Espírito Santo na herança wesleyana.

Quais s?o os sinais da a??o do Esp?rito? Como a Igreja Metodista se posiciona acerca do dom de l?nguas?








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 Em 1906, um pequeno grupo de crist?os reunido na rua Azuza, em Los Angeles (EUA), sob a lideran?a do pastor William Seymour, deu origem a um movimento religioso que alcan?aria o mundo inteiro. O pentecostalismo n?o se restringiu ?s igrejas oriundas do avivamento da rua Azuza: caracter?sticas deste movimento se fazem presentes em Igrejas Protestantes hist?ricas e tamb?m na Cat?lica Romana via movimento carism?tico, que, ? semelhan?a do pentecostalismo cl?ssico, apregoa uma experi?ncia do crist?o com o Esp?rito Santo por meio de um pentecostes pessoal, seguido pela manifesta??o de dons.


Fica patente no Livro O Esp?rito Santo na Heran?a Wesleyana, de Mack Stokes, que o Metodismo tamb?m enfatiza uma experi?ncia com o Esp?rito Santo. Para Wesley, a a??o da Terceira Pessoa da Trindade ? fator principal no processo de salva??o. ? Ela quem atua na vida do indiv?duo, por meio da gra?a preveniente, operando o novo nascimento, convencendo da justifica??o e trabalhando na santifica??o.








 Batismo no Esp?rito


? doutrina principal do pentecostalismo o batismo no Esp?rito Santo como uma segunda b?n??o evidenciada pela manifesta??o da glossolalia, fen?meno comumente conhecido como o falar em "l?nguas estranhas".  




? a partir de tal experi?ncia que o individuo, em muitas comunidades pentecostais ou avivadas, passa a ser visto como um crist?o completo, podendo assim ter uma atua??o maior no seio da comunidade de f?, galgar v?rias posi?es e at? alcan?ar o minist?rio pastoral.Contudo, o crente que n?o passou por esta experi?ncia ? julgado n?o apto a exercer determinados minist?rios, devendo antes buscar o batismo com o Esp?rito Santo – que se torna evidente pelo falar em l?nguas estranhas.


Penso que tal doutrina pode produzir dois efeitos na vida dos membros das igrejas que assim ensinam. Primeiro: em algumas pessoas que exercem o dom da glossolalia pode se manifestar um orgulho espiritual que as leva a tratar os demais crentes como "crist?os de segunda categoria", por n?o terem tido tal experi?ncia. Tais pessoas usariam do dom n?o como meio de edifica??o, tendo em vista servir a Deus, mas sim como um meio de autopromo??o, de mostrar que s?o pessoas renovadas, que est?o em um n?vel de espiritualidade superior ?s demais. Segundo: os indiv?duos que n?o evidenciam o batismo do Esp?rito por meio da glossolalia podem se sentir inferiores aos que o manifestam.


Este crit?rio da glossolalia como fator inconteste do batismo no Esp?rito Santo pode fazer com que indiv?duos sob press?o, no af? de serem aceitos pelo grupo, passem a exprimir sons que nada t?m a ver com as l?nguas estranhas relatadas em Atos 2 e nas cartas Paulinas, mais precisamente nos cap?tulos 12 a 14 de 1 Cor?ntios. Outras pessoas que, n?o tendo coragem para falsear o dom que os qualificaria como selados pelo Esp?rito e n?o o tendo recebido mesmo ap?s intermin?veis buscas, podem, a meu ver, abrigar interiormente, sentimentos de rejei??o em rela??o ? de Deus.


Tenho atualmente na minha comunidade de f? um rapaz que nasceu e cresceu numa comunidade pentecostal. H? dois anos, ele conheceu uma mo?a de nossa igreja e come?aram a namorar. Tornamo-nos amigos; ele passou a freq?entar minha casa e, algumas vezes, a Igreja Metodista, quando n?o tinha programa??o em sua igreja, onde era ministro de louvor.


Certo dia eu estava em meu escrit?rio, quando esse rapaz chegou. Convidei-o a entrar e sentar-se. Notei que ele estava meio abatido e ofereci-lhe um caf?. Ap?s alguns momentos em sil?ncio, com as m?os tr?mulas ele colocou a x?cara no pires e, com olhos cheios de l?grimas e a voz embargada, disse: – Pastor, eu posso fazer uma pergunta? – Respondi-lhe: sim, claro, do que de se trata? Ele respondeu: – Essa hist?ria de que s? quem fala em l?nguas ? que tem o Esp?rito Santo ? verdade? Eu nasci na igreja, cresci na igreja, eu toco e canto na minha igreja, mas as pessoas l? dizem que eu devo buscar o batismo com o Esp?rito Santo, porque n?o falo nem nunca falei em l?nguas. Eu j? venho h? tempos orando, jejuando, mas n?o recebi o dom. Vejo outras pessoas do minist?rio falando em l?nguas, eu j? pedi tanto, passei noites em vig?lias e nada… Eu me sinto rejeitado por Deus, pois no minist?rio de louvor apenas eu n?o falo em l?nguas. Se eu n?o falo em l?nguas, ? por que n?o tenho o Esp?rito Santo, e se eu n?o tenho o Esp?rito Santo, n?o sou filho de Deus… Logo, se n?o sou filho de Deus n?o serei salvo. Pois n?o estou selado para o dia da promessa!


Percebi o quanto o meu amigo estava angustiado. Apesar de ser um crist?o realmente comprometido com sua comunidade, membro ativo no minist?rio de louvor, ele era tido como um crist?o incompleto. O anseio de manifestar a glossolalia e, assim, ser aceito sem reservas pelo grupo mexia tanto no brio de Daniel, que a aus?ncia do dom o levou ver-se como um rejeitado por Deus.


