Fazei-o de todo o cora??o
A hist?ria do professor de rob?tica que, volunt?rio do Projeto Sombra e ?gua Fresca, est? mudando a vida de adolescentes de Belo Horizonte por meio de um projeto de inclus?o digital com lixo eletr?nico
Sucatas que transformam vidas. Assim o jornal "Hoje em Dia", de Minas Gerais, destacou o trabalho realizado pelo professor de rob?tica Liberato Ferreira da Silva, membro da Igreja Metodista Central de Belo Horizonte. Ele utiliza impressoras quebradas, celulares descartados, videocassetes antigos, palitos de picol? e tampas de garrafa para a constru??o de rob?s, rodas gigantes e carrinhos de controle remoto. Atividade de lazer? Muito mais do que isso. As aulas de rob?tica dadas voluntariamente no Projeto Sombra e ?gua Fresca do bairro S?o Gabriel, na periferia de Belo Horizonte, t?m incentivado as crian?as ao estudo, a conhecimentos espec?ficos de matem?tica, f?sica e geometria, ao trabalho em equipe e, sobretudo, proporcionado um olhar mais esperan?oso sobre a pr?pria vida. O sucesso do projeto acabou ganhando p?ginas na imprensa e um destaque especial no Portal do Professor, site do Minist?rio da Educa??o. Para o Expositor Crist?o, o professor Liberato conta como desenvolve este projeto e, especialmente, o que o motiva.
Como iniciou o projeto de rob?tica?
Montei um laborat?rio de rob?tica no col?gio metodista Izabela Hendrix, junto com L?cia Leiga. Achamos que esse trabalho poderia ser feito no bairro, vinculado ao Projeto Sombra e ?gua Fresca. H? dois anos o trabalho come?ou a ser estruturado e h? seis meses oferecemos as aulas de rob?tica para as crian?as de S?o Gabriel. A rob?tica atrai as crian?as para que elas tenham uma li??o muito maior.
O que as crian?as aprendem a partir da rob?tica?
Quando falamos em rob?tica, ? comum se pensar em rob?s human?ides. Na verdade, ? poss?vel fazer v?rios tipos de objetos: carros, helic?pteros, rodas-gigantes etc. A partir dos projetos exploramos conhecimentos como matem?tica, f?sica, geometria e at? leitura, al?m da capacidade de di?logo e trabalho em equipe. Um dos meus alunos, em apenas seis meses participando do projeto tornou-se monitor em matem?tica da escola dele. Percebo que v?rias crian?as t?m limita?es na coordena??o motora, pois o ambiente n?o proporciona o desenvolvimento dessa habilidade. Elas tamb?m ganham em concentra??o e educa??o e est?o melhorando suas notas na escola.
Onde o projeto est? instalado?
Na Igreja Metodista Bet?nia, bairro da periferia de Belo Horizonte, uma ?rea de risco. ? um trabalho que integra a rede de projetos Sombra e ?gua Fresca. Temos hoje 30 crian?as no projeto, em v?rias atividades, como artesanato, recrea??o, alimenta??o e educa??o crist?. A rob?tica ? dada para um grupo de oito crian?as em m?dia toda quarta ? tarde, das 14 ?s 17 horas, e aos s?bados.
Como voc? arruma tempo para se dedicar ao servi?o volunt?rio?
Tenho uma pequena empresa de desenvolvimento e projetos de rob?tica, mas gosto muito de dar aulas. Para me dedicar a este projeto no ano que passou, eu juntei um pequeno capital, abri m?o de v?rias atividades e me dediquei praticamente 100% ao trabalho no Sombra e ?gua Fresca .
E como manter a disciplina e aten??o das crian?as?
N?o ? f?cil. ?s vezes, sobretudo quando est? muito quente, ? dif?cil obter a concentra??o. Mas, se eu conseguir que elas se concentrem por 20 minutos, j? consigo muito. Elas s?o hiperativas. Entram e saem da aula o tempo todo, e voc? pode at? achar que n?o est?o aprendendo nada, mas elas aprendem. Voc? n?o pode contar com apenas um dia. Educa??o requer tempo. ? um processo silencioso, n?o se pode esperar resultados imediatos. Ainda assim, o projeto teve um sucesso surpreendente. Foi interessante perceber o trabalho em equipe. Ningu?m constr?i nada sozinho. Cada um fez uma parte. O objeto de um sempre era acabado por outro. A princ?pio eles n?o gostavam muito desse revezamento. Mas ent?o perceberam que o trabalho pertencia a todos. E, nesse processo, pude aplicar o conhecimento dos te?ricos. Por exemplo, Piaget estimula a constru??o do conhecimento; Vigotski, o trabalho em equipe. Aprendemos juntos.
Como o projeto ganhou essa repercuss?o na imprensa?
Fiz contato com a imprensa local. Um jornalista se interessou pela hist?ria, pediu para entrevistar as crian?as. E foi apenas quando elas deram as entrevistas que eu mesmo me dei conta de como elas haviam melhorado na escola, de como o projeto j? havia dado frutos. Depois desta mat?ria, para o caderno de inform?tica,tamb?m vieram reportagens para a TV, e a prefeitura de Belo Horizonte se interessou em desenvolver projeto semelhante em outras ?reas.E toda essa aten??o e valoriza??o do trabalho contribuiu para a auto-estima dos alunos.
Quais s?o os seus planos para 2010?
Espero consolidar o projeto. As crian?as ainda n?o viram computa??o, controle de automa??o, programa??o. N?s temos muito material que ainda n?o foi utilizado. Muita gente doa material. Trabalhamos com material simples, lixo eletr?nico.
E o que voc?, como professor, tem aprendido com este projeto?
Estou ganhando em preparo pedag?gico. Aprendendo a fazer a ponte para o espa?o escolar. O que eu mais gostei no projeto ? que a gente come?ou muito simples, num espa?o dif?cil, at? perigoso. Mas foi poss?vel perceber que d? para se trabalhar educa??o em espa?o n?o escolar de forma a contribuir com o espa?o escolar e com a vida das crian?as. Aquilo que voc? pega, aquilo que vem ? sua m?o, voc? deve fazer com toda a for?a. Por isso, jamais tratar este projeto como pequeno, mas como coisa de alto n?vel. Eu vejo cada aluno como ?nico. Mesmo que eu tivesse 300 alunos, olharia para cada um como ?nico, em suas potencialidades. ? um princ?pio b?blico: o que voc? tem que fazer, fa?a bem feito. "Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o cora??o,como para o Senhor e n?o para homens…" (Colossenses 3.23) ? este princ?pio que motiva nosso trabalho.

Construir sonhos e torn?-los reais para nossas crian?as e adolescentes e jovens, diz o professor Liberato (ao fundo)
