sergio marcus

"O hin?rio evang?lico precisa ser revisto"


As opini?es do pastor e compositor S?rgio Marcus Pinto Lopes


 


Havendo servido ? Igreja Metodista desde sua ordena??o ao diaconato na Igreja Metodista, em 1958, o pastor e professor S?rgio Marcus Pinto Lopes encontra-se agora aposentado. Vinculado ? 4? RE, ele j? ocupou v?rias posi?es na Igreja: pastor de igrejas locais, co-criador das revistas da Escola Dominical, redator do Expositor Crist?o, Reitor do Instituto Granbery e, mais recentemente, Vice-Reitor Acad?mico da UNIMEP. Paralelamente a estas atividades ligadas ao minist?rio pastoral e educacional, no entanto, desenvolveu uma atua??o na m?sica na Igreja que o tornou bastante conhecido. O Expositor Crist?o o entrevistou a respeito desta dimens?o de seu trabalho.


 


Como foi que voc? primeiro se envolveu com a m?sica na Igreja?


A primeira vez que tentei trabalhar com m?sica foi quando escrevi uma letra para um c?ntico que aprendi na ?ndia, em 1961, e fiquei fascinado pelo ritmo em que ele fora elaborado. Era totalmente diferente dos hinos tradicionais do Salmos e Hinos e do Hin?rio Evang?lico e me pareceu que seria capaz de promover uma nova forma de se cantar na Igreja, mais ritmada, mais pr?xima do estilo brasileiro e mais distante do formato norte-americano. Nesta ?poca escrevi tamb?m um hino para ser cantado em um Congresso Regional dos jovens, realizado em Manhua?u, "Avante, mocidade." Eram m?sicas para serem acompanhadas ao viol?o, num tempo em que entrar com este instrumento na igreja parecia, para muitos pastores e congrega?es, totalmente inaceit?vel! A juventude hoje n?o consegue nem imaginar que isto fosse poss?vel!


 


Voc? produziu muitos hinos e c?nticos?


Em termos de melodia alguns poucos. Os mais conhecidos foram "N?o d? p?ra dividir" e "Nossa esperan?a", que chegaram a ser publicados em hin?rios, muito cantados e gravados. O primeiro deles, um samba, se inseriu em um movimento que contou com o incentivo da antiga Junta Geral de Educa??o Crist?. A gente queria buscar ritmos brasileiros ou latino-americanos, numa tentativa de superar a marca??o quadrada e musicalmente complicada que os mission?rios nos haviam legado. Foi um movimento intenso, com a realiza??o de festivais em v?rias partes do pa?s, em que grupos de jovens, tocando instrumentos populares, procuravam uma renova??o musical na Igreja.


 


E em termos de letras?


Como n?o sou m?sico, minha maior contribui??o foi a?, no campo das letras. Entre estas cito can?es sobre o respeito aos direitos das crian?as e aos adolescentes, como "Tempo Maior de Esperan?a" e a "Ciranda para o Movimento dos Meninos e Meninas de Rua". Algumas poesias criei-as eu mesmo, especialmente para alguns hinos do Hin?rio Evang?lico. Exemplo disso foi uma letra para ser cantada com a m?sica do hino 422, "Erga-se o estandarte". Experimentei tamb?m traduzir c?nticos produzidos em outros pa?ses da Am?rica Latina, tal como "Quando se abate a esperan?a". Minha grande preocupa??o ao produzir ou adaptar letras produzidas fora daqui era a de torn?-las vinculadas a uma preocupa??o que envolvesse a a??o crist? na sociedade a favor da justi?a ou destacasse o car?ter plural, em termos de g?nero, dos membros da Igreja. No primeiro hino, por exemplo, a poesia convocava a Igreja a que n?o se mantivesse muda perante as injusti?as sociais. No segundo, que falava apenas na convoca??o do "irm?o" ? a??o crist?, introduzi um estribilho que convocava tamb?m a "irm?" no esfor?o pela paz.


 


Voc? acha que as letras de nossos hinos refletem nossa realidade social?


H? poucos hinos que falam da miss?o concreta da Igreja. Falam da salva??o da alma, mas esquecem o compromisso com o ser humano em sua concreticidade e com a mudan?a das estruturas econ?micas, pol?ticas, sociais. Poucos hinos refletem preocupa??o com o Reino de Deus, um conceito relevante para a a??o transformadora da Igreja. H? apenas dois hinos no Hin?rio Evang?lico (499 e 500) que tratam deste tema. A maioria dos hinos, por outro lado, ? individualista, pouco comunit?ria, e gira ao redor do que ? "meu" e n?o do que ? "nosso". Por estas e muitas outras raz?es as letras deste Hin?rio carecem de uma profunda revis?o e atualiza??o. Ao tempo em que servi como Secret?rio Executivo do Conselho Geral, o ?rg?o que antecedeu ? COGEAM, sugeri e o Conselho constituiu uma Comiss?o do Novo Hin?rio para promover uma revis?o do Hin?rio Evang?lico. A proposta era primeiramente a de se manter a melodia dos hinos tradicionais, mas revisar ou substituir as letras. Entre estas estariam as que usam palavras desconhecidas hoje em dia, como por exemplo, "fragoso alcantil", "erros aleivosos", "albores ridentes".


 


E por que esta revis?o n?o foi adiante?


 


Por tr?s raz?es principais. Primeiro, porque n?o havia um consenso da parte dos membros do Conselho Geral a respeito da import?ncia deste processo. Segundo, por causa da urg?ncia das muitas outras tarefas que estavam em sua agenda. Terceiro, porque, com a mudan?a dos membros do Conselho e a altera??o de sua Secretaria Executiva, o trabalho acabou sendo relegado a segundo plano e posteriormente ignorado.


 


Como voc? v? o panorama musical na Igreja hoje?


A aus?ncia de uma diretriz da parte das lideran?as nacionais em rela??o a esta quest?o e a penetra??o de influ?ncias vindas de outras igrejas pelo uso dos meios de comunica??o criaram uma grave situa??o. Os grupos de louvor, que acabaram se instituindo em quase todas as igrejas, tocam e cantam m?sicas que provocam atitudes desvinculadas da mentalidade e proposta metodista. Usam uma terminologia muito mais identificada com figuras e id?ias do Antigo que do Novo Testamento. N?o prop?em miss?o concreta, apenas uma esp?cie de evangeliza??o espiritualizada. D?o ?nfase ao apocalipsismo mais que ? miss?o. A melodia ?, em grande n?mero de casos, pobre, repetitiva. O estilo "gospel" nada tem a ver com a cultura brasileira ou da Am?rica Latina. Reflete novamente a influ?ncia estrangeira, veiculada por redes de emissoras de r?dio patrocinadas por empresas norte-americanas, cuja proposta ? exatamente vender a m?sica produzida nos Estados Unidos, como parte da ind?stria cultural. Como esta ? muito forte, acabou por impor-se tanto em meio ?s congrega?es como nos grupos de jovens.


 


Como mudar essa situa??o?


Temos que ir beber nas nossas fontes hist?ricas e desenvolver novos semin?rios de produ??o musical, em todas as regi?es, especialmente com a mocidade, mas liderada por quem entende de m?sica e teologia, para vincular adequadamente nossa riqu?ssima liturgia e nossa cultura brasileira e latino-americana. Neste sentido, a recente pesquisa e recupera??o dos hinos de Carlos Wesley, patrocinada pela Faculdade de Teologia, ? um exemplo singular do que se pode fazer e que precisa ser apoiado e desenvolvido.

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