Os frutos do Esp?rito


Inicialmente falei-lhe da gra?a preveniente, e que na concep??o metodista o Esp?rito Santo atua na vida do indiv?duo mesmo antes dele se tornar crist?o. Expliquei-lhe que, ? luz das Escrituras, ningu?m pode se tornar e viver verdadeiramente como crist?o, sem a atua??o e testemunho do Esp?rito. Iniciamos a partir desse di?logo um estudo b?blico, ap?s o qual ele entendeu que o falar em l?nguas n?o ? o ?nico dom do Esp?rito, e que a evid?ncia n?o est? na glossolalia, mas, sim, nos frutos listados por Paulo no cap?tulo cinco de G?latas: "Mas o Esp?rito de Deus produz o amor, a alegria, a paz, a paci?ncia, a delicadeza, a bondade, a fidelidade, a humildade e o dom?nio pr?prio". Saber disso trouxe a este jovem paz e a certeza de que n?o s? era aceito, mas tamb?m habitado por Deus, atrav?s do Esp?rito Santo.Segundo Mack B. Stokes, Jo?o Wesley acreditava que: "em algumas circunst?ncias o Esp?rito poderia agir levando as pessoas a falar em l?nguas desconhecidas, curar doen?as ou operar milagres, mas nunca enfatizava estes elementos como essenciais a nossa salva??o" (pg 52).


Wesley sempre defendeu a experi?ncia com o Esp?rito para dinamizar a vida crist?, tirando-a de uma mera religiosidade. Contudo, ele n?o reduzia o viver pleno no Esp?rito Santo a manifesta?es deste ou daquele dom, ou a experi?ncias particulares. Embora tenha ele mesmo experimentado o cora??o "estranhamente aquecido", na memor?vel noite de 24 de maio de 1738, na Rua Aldersgate – sensa??o acompanhada pela certeza do perd?o de seus pecados – Wesley n?o parou na experi?ncia em si; antes, soube transform?-la em vida com Deus em favor do pr?ximo.


Assim como Wesley, creio que o testemunho do Esp?rito ? fundamental; por?m, penso que o verdadeiro testemunho interior tem que se manifestar no exterior, trazendo transforma?es individuais e coletivas. Ou seja, minhas obras realizadas em e por amor demonstram que estou cheio e sou movido pelo Esp?rito Santo. Compreendo os dons como ferramentas dadas por Deus a fim de serem usadas no servi?o, na constru??o de seu Reino. Creio na contemporaneidade dos dons, e n?o sou contra a busca dos mesmos, mas o que questiono s?o as raz?es pelas quais muitos atualmente os buscam. Vejo que aquilo que as Escrituras apontam como ferramentas a serem buscadas tendo em vista poder servir, muitos as t?m buscado a fim de se servirem do poder, a fim de edificar n?o a comunidade, mas a seus egos. Em contraste a isso, Paulo, referindo-se aos dons como instrumento de edifica??o da Igreja, ensinou ? comunidade de Corinto: "Assim tamb?m v?s, visto que desejais dons espirituais, procurai progredir, para a edifica??o da igreja" (1 Cor?ntios 12:12).


Paulo entende que a plenitude do Esp?rito Santo se faz notar por meio da manifesta??o daquilo que define como "caminho sobremodo excelente", caminho que o texto b?blico de 1 Jo?o 4.8 d? a conhecer como sendo a ess?ncia de Deus: o amor. Com este atributo ou ess?ncia de Deus – que o Esp?rito Santo manifesta de forma inconteste na vida do crist?o, caracterizando-o como sua habita??o e instrumento – Paulo tamb?m encabe?a a lista dos frutos do Esp?rito em G?latas 5.22. Assim sendo, ? natural que algu?m que se diz cheio do Esp?rito Santo deva estar cheio de amor. Mas qual a raz?o de o Esp?rito Santo encher uma pessoa de amor, a ponto de a manifesta??o desse sentimento ser o maior indicativo de conhecimento de Deus, e plenitude do Esp?rito Santo? A isso responde Mack B. Stokes: "Todas as pessoas, portanto, que s?o cheias do Esp?rito agem, necessariamente, no sentido de praticar todo o bem poss?vel em favor dos outros" (p?gina 3).


Portanto, a prova inconteste de que algu?m est? cheio do Esp?rito Santo ? o amor, porque o amor procede de Deus. Toda pessoa que ama ? nascida de Deus e conhece a Deus. Afinal, ningu?m pode conhecer a Deus, e muito menos am?-lo sobre todas as coisas e ao pr?ximo como a si mesmo, e ainda amar o inimigo, orar pelos que lhe perseguem e aben?oar os que lhe amaldi?oam se n?o for por obra e gra?a do Esp?rito Santo. ? poss?vel falsificar a glossolalia, mas ? imposs?vel falsificar o amor, pois o amor possui atributos que demonstram caracter?sticas que s? se encontram em Deus: O amor ? paciente, ? benigno; o amor n?o arde em ci?mes, n?o se ufana, n?o se ensoberbece, n?o se conduz inconvenientemente, n?o procura os seus interesses, n?o se exaspera, n?o se ressente do mal; n?o se alegra com a injusti?a, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre tudo cr?, tudo espera, tudo suporta.(1 Cor?ntios 13.4-13)


Pr. Jos? do Carmo da Silva, "Jos? do Egito".


Igreja Metodista em F?tima do Sul – MS.


Veja tamb?m: Como a Igreja Metodista se posiciona acerca do dom de l?nguas.

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