Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Artigo Bispo Luiz Vergílio: Homens e mulheres negras

"... a verdade vos libertará". (Jo.8:32) 

 

Cena de capoeira extraída do site: www.quilombodospalmares.org.br.

 

Acredito que nós, homens e mulheres afro-descendentes metodistas, sofremos de certo "banzo histórico reprimido", associado às condições e circunstâncias que determinaram a vinda de nossos antepassados ao Brasil. Há, no recôndito de nosso consciência coletiva, a memória de que nossos avós e bisavós ao serem escravizados, sofreram um longo processo de desconstituição da sua condição humana, subjugando-os, marcando-os e contendo-os a ferros e açoites.

Esta dor na alma, que se prolongou por cerca de 400 anos (o mesmo tempo atribuído ao cativeiro do povo hebreu no Egito), perpetuou a condição marginal e de miserabilidade de seus descendentes, praticamente em todos os lugares da diáspora africana, ainda que posterior à extinção deste período.

Esta realidade, ainda hoje, é perfeitamente perceptível quando expressa em termos de indicadores sociais que, ao revelarem a qualidade de vida da população, não conseguem esconder a cor e a etnia predominante na face dos brasileiros e das brasileiras mais empobrecidos. Paralelo similar, somente com a população indígena.

Mais do que a triste herança de sermos os primeiros sem-terra e sem-teto, com o advento da abolição, é a dor de sabermos que o silêncio e a negação desta realidade têm sido instrumento ideológico de perpetuação de nosso lugar social, e, em alguns casos, da negação de nossa negritude. Por isso, sob discurso da igualdade constitucional, as iniciativas compensatórias - que minimamente oferecem possibilidades de resgate das condições históricas determinantes da situação de empobrecimento e exclusão social da imensa maioria da população negra - sempre encontram resistência da comunidade branca; aliada a uma minoria negra sem consciência deste processo histórico de cooptação e negação.

Também, ao longo do processo de escravização, concorreu para a sua legitimação política, ideológica e religiosa a diabolização e reificação, a priori, das manifestações culturais e das formas de expressão religiosa africanas. Assim, os africanos feitos escravos foram tratados como oriundos de um continente no qual Deus os tivesse abandonado e esquecido; seres inferiores e destituídos da Graça que estava presente tão somente nas culturas e na religião dos povos escravocratas, notadamente europeus. Este olhar obliterado, em relação à identidade humana do africano, estabeleceu os princípios que fundamentam as concepções de racismo e preconceito étnico à escravidão e às expressões culturais oriundas desta matriz.

Lembremo-nos da Graça Preveniente, que certamente agiu na vida do oficial etíope da Rainha de Candace, a quem Felipe, movido pelo Espírito Santo, apresentou-lhe a Jesus.

Mesmo, no episódio de Paulo em Atenas, quando diante de tantas divindades adoradas no areópago, o apóstolo pode perceber a manifestação da Graça na figura cultural do "Deus desconhecido". Logo, nenhuma manifestação religiosa cultural pode ser, a priori, considerada santa ou pecadora, divina ou diabólica. Todas as manifestações devem ser confrontadas com a mensagem do Reino, proposto por Cristo, pois a obra de Deus é evidenciada nos frutos do Espírito.

Há um Palmares profético, dentro de nós, que anseia por uma terra onde a paz e a justiça social, expressa na eqüidade, possam andar de mãos dadas. Onde um sorriso negro e um abraço negro sejam raiz de liberdade e de comunhão.

Assim, neste espaço ministerial do Corpo Vivo de Cristo, chamado Igreja Metodista, somos desafiados e desafiadas a persistir em nossa luta contra todas as formas de discriminação, sem deixar de anunciar a toda e qualquer pessoas que, conhecer a verdade revelada em Cristo, é encontrar a fonte da verdadeira libertação.

Bispo Luiz Vergílio

Veja também:

A história do Dia Nacional da Consciência Negra e a posição de Wesley sobre a escravidão. Você conhece?

 Jornada pela Liberdade: A história do Abolicionista Willian Wilberforce e o pastor John Newton, autor do Hino Amazing Grace.

Reflexão: Rosa Parks, Martin Luther King e Barack Obama.

LITURGIA PARA CELEBRAÇÃO do Dia da Consciência Negra.

E ainda:

Uma mensagem a todos os membros de AFROKUT

Afrokut busca envolvimento das igrejas evangélicas

Quarta-feira, 19 de novembro de 2008 (ALC) - Internautas militantes de movimentos sociais estarão conectados amanhã, das 16h às 18h, para conversar, compartilhar idéias e interagir no Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, na sala virtual Afrokut de conferência do MSN.

Organizações e igrejas integram-se na V Semana Nacional Evangélica de Consciência Negra (Senecon), que iniciou no dia 16 e se estenderá até o dia 30 de novembro, com palestras, debates, painéis, seminários, caminhadas, celebrações e shows. Um dos objetivos do Senecon é de ampliar o envolvimento das igrejas evangélicas brasileiras na questão racial e negritude.

Para esta edição do Senecon, organizaram atividades as igrejas o Brasil para Cristo, do Evangelho Quadrangular, Batista, Assembléia de Deus, Presbiteriana do Brasil, Metodista, Pão da Vida. A Semana foi organizada pela Rede Afrokut.

Também amanhã, a Praça Ivete Vargas, em São Paulo, hospedará o 90 Impacto Gospel da Zona Sul, com a participação de 13 bandas, cantores e cantoras. São esperadas 20 mil pessoas no evento, que começa às 13h e vai até às 20h30.

No sábado, 22, a 1ª. Região da Igreja Metodista tratará os temas Racismo e Violência, Racismo e Educação - verdades e mitos, e Conscientizar para Discipular, no templo de Inhoaiba.

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Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC) Edição em português: Rua Ernesto Silva, 83/301, 93042-740 - São Leopoldo - RS - Brasil Tel. (+55) 51 3592 0416

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