.


Come?a a existir uma cis?o do ser quando h? exagero, ou seja, quanto mais nos identificamos com nossa "persona", mais rejeitamos outras partes indesej?veis de n?s mesmos, aquilo que ? grotesco, vergonhoso, invejoso, pueril. Ar grave, moralismo exacerbado, vida herm?tica, fixa??o por certos temas, s?o disfarces perfeitos.


Cair pode ser um santo rem?dio para quem se reconhece forte, im-pec?vel, de natureza superior. Cair faz bem para o eg?latra, para quem se acha acima do bem e do mal. Cair faz bem para quem se endureceu, e perdeu a simplicidade, criando um "persona" que a cada dia se v? mais cindida do verdadeiro ser. Oxal? que todos aqueles que ostentam alguma forma de poder – que acaba envaidecendo a alma – ca?ssem, fossem desconstru?dos…. Que o Senhor derrube do pedestal todos os l?deres crist?s embalados pelo desejo luciferiano de poder.


Trope?ar nos faz cair aos p?s de Cristo, nos leva a humildade e ao quebrantamento, limpa os nossos olhos de uma falsa imagem.Cair nos faz sentir humanos, verdadeiramente humanos, e nos abala de nossas certezas e convic?es. Toda queda ? uma oportunidade que Deus concede para o homem recome?ar sua vida de uma forma diferente. Nesse caso ? uma queda para cima. Mas, infelizmente, h? muitos que preferem ficar se lamentando, remoendo, sendo destru?dos pela culpa….


Pr. Daniel Rocha, IM de Itaberaba


 


 


 


 

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