Mensagem Episcopal de Robinson Cavalcanti no Dia da Reforma Protestante (31/10), divulgada na Internet pela Diocese Anglicana do Recife, alerta para a crise do protestantismo brasileiro: "Batalhas espirituais, prosperidade, pulinhos, gritos hist?ricos, mantras superficiais, ativismo, tribalismo, culto ? personalidade, estrelismo, showcultos e outras "terapias alternativas" n?o nos levar?o muito longe, e o futuro n?o se afigura dos mais animadores". Leia a seguir a ?ntegra do serm?o. "Vivemos na atualidade – segundo os analistas – um "choque de civiliza?es". Estas, como conjunto de culturas com uma base comum, em termos de cosmovis?o, incluem a escolaridade e a fam?lia, a m?dia e as artes, mas o seu substrato principal ? a religi?o. Pode-se, assim, se falar em uma civiliza??o isl?mica, uma civiliza??o bram?nica ou uma civiliza??o budista. Todas vivenciando um per?odo de fortalecimento e avan?o, interno e externo. Em seu conjunto, a cristandade seria sin?nimo de uma civiliza??o crist?, com suas diversas vertentes: no Oriente, Bizantina, Pr?-Calced?nia e Nestoriana; no Ocidente, Cat?lico-Romana e Protestante (com suas subdivis?es: Luterana, Anglicana, Reformada, Anabatista). A cristandade oriental foi debilitada por longos s?culos de opress?o sob outras civiliza?es, ou sob Estados materialistas; a cristandade ocidental foi debilitada pelo secularismo, que atingiu mais fortemente o protestantismo. A proposta de Constitui??o da Uni?o Europ?ia excluiu qualquer refer?ncia ? contribui??o hist?rica e cultural do Cristianismo; a f?, desvalorizada ou enredada no misticismo, foi jogada para a irrelev?ncia do "foro ?ntimo", e os s?mbolos crist?os come?am a ser proibidos. "Enquanto a Igreja de Roma e as Igrejas Orientais conseguem ainda manter mais est?vel suas cren?as e governo, o Protestantismo, fragmentado, foi atingido no cora??o pelo Iluminismo, pela Cr?tica B?blica e pelo Liberalismo, quando a sua ?nica autoridade eram as Sagradas Escrituras. A resposta emocional e subjetivista do pentecostalismo e a resposta r?gida e anti-intelectual do fundamentalismo se evidenciaram como inadequadas. Sofregamente, vai-se vendo surgir e ir embora sucessivas "ondas" de novidades doutrin?rias ou metodol?gicas. Se, no Primeiro Mundo, protestantes se tornam ortodoxos orientais ou cat?licos romanos por serem, em suas regi?es, os ?nicos espa?os ortodoxos, malgrado seus dogmas n?o-b?blicos, pesquisas na Am?rica Central d?o conta do aumento progressivo do n?mero de netos e bisnetos de protestantes que est?o regressando para a Igreja Romana, cansados de moralismo e de legalismo, famintos por hist?ria e est?tica. Esse quadro pode se alastrar, em um futuro n?o muito distante, por toda a Am?rica Latina. "As massas do Ocidente vivem um quadro esquizofr?nico entre a privatiza??o da religi?o e a ado??o, de fato, para tudo o mais, de uma cosmovis?o secularista, individualista, consumista. O ?bvio nem sempre ? aceito: as Escrituras, a gra?a e a f?. A necessidade de uma integridade, pela ado??o mental de uma s? cosmovis?o, n?o ? compreendida. O estilo "despojado", "informal" de religiosidade, que despreza a contempla??o, a solenidade e a arte sacra, se torna em um aliado do secularismo, por fazer desaparecer a visibilidade dos s?mbolos da nossa civiliza??o crist?. "No meio dessa crise da civiliza??o ocidental, e, particularmente, do protestantismo, ? que o Anglicanismo, como ramo hist?rico, cat?lico e reformado, teria um papel aglutinador e revitalizador. Mas o mesmo sofre, igualmente, como as demais denomina?es, da influ?ncia do secularismo, do liberalismo, do fundamentalismo, do "despojamento iconoclasta". Sofre, igualmente, de uma crise de identidade, com d?vidas e rejei?es ao seu legado, suas caracter?sticas e seus princ?pios. "H? uma unanimidade entre os analistas ao apontarem para a principal fragilidade do protestantismo que foi sua eclesiologia, pouco trabalhada e fragmentada. As eclesiologias congregacionalista e presbiterial foram filhas do pensamento democr?tico burgu?s moderno, e j? demonstraram a sua fragilidade diante da p?s-modernidade, muito mais do que o Episcopado mon?rquico romano e ortodoxo oriental. O Anglicanismo, com seu Episcopado e, uma vez hist?rico e participativo, seria a melhor resposta, se fosse crido, vivido e ensinado por seus membros, para a viv?ncia interna e como colabora??o externa para fazer frente ? crise da cristandade. Sem nenhuma d?vida esse ? um dos piores momentos na hist?ria do Protestantismo. Batalhas espirituais, prosperidade, pulinhos, gritos hist?ricos, mantras superficiais, ativismo, tribalismo, culto ? personalidade, estrelismo, showcultos e outras "terapias alternativas" n?o nos levar?o muito longe, e o futuro n?o se afigura dos mais animadores. A busca das fontes da primeira reforma, a embasar, motivar, animar e construir a atualidade ? – estou convencido – o que ainda nos resta. A Hist?ria deve ser aprendida, a mente iluminada, discernida, e a coragem de ser e resistir constru?da. Apesar dos obst?culos externos e internos, o Anglicanismo ortodoxo pede passagem. Um aben?oado Dia da Reforma para todos! (Recife, PE, 31 de outubro de 2006 – Dom Robinson Cavalcanti, Bispo Diocesano).
Fonte: Ag?ncia Soma |