Maely Ferreira Vilela ? pastor presbiteriano e Reitor do Semin?rio Presbiteriano de Teresina -Piau?.
II. IGREJA DEFORMADA
De 590 a 1517 – Aqui, as palavras ditas por Jo?o, em Apocalipse 2:4, referindo-se ? Igreja de ?feso, se aplicam muito bem a esse segundo momento da Hist?ria da Igreja: "Tenho por?m, contra ti, que abandonaste o teu primeiro amor". Essas palavras conceituam, classificam muito bem este novo momento. A Igreja come?ou gradativamente, a se distanciar de sua refer?ncia, daquela b?ssola orientadora, a se degenerar pouco a pouco.
Esse per?odo vai desde 590 at? 1517. ? um per?odo muito grande ? n?vel da Hist?ria Universal. Compreende naturalmente, toda a medievalidade. Como essa fase ? muito longa, basicamente 1000 anos, costuma-se dividi-la em duas grandes fases chamadas de Alta Idade M?dia e Baixa Idade M?dia, apenas para efeito did?tico.
A. Alta Idade M?dia – A Alta Idade M?dia, ? aquele per?odo em que predominou o sistema pol?tico denominado de Feudalismo. Quem dominava tudo era o Senhor Feudal. Existiam duas classes: o Senhor Feudal e o Servo da Gleba.
N?o existia moeda corrente ainda e a Igreja era um desses senhores feudais. Ela tinha grandes propriedades. Os bispos, os abades, com as suas propriedades em torno dos mosteiros, eram verdadeiros senhores feudais.
A Igreja tinha uma autoridade muito grande ao longo daquele per?odo. Al?m do mais, as pessoas que n?o eram religiosas, que n?o eram bispos, nem abades, mas detinham riquezas e propriedades, tamb?m eram senhores feudais.
Esta foi a ?poca do chamado sacro-imp?rio romano-germ?nico, que come?ou precisamente a partir de Carlos Magno, por volta do ano 800, e que vai predominar durante toda a Alta Idade M?dia.
A vida naquela ?poca, era relativamente pacata. Com rela??o ? Igreja, muita gente se convertia ? for?a. Assim o Cristianismo foi-se espalhando atrav?s do mundo b?rbaro. Quando aquele que tinha voz de mando se convertia, todos aqueles que estavam sob seu comando, eram obrigados a se converter. Era uma esp?cie de convers?o compuls?ria. E, o atestado de convers?o, era o recebimento da ?gua batismal. Foi batizado: era crist?o.
Ao longo desse per?odo, muita gente entrou na Igreja e n?o havia classe de catec?menos. Sabe-se que Cl?vis, rei dos francos, que viveu um pouco depois da queda de Roma em 496, se converteu e todos os seus soldados, todos os seus s?ditos foram compulsoriamente batizados. Aconteceu a partir da?, que aquela gente que veio do paganismo, trouxe sua heran?a pag? para dento da Igreja. N?o deixaram nada de fora. Come?ou a acontecer uma esp?cie de sincretismo religioso, e a Igreja come?ou a sofrer muito a partir da?. Essa situa??o vai ao longo de toda a Alta Idade M?dia.
B. Baixa Idade M?dia – Ao longo da Baixa Idade M?dia, o homem europeu come?ou a mudar do seu status de vida com o surgimento de uma nova classe social: aqueles servos da Gleba, que eram pouco mais que escravos e deviam obedi?ncia completa ao senhor feudal, gradativamente, por volta do S?c. XII, come?aram a sair dos feudos, a deixar o campo, e vir para a cidade, em torno dos pal?cios, dando origem ?s cidades medievais. Come?aram a descobrir o com?rcio, o poder existente na venda, na troca e vai surgir uma nova classe social denominada de Burguesia, ao longo da baixa Idade M?dia.
? nessa nova fase que uma s?rie de problemas, maiores at? que aqueles outros, come?am a entrar na vida da Igreja. Uma situa??o deplor?vel, porque falsos dogmas come?aram a ser elaborados a partir desse momento. O clero n?o estava preparado, era um clero inculto. Gente que n?o estudava, que entrava na Igreja e tornava-se Bispo comprando o seu cargo com dinheiro. Assim, surgiram muitas deturpa?es. As principais delas foram:
Mariolatria – O Culto a Maria come?ou a surgir, gradativamente. N?o foi de uma hora para outra. Atingiu o seu ?pice, n?o muito longe de n?s, com o dogma da Imaculada Concei??o de Maria, quase no t?rmino do s?culo passado. ? uma hist?ria muito longa a do culto ? Maria, com deturpa?es as mais diversas. Agora, Maria come?a a ser cultuada e considerada como co-redentora ao lado de Cristo. Que privil?gio ela come?a a ter! No livro de Atos n?s lemos que n?o h? outro nome dado abaixo do C?u pelo qual importa que sejamos salvos. ? o nome de Jesus. E, est? escrito l? tamb?m , pelo ap?stolo Paulo que, ao nome de Jesus se dobrar? todo o joelho. Tamb?m come?a o culto a outros "santos". Tudo isto trouxe muitos problemas para a Igreja Crist?.
Celibato Obrigat?rio – Uma outra deturpa??o foi a do celibato clerical obrigat?rio. ? muito dif?cil dizer quando isto realmente come?ou. ? uma hist?ria muito longa, e, a partir de um determinado momento, a Igreja oficializou. Por volta do IV Conc?lio de Latr?o, a Igreja aprovou, no Papado de Inoc?ncio III, o dogma do Celibato Clerical Obrigat?rio. ? dito agora, com toda a seriedade, que aqueles que exercem cargos eclesi?sticos N?O PODEM casar. O celibato n?o ? mais uma quest?o de op??o ou de circunst?ncia da vida, mas uma obrigatoriedade. Isto trar? uma s?rie de dificuldades, de problemas para a vida da Igreja.
Transubstancia??o – A Igreja come?ou a dizer a partir de um certo momento (e isto tudo para aumentar o poder dos sacerdotes) que, quando o sacerdote dizia as palavras da institui??o da Santa Ceia, os elementos da Ceia, transformavam-se no corpo de Cristo, t?o vivo e real como estava no C?u. Mas, para que isto acontecesse, era necess?rio o papel de quem? Quem era que tinha de dizer as “palavrinhas m?gicas” para que os elementos se transubstanciassem em corpo de Cristo? O sacerdote. Est?o percebendo como o sacerdote come?a a ter um papel important?ssimo?
Purgat?rio – A Igreja est? afirmando que as almas daqueles que morrem, v?o para um lugar chamado Limbus. As crian?as n?o batizadas ir?o para o Limbus Infantus.
Quem ? que batiza? O sacerdote. Pra n?o ir pro purgat?rio tem que depender de quem, mais uma vez? Do sacerdote.
Ent?o, toda a vida do homem medieval dependia do Sacerdote, do nascimento, ? morte, pois ao nascer tinha que ser batizado pelo Sacerdote; ao casar tinha que receber a b?n??o do Sacerdote, ao morrer tinha que receber a extrema un??o do Sacerdote e depois da morte precisava do Sacerdote para sair do Purgat?rio. Notem a import?ncia que o Sacerdote passa a ter! Ele se torna um pouco menor que Deus, e bem maior que todos os homens.
Para que as almas pudessem sair do purgat?rio, muita coisa teria que ser feita. Indulg?ncias teriam que ser pagas. Qualquer um poderia pagar inclusive a indulg?ncia pelo pai j? falecido, pelo amigo, pelo filho e at? por si mesmo, pois algu?m poderia esquecer dele e ele tinha que se garantir. Quem vendia as indulg?ncias? O Sacerdote. Quem dizia as “palavrinhas m?gicas” para que as almas pulassem do purgat?rio para o C?u? O Sacerdote.
Santa Inquisi??o – Como se n?o bastasse, ainda chamaram de "Santa" Inquisi??o. Os instrumentos de tortura utilizados pela Igreja durante a Inquisi??o, ? coisa que desafia a criatividade de muitos aqui. D? asas ? imagina??o em quest?o de tortura. A sua criatividade ainda ? muito pequena pra ser capaz de imaginar, com exatid?o, os instrumentos de tortura utilizados pela Igreja na chamada Santa Inquisi??o. Coisas aberrantes mesmo.
E, outra mais: qualquer pessoa podia denunciar outro de suposta heresia e, uma vez feita a den?ncia, n?o se fazia nenhum levantamento direitinho. Qualquer advogado sabe que num processo natural, existe todo aquele julgamento garantindo pleno direito de defesa. Isso n?o acontecia durante a Inquisi??o. Quase sempre as pessoas eram condenadas, executadas, de formas as mais diversas, seus bens eram confiscados e, muitas vezes, a fam?lia era enviada ao desterro. Coisas absurdas. A fogueira inquisitorial era uma das formas de execu??o e talvez n?o fosse a pior delas.
Quem puder leia de Dostoievski, o grande escritor russo, autor de, entre outras obras, “Os Irm?os Karamazov”. H? um cap?tulo denominado de "Grande Inquisidor", onde ele descreve o Senhor Jesus Cristo entrando na cidade de Sevilha, na Espanha, sendo detido pelos representantes da "santa" Igreja e levado preso. Chegam os grandes representantes da Igreja l? onde Ele est? preso e dizem: "N?s n?o precisamos do Senhor. O Senhor veio para nos atrapalhar. Aprendemos a ser Igreja sem a Sua presen?a". Que coisa absurda! A Igreja foi, de fato, DEFORMADA. ? nessa fase que vai haver muita crise em toda a Igreja.
Muitos disseram assim: "a Igreja est? p?ssima, est? totalmente degenerada, mas, eu estou na Igreja e vou permanecer dentro dela". Esses que reconheceram que a Igreja estava p?ssima mas resolveram permanecer dentro dela s?o denominados de: os m?sticos medievais. S?o chamados m?sticos porque eles buscaram uma vida piedosa, uma vida de comunh?o com Deus, desejaram algo de melhor. E, quase sempre, os m?sticos estavam naquela classe denominada de feudal. Eram pessoas mais esclarecidas, mais instru?das, e, naturalmente tinham mais acesso e ficaram dentro da Igreja. Eles exerceram muita influ?ncia sobre os reformadores. Por exemplo, Jo?o Tauler ? um desses m?sticos medievais. E h? quem diga que Tauler foi protestante antes do protestantismo. Com toda certeza, Lutero descobriu a doutrina da justifica??o pela f? lendo as escrituras, mas tamb?m examinando os escritos de Tauler, uma vez que ele sistematizou esta doutrina de uma forma bem elaborada (porque antes de Lutero, Tauler j? havia percebido na B?blia a doutrina da justifica??o pela f?).
Outros sa?ram da Igreja. S?o os chamados Pr?-Reformadores. Quase sempre os Pr?-Reformadores sa?ram n?o s? do feudalismo, mas daquela classe denominada de burguesia. Foi um movimento mais popular, pelo menos na sua fase inicial. Mais tarde um movimento mais erudito, com Wycliff, com Huss, com Savanarola. Wycliff, era professor da Universidade de Oxford, na Inglaterra e era sacerdote. J? Huss, era professor da Universidade de Praga, na Bo?mia; Savanarola era sacerdote na It?lia, em Floren?a, naquela fase de conflito entre as cidades-estados da It?lia e Fran?a, porque a Fran?a tinha interesse naquela regi?o toda sob o dom?nio dos M?dicis, especialmente. Savonarola foi o ?ltimo dos Pr?-reformadores, denominado de: "O Jo?o Batista da Reforma". Ele foi condenado ? morte, pela inquisi??o, em 1498. Essa fase toda, ? denominada de Igreja DEFORMADA.
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