Publicado por José Geraldo Magalhães em Expositor Cristão - 06/08/2014

Reflexos e reflexões da Copa

   A Copa do Mundo no Brasil chegou ao fim sendo considerada um sucesso, segundo avaliação da Fifa, do governo brasileiro e de grande parte do público.
 
As manifestações e marchas, com a participação maciça da juventude, que começou protestando contra o abusivo aumento das passagens de ônibus urbanos, e que se desencadearam com a adesão da sociedade civil em todo o Brasil, num legítimo exercício democrático exigindo uma nova postura política, melhor distribuição de renda, emprego, moradia, segurança, tratamento de saúde com excelência ao povo brasileiro (não se está aqui mencionando a participação dos/as arruaceiros/as e vândalos/as que não representam a índole e o intento da cidadania responsável e consciente), era entendido como um reflexo de “o gigante acordou”, numa clara alusão a uma nova disposição do povo brasileiro contra o descaso com que é tratado o/a cidadão/ã num estado democrático e de direito.
 
Havia também a queixa de que a entidade mundial de futebol, promotora da Copa, a Federação Internacional de Futebol Associado (Fifa), fazia grandes exigências para a realização do evento no Brasil. Muito dinheiro, trabalho e celeridade foram demandados para deixar tudo de acordo com este, como ficou conhecido, padrão Fifa.
 
Estima-se que foram investidos 25,6 bilhões de reais em infraestrutura (estádios, ampliação de aeroportos e transporte etc.) para a realização do evento, em parceria público-privado, com a participação particular através de empréstimos de bancos públicos, portanto, com a maior contrapartida do governo, já que o dinheiro será recebido em longevas prestações, participando diretamente e ainda emprestando.
 
Tudo bem que o futebol faz parte da cultura brasileira. Pode-se até mesmo dizer que o esporte bretão já está no DNA do povo, e ainda, que não se pode viver sem uma paixão, mesmo uma diversãozinha. O congraçamento entre os povos de várias culturas é louvável, mas a que custo? Quem foi consultado/a para pedir a Copa do Mundo/2014 no Brasil? Poderia até tê-la, mas antes com as suas prioridades atendidas.
 
O povo então começou a mostrar sua cara nas ruas exigindo também escola-padrão Fifa, hospitais-padrão Fifa, enfim, a vida dos/as brasileiros/as segundo o padrão Fifa. No auge das manifestações no ano passado, uma palavra começou a ser muito usada por parte dos/as políticos/as brasileiros/as: “Legado”. Eles/as diziam que a Copa iria deixar um legado esportivo para o povo brasileiro, que os estádios, aliás, arenas, seriam um exemplo para o mundo deixando o Brasil em igualdade com outros países neste quesito. Mas o que é legado? De que legado tanto se fala?
 
Legado é uma disposição feita em um testamento para benefício de outra pessoa. É quando um bem, ou vários bens, são deixados para outra pessoa que não é herdeira, quando o/a proprietário/a original falece. Essa pessoa é conhecida como legatário/a.
 
O Império Romano deixou um forte legado cultural que ainda se verifica em muitas sociedades hoje em dia. Outro exemplo é o legado intelectual deixado por vários filósofos e pensadores do passado, notadamente os gregos.
 
Sabe-se que ninguém vai morar, ou quando sentir dores de parto, ou será alfabetizado nas arenas futebolísticas, que, diga-se de passagem, são particulares, pertencem a grupos privados. As prioridades do povo brasileiro são outras. Que legado?
 
Com o início da Copa do Mundo tudo se esvaiu como um sonho, ou será que, como em um passe de mágica, o Brasil se transformou em um paraíso de justiça e amor? Houve certo arrefecimento do ideal cidadão e o gigante voltou a dormir em berço esplêndido. Se Karl Marx vivesse nesse contexto claramente revisaria a sua célebre afirmativa, cunhando que o futebol é o ópio do povo, particularmente do/a brasileiro/a. 
 
Finalizada a Copa do Mundo de Futebol/2014, realizada no Brasil, tendo o selecionado alemão conquistado o título de campeão pela quarta vez, com méritos no campo, planejamento e muita simpatia, e os/as nossos/as hermanos/as argentinos/as como vices, ficam, além do vexame da equipe brasileira que perdeu vergonhosamente de 7 a 1 da Alemanha cabendo-lhe o quarto lugar ao perder para a Holanda por 3 a 0, alguns questionamentos, mesmo se o resultado nos fosse favorável, tendo o Brasil como campeão, aliás, hexacampeão.
 
Há satisfação com os avanços da nossa Pátria no campo da justiça social, com a distribuição de renda e amplo acesso a educação, saúde, moradia e trabalho dignos ao povo? Há expectativa de um real desenvolvimento econômico no país, levando-o a um aperfeiçoamento democrático e social?
 
Qual é o verdadeiro legado que um/a governante deve deixar para o seu povo? Lembre-se de que, mesmo com o fim da Copa do Mundo, o ano de 2014 ainda não acabou. Este é um ano eleitoral e muito ainda pode ser feito em prol da nossa Nação. Exerça a sua cidadania. Faça a diferença. Vote consciente. Torça e ajude a transformar a nossa Pátria amada, Brasil!
 
Que Deus abençoe o povo brasileiro. 
 
Pr. André Luiz de Carvalho Nunes
Pastor da Igreja Metodista Central de Salvador/BA
 
 
 

Tags: expositor-cristao, copa


Posts relacionados

Expositor Cristão, Geral, por Sara de Paula

Lançamento: Documentário sobre Salmos com Eugene Peterson e Bono Vox

Saiba como assistir on-line o curta onde autor e cantor conversam sobre a poesia na Bíblia Sagrada

Expositor Cristão, Discipulado, por Marcelo Ramiro

Expositor Cristão: Discipulado que gera relacionamentos sólidos

Ao falarmos sobre discipulado cristão é recorrente que lembremos do estilo de vida de Jesus. Seu exemplo causou uma quebra de paradigma relacional de Sua época, pois Ele abraçou o/a excluído/a, ou seja, priorizou a pessoa humana independente de quem fosse sem discriminação ou acepção. O fato de Jesus abraçar o/a pecador/a, não aprovava o pecado, mas estabelecia um ambiente de amor e confiança propícia à transformação e restauração